São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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Medidas colocam ajuda americana em xeque

DA REDAÇÃO

Por mais de cinco meses os EUA vêm tentando orquestrar uma transição política que pudesse manter o general Musharraf no poder sem expôr ao ridículo a bandeira do presidente Bush da promoção da democracia no mundo islâmico. Anteontem, esse plano ruiu com estrondo. E a Casa Branca emperrou no modo "esperar para ver", com opções limitadas e incerteza sobre o futuro.
Ao decretar estado de emergência e derrubar a Constituição, Musharraf deixou o governo Bush perto de seu pesadelo: um general endossado pelos EUA que arrisca a instabilidade civil em um país com armas nucleares e uma população cada vez mais alienada.
O tango delicado entre Bush e o Paquistão começou logo após o 11 de Setembro, quando Musharraf prometeu cooperar contra a Al Qaeda, cujos maiores líderes estariam escondidos na montanhosa fronteira de seu país com o Afeganistão.
Desde então, os EUA deram ao regime mais de US$ 10 bilhões em ajuda. Agora, se o estado de emergência perdurar, o governo enfrentará a difícil decisão de cortar a ajuda e correr o risco de minar os esforços paquistaneses contra terroristas.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em viagem pela região, afirmou ontem que o fluxo financeiro será revisto. "Está claro que não apoiaremos a continuação do estado de emergência, pois isso afastaria o Paquistão das regras democráticas", disse, um dia após o Pentágono declarar que o estado de emergência não afetava o apoio americano.
Mas ela ressalvou: "Parte da ajuda está diretamente relacionada à missão contra os terroristas. Nós temos que revisar a situação, entretanto eu ficaria muito surpresa se alguém quisesse que o presidente Bush ignorasse a responsabilidade sobre a segurança nacional que resulta dessa cooperação".
A oposição democrata chiou. Joseph Bidden, que preside a Comissão de Relações Exteriores do Senado, disse que, se estivesse no lugar de Bush ou Rice, ele "telefonaria para Musharraf e deixaria claro que haverá um preço caso ele não retifique o que acaba de fazer". "Este governo tem uma política para Musharraf, não para o Paquistão. Suas mãos estão atadas", afirmou. Rice reagiu: para ela, "as fichas de Washington não estão todas" no ditador.
Especialistas dizem que os EUA vão monitorar de perto a ação de Islamabad contra a dissidência, bem como a reação dos militares. De qualquer forma, crêem, ainda que o regime retome a rota democrática, a notícia é ruim para os EUA.
Walter Russell Mead, do Council on Foreign Relations, acredita que o Paquistão possa mergulhar no caos -o que levaria ao aumento da violência pelos fundamentalistas islâmicos. "Pode haver caos nas ruas ou uma situação que tornaria um suicídio para Benazir Bhutto participar do processo político", observa. "Ambos os cenários colocam os EUA numa posição muito difícil."


Com "The New York Times" e agência internacionais


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