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Medidas colocam ajuda americana em xeque
DA REDAÇÃO
Por mais de cinco meses os
EUA vêm tentando orquestrar
uma transição política que pudesse manter o general Musharraf no poder sem expôr ao
ridículo a bandeira do presidente Bush da promoção da democracia no mundo islâmico.
Anteontem, esse plano ruiu
com estrondo. E a Casa Branca
emperrou no modo "esperar
para ver", com opções limitadas e incerteza sobre o futuro.
Ao decretar estado de emergência e derrubar a Constituição, Musharraf deixou o governo Bush perto de seu pesadelo:
um general endossado pelos
EUA que arrisca a instabilidade
civil em um país com armas nucleares e uma população cada
vez mais alienada.
O tango delicado entre Bush
e o Paquistão começou logo
após o 11 de Setembro, quando
Musharraf prometeu cooperar
contra a Al Qaeda, cujos maiores líderes estariam escondidos
na montanhosa fronteira de
seu país com o Afeganistão.
Desde então, os EUA deram
ao regime mais de US$ 10 bilhões em ajuda. Agora, se o estado de emergência perdurar, o
governo enfrentará a difícil decisão de cortar a ajuda e correr
o risco de minar os esforços paquistaneses contra terroristas.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em
viagem pela região, afirmou ontem que o fluxo financeiro será
revisto. "Está claro que não
apoiaremos a continuação do
estado de emergência, pois isso
afastaria o Paquistão das regras
democráticas", disse, um dia
após o Pentágono declarar que
o estado de emergência não
afetava o apoio americano.
Mas ela ressalvou: "Parte da
ajuda está diretamente relacionada à missão contra os terroristas. Nós temos que revisar a
situação, entretanto eu ficaria
muito surpresa se alguém quisesse que o presidente Bush ignorasse a responsabilidade sobre a segurança nacional que
resulta dessa cooperação".
A oposição democrata chiou.
Joseph Bidden, que preside a
Comissão de Relações Exteriores do Senado, disse que, se estivesse no lugar de Bush ou Rice, ele "telefonaria para Musharraf e deixaria claro que haverá um preço caso ele não retifique o que acaba de fazer". "Este governo tem uma política para Musharraf, não para o Paquistão. Suas mãos estão atadas", afirmou. Rice reagiu: para
ela, "as fichas de Washington
não estão todas" no ditador.
Especialistas dizem que os
EUA vão monitorar de perto a
ação de Islamabad contra a dissidência, bem como a reação
dos militares. De qualquer forma, crêem, ainda que o regime
retome a rota democrática, a
notícia é ruim para os EUA.
Walter Russell Mead, do
Council on Foreign Relations,
acredita que o Paquistão possa
mergulhar no caos -o que levaria ao aumento da violência pelos fundamentalistas islâmicos.
"Pode haver caos nas ruas ou
uma situação que tornaria um
suicídio para Benazir Bhutto
participar do processo político", observa. "Ambos os cenários colocam os EUA numa posição muito difícil."
Com "The New York Times"
e agência internacionais
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