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Encontro com a escassez
Geração que chega ao poder enfrentará um problema para o qual não está preparada
DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"
O DIA 4 de novembro de
2008 representa o fim
de uma era. Economicamente, marca o final do
longo boom iniciado em 1983.
Politicamente, provavelmente marca o final do domínio
conservador iniciado em
1980. Geracionalmente, marca o final da supremacia da
geração baby boom, iniciada
em 1968. Nos últimos 16 anos,
membros da geração baby
boom (os norte-americanos
nascidos entre 1946 e 1960)
ocuparam a Casa Branca.
Quando os historiadores
analisarem a era que está se
encerrando agora, verão um
período de realizações privadas e de decepção pública.
Nas duas últimas décadas, os
EUA se tornaram um lugar
muito mais interessante. Empresas como Starbucks, Apple, Crate & Barrel, Microsoft
e muitas outras iluminaram
as vidas cotidianas. Cidadãos
privados, sobretudo os jovens, repararam os danos no
tecido social, se dedicaram ao
serviço comunitário e promoveram uma redução no número de viciados em drogas e
de gestações na adolescência.
Mas, ao mesmo tempo, a
esfera pública não floresceu.
A despeito de décadas de
prosperidade, questões já antigas como a saúde, a educação, a política energética e os
benefícios sociais não foram
conduzidas devidamente. A
geração baby boom, que iniciou sua vida adulta prometendo ativismo permanente,
provou ser uma geração sem
distinção política alguma.
Produziu dois presidentes,
nenhum dos quais confirmou
o potencial que parecia apresentar. E seus integrantes se
mantiveram aferrados à guerra cultural que consome a geração deles. Estão transmitindo o manto da supremacia
política depois de desperdiçar
uma série de oportunidades.
A frustração parece vir
crescendo mês a mês. Os
americanos estão ansiosos
sobre suas vidas privadas, e
seus líderes lhes são absolutamente repulsivos. Por isso,
mudança é necessária.
Os republicanos escolheram como candidato um velho guerreiro cujo histórico
envolve tomar decisões difíceis e absorver as conseqüências adversas que elas podem
causar. Muitos de nós o consideram como um dos heróis de
nossa era. Mas a demanda do
público por mudança é total.
Barack Obama é uma criança dos anos 60. Para as pessoas da geração de Obama, os
grandes tumultos do país já
haviam passado quando eles
chegaram à idade adulta. A
geração deles tem por ordem
a consolidação e um novo tradicionalismo -uma geração
adepta de filtro solar e de capacetes para andar de bicicleta, e cuja principal preocupação é criar bem os filhos.
Obama é membro não só
dessa geração ponderada como de seu segmento mais
educado. Seu grupo social,
formado por pessoas prósperas nascidas depois do baby
boom, o vem apoiando com
fervor inabalável. A classe privilegiada e de nível elevado de
educação nas universidades,
na mídia, na medicina e nos
centros financeiros bancou
sua campanha de US$ 600
milhões (que dependeu ainda
mais que a de George W. Bush
em 2004 de doações em montante elevado). Esse grupo em
breve se tornará a classe governante. E a ironia é que terão de enfrentar o problema
para o qual estão menos preparados: o da escassez.
Criados em ambientes
prósperos, favorecidos pela
genética, esses jovens líderes
da meritocracia terão de governar em um período em
que a procura pela riqueza do
país supera a oferta. Terão de
arcar com o fardo cada vez
mais pesado de uma sociedade envelhecida, custos de saúde em alta e preços elevados
para a energia. Terão de cobrir o US$ 1 trilhão ou mais
que o governo gastará para
evitar uma recessão profunda. Enfrentarão dificuldades
para manter suas promessas
de cortar impostos, criar uma
revolução na energia, aprovar
um dispendioso programa
para a saúde, e tudo mais.
Nos próximos anos, a riqueza do país estará estagnada ou em queda. A contração
fiscal se tornará mais severa.
Haverá disputas mais ferrenhas por recursos escassos,
divisões mais gritantes entre
facções. O desafio do próximo
presidente será atenuar a dor
da recessão atual e ao mesmo
tempo construir uma sólida
fundação fiscal para que o
país possa voltar a prosperar
em algum momento futuro.
Em outras palavras, provavelmente estamos ingressando em um período no qual os
jovens e inteligentes liberais
terão de encarar uma escassez inamovível, para a qual
não têm planos.
Na era da transição, caberá
aos filhos arcar com o fardo
deixado por seus pais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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