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Paquistão começa cerco a dissidentes com 500 prisões
Eleição legislativa pode ser adiada em um ano sob estado de emergência imposto por ditador
Benazir acusa Musharraf de "segundo golpe"; oposição chama protestos para hoje, e jornais atacam medidas que valem indefinidamente
DA REDAÇÃO
Um dia após decretar um estado de emergência que a ex-premiê Benazir Bhutto classificou de "golpe sobre o golpe", o
ditador do Paquistão, Pervez
Musharraf, apertou o cerco à
dissidência ordenando a prisão
de ativistas e líderes de oposição. O regime ainda afirmou
que as eleições parlamentares
previstas para janeiro podem
ser adiadas "em até um ano".
Segundo o premiê Shaukat
Aziz, entre 400 e 500 pessoas
foram presas, inclusive Javed
Hashmi, presidente do PLM-N
(Partido da Liga Muçulmana),
do ex-premiê exilado e rival de
Musharraf Nawaz Sharif.
Redes de TV privadas -incluindo canais estrangeiros-
permaneciam fora do ar.
Em Lahore, no nordeste do
país, cerca de 200 policiais munidos de gás lacrimogêneo interromperam uma reunião de
opositores na Comissão de Direitos Humanos do Paquistão,
detendo dezenas de pessoas.
Além disso, na aparente tentativa de inibir protestos de rua
programados para hoje, pelo
menos 80 advogados foram
presos. As entradas da Suprema Corte, do Parlamento e partidos políticos foram bloqueada por policias militares.
O procurador-geral, Malik
Mohammed Qayyum, negou se
tratar de lei marcial, alegando
que o premiê (submetido a
Musharraf) segue no posto.
A atual legislatura acaba em
janeiro, quando eram previstas
eleições. Mas o premiê Aziz disse a jornalistas que a votação
pode ser retardada em até um
ano pelo estado de emergência.
Regime em pânico
Nos últimos meses, o ditador
que tomou o poder em 1999 -e
que é o principal aliado dos
EUA na região (leia texto abaixo)- vem tentando manter o
combalido equilíbrio político
de seu regime, acuado por pressões da oposição por maior
abertura política e de facções
muçulmanas contrárias à sua
aliança com Washington e favoráveis à adoção da lei islâmica. Soma-se a isso a cobrança
americana por mais eficácia no
combate ao terrorismo.
Uma eleição indireta em 6 de
outubro lhe deu novo mandato,
mas sua permanência no cargo
dependia de uma decisão da
Suprema Corte a ser anunciada
nesta semana -a Constituição
do país proíbe que ele siga presidente sendo também o chefe
das Forças Armadas. Com o estado de emergência, os juízes
do tribunal foram destituídos.
Anteontem, em um discurso
na TV estatal no qual usou trajes civis e citou o presidente
americano Abraham Lincoln
(1809-65), Musharraf defendeu sua decisão como crucial
para aplacar "a atividade terrorista" e a "interferência do Judiciário". Ele diz que o "ativismo judicial" (que busca limites
ao regime) desmoraliza as forças de segurança, emperra o
combate ao terrorismo e atrasa
a disseminação democrática.
O ditador não informou
quanto tempo vai durar o estado de emergência, sob o qual ficam suspensas garantias constitucionais e pessoas podem ser
presas sem acusação formal.
A ex-premiê Benazir Bhutto,
que voltou de Dubai para sua
casa em Karachi (sul) na noite
de anteontem, acusou Musharraf de usar a guerra ao terror
como desculpa para sua permanência no poder.
"Isso não é uma emergência.
É lei marcial", disse a líder de
uma do PPP (Partido do Povo
Paquistanês). De volta do exílio
no último dia 18, Benazir vinha
tentando costurar um acordo
com o ditador para que ele
abandonasse a farda. Falhou.
Protestos
Apesar do cerco cerrado, alguns manifestantes saíram às
ruas aos gritos de "vergonha".
Na periferia de Lahore, cerca
de 20 mil pessoas participaram
de um comício do líder islamista Qazi Hussein Ahmed, que
convocou protestos para hoje.
A telefonia aparentemente
foi restituída na capital. E embora as TVs seguissem fora do
ar, os jornais circularam com
textos críticos, sobretudo à
proibição de reportagens que
"difamem e ridicularizem o
chefe de Estado e os militares".
Com "The New York Times" e agências internacionais
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