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Brasil insiste em que só reconhece eleição com Zelaya no poder
Posição é contrária à dos EUA, para quem restituição
é só "possibilidade" e pacto já basta para validar pleito
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
Apesar do acordo assinado
na sexta-feira, o Brasil mantém
a posição de que não reconhecerá as eleições nacionais do
dia 29 em Honduras caso Manuel Zelaya não seja restituído
antes à Presidência do país.
"O governo brasileiro não reconhecerá o resultado das urnas caso o presidente Zelaya
não tenha sido previamente reconduzido para as funções às
quais ele foi eleito", disse ontem à Folha o embaixador do
Brasil na OEA (Organização
dos Estados Americanos), Ruy
Casaes, repetindo a posição expressada pouco antes, durante
reunião do Conselho Permanente do organismo.
Além de Brasil, Venezuela,
Equador, Bolívia e Nicarágua
reiteraram ontem na OEA que
não reconhecerão as eleições
sem Zelaya na Presidência.
Casaes, em consonância com
o discurso do próprio Zelaya,
acusou o governo interino de
usar "táticas dilatórias" e "de
agir, como sempre agiu, de má-fé", em alusão ao atraso da votação sobre a restituição do líder deposto no Congresso, cuja
direção é controlada por aliados de Roberto Micheletti.
Casaes diz que, no entendimento brasileiro, o acordo da
semana passada é um tipo de
saída honrosa para o governo
Micheletti, formado em 28 de
junho, após Zelaya ter sido deposto e expulso de Honduras.
O embaixador afirma que a
posição brasileira em Honduras continuará alinhada às resoluções da ONU e da OEA, que
reconhecem Zelaya como o
presidente legítimo.
Por outro lado, Casaes fez a
ressalva de que a posição brasileira seria reavaliada caso haja
um acordo entre as partes que
exclua a volta de Zelaya.
A posição brasileira diverge
da do governo americano, que
considera o acordo assinado na
semana passada suficiente para reconhecer as eleições. Na
segunda, Washington voltou a
reabrir seu serviço consular no
país, revertendo uma das sanções contra o governo interino.
Em entrevista à CNN, o chefe da diplomacia americana para a América Latina, Thomas
Shannon, disse que, pelo acordo, a restituição de Zelaya é só
uma "possibilidade" e anunciou que os EUA apoiarão a
realização das eleições.
As declarações de Shannon
fizeram com que Zelaya enviasse uma carta na madrugada
de ontem à secretária de Estado, Hillary Clinton, questionando se "a posição de seu país
foi modificada com respeito à
condenação ao golpe".
A fala de Shannon foi recebida como um duro golpe por Zelaya, que tem apostado o seu
regresso na pressão americana
sobre o governo interino.
Pelo acordo de sexta, Micheletti e Zelaya se comprometem
a apoiar as eleições do dia 29,
que escolherão presidente, Legislativo e autoridades regionais. O texto também condiciona a volta do presidente deposto à aprovação pelo Congresso.
Zelaya, porém, tem dito que
não reconhecerá a eleição "se
for realizada sob um regime de
ditadura militar", conforme escreveu na carta a Hillary.
(FM)
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