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Honduras tenta criar hoje governo provisório
Comissão de Verificação negocia renúncia de Micheletti e administração por ministro enquanto Congresso não votar volta de Zelaya
Líder deposto admite não participar já do governo de unidade, desde que arranjo esteja condicionado à sua futura restituição ao cargo
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O presidente interino de
Honduras, Roberto Micheletti,
está disposto a renunciar ao
Poder Executivo para o estabelecimento de um governo de
"unidade e reconciliação" ainda hoje, como prevê o cronograma do acordo assinado com
o presidente deposto, Manuel
Zelaya, na semana passada.
"O senhor Micheletti deixou
claro que estaria disposto a deixar o poder", disse, em entrevista coletiva, a secretária de
Trabalho dos EUA, Hilda Solis,
integrante internacional da
Comissão de Verificação para
implementar acordo, junto
com o ex-presidente chileno
Ricardo Lagos.
Lagos e Solis se reuniram ontem com Micheletti, com a mesa diretora do Congresso e com
o Tribunal Supremo Eleitoral
para negociar um acordo que
viabilize, ainda hoje, a conformação de um governo de unidade provisório, até que o Congresso decida se Zelaya será ou
não restituído à Presidência.
A nova proposta foi formulada anteontem à noite, durante
reunião de Zelaya com Solis e
Lagos na embaixada brasileira,
onde o presidente deposto está
abrigado há 45 dias.
Em rápida entrevista à Folha
ontem, o representante de Zelaya na Comissão de Verificação, Jorge Arturo Reina, disse
que a "ideia fundamental" é a
criação de um primeiro governo de unidade sem a presença
de Zelaya ou Micheletti.
Zelaya admitiu não participar inicialmente do governo de
unidade, desde que a instalação
desse governo esteja condicionada à sua futura restituição.
Ontem, a Comissão de Verificação discutiu com a direção
do Congresso uma modificação
do artigo 20 da lei de Administração Pública, para que o Executivo seja comandado por um
ministro de Governo, e não por
um presidente. Até o fechamento desta edição, os deputados, que estão em recesso, não
haviam sido convocados para
nenhuma sessão.
Com 10 dos 13 membros fiéis
a Micheletti, a direção do Congresso aprovou anteontem o
envio de consultas à Suprema
Corte de Justiça, ao Ministério
Público e à Procuradoria-Geral
da República sobre a restituição de Zelaya, sem prazo para
entrega dos pareceres. Só após
recebê-los o Congresso se reunirá para decidir o tema.
A ação foi duramente criticada por Zelaya, que acusou Micheletti de adiar ao máximo
uma decisão sobre a sua volta à
Presidência. A exigência inicial
do presidente deposto era que
a sua volta fosse aprovada até
ontem, para instalar um governo de unidade hoje.
Apesar de a instalação ainda
ser incerta, Lagos e Solis já deram sua "primeira visita" como
encerrada. Para seus lugares, a
OEA (Organização dos Estados
Americanos), responsável pela
Comissão de Verificação, designou o diplomata argentino
José Octavio Bordón e o ex-ministro socialista chileno Enrique Correa.
A crise hondurenha corre
contra o relógio, já que faltam
apenas 24 dias para as eleições
presidenciais, legislativas e regionais. Dois dos seis candidatos à Presidência afirmam que
desistirão do pleito caso Zelaya
não seja restituído.
Caso Zelaya volte ao cargo,
seu mandato terminará em 27
de janeiro, data original para o
fim de seu governo, ratificada
no acordo da semana passada.
A crise hondurenha estourou
em 28 de junho, quando Zelaya
foi detido por militares e expulso do país. Sua deposição foi
apoiada pelas principais instituições do país, inclusive o
Congresso, mas foi condenada
por organismos internacionais
como a ONU e a OEA.
No dia 21 de setembro, Zelaya voltou clandestinamente ao
país e se refugiou na embaixada
brasileira. A sua presença em
Honduras desatou uma nova
onda de manifestações e precipitou a retomada das negociações com o governo Micheletti.
Na semana passada, uma
missão dos EUA intermediou
acordo entre as duas partes,
que condiciona a volta de Zelaya à aprovação do Congresso.
Zelaya aposta nos votos do Partido Nacional, do candidato favorito à Presidência, Porfirio
Lobo, e de parte do seu partido,
o Liberal (também de Micheletti), para ser restituído.
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