São Paulo, quinta-feira, 05 de novembro de 2009

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Justiça da Itália condena 23 americanos por ação da CIA

Ex-agentes são sentenciados a até oito anos por sequestro de egípcio no país, em 2003

Condenação é a 1ª referente a "capturas extraordinárias" realizadas no governo Bush; Departamento de Estado diz ter ficado "desapontado"


DA REDAÇÃO

A Justiça da Itália condenou ontem 22 ex-agentes da CIA (agência de inteligência dos EUA) e mais um americano a penas de até oito anos de detenção pelo sequestro do clérigo muçulmano Abu Omar em Milão, em 2003, em um polêmico caso das "capturas extraordinárias" promovidas pelos EUA.
A condenação é a primeira envolvendo os "voos da CIA", programa americano de captura de suspeitos de terrorismo no exterior e envio clandestino a terceiros países para interrogatórios e tortura, colocado em prática após o 11 de Setembro.
Entre os considerados culpados pelo juiz Oscar Magi, de Milão, está o ex-chefe da seção da CIA na cidade do norte italiano, Robert Seldon Lady, condenado a oito anos de prisão. Todos os outros 22 sentenciados pegaram cinco anos de detenção, além do pagamento de indenizações de 1 milhão a Omar e 500 mil a sua mulher.
Três outros ex-agentes da CIA foram absolvidos por possuírem imunidade diplomática.
Dois agentes italianos foram condenados a três anos por cumplicidade. Mas o ex-chefe do Sismi (o serviço secreto italiano), Nicolo Pollari, seu vice e três outros italianos foram absolvidos, uma vez que suas acusações se baseavam em provas consideradas segredo de Estado pela Corte Constitucional da Itália -e desconsideradas.
A decisão de Magi, no entanto, dificilmente terá efeito prático, já que os réus não estiveram presentes no julgamento iniciado em meados de 2007 -e interrompido diversas vezes por controvérsias jurídicas. Eles foram representados por advogados e passam a ser foragidos da Justiça da Itália.
Mas o caso pode, por outro lado, abrir um precedente no julgamento de agentes envolvidos em operações clandestinas da "guerra ao terror" do governo George W. Bush (2001-09).
O porta-voz da agência americana disse apenas que "a CIA não comenta alegações envolvendo Abu Omar", e o Departamento de Estado dos EUA afirmou estar "desapontado" com as condenações. O governo do premiê Silvio Berlusconi, leal aliado de Bush, não comentou.
Já ativistas de direitos humanos consideraram a decisão um avanço no combate às violações cometidas na guerra ao terror.
O egípcio Osama Moustafa Hassan Nasr, ou Abu Omar, foi sequestrado em 17 de fevereiro de 2003 quando saía de sua casa em Milão. O clérigo foi então levado à base americana de Aviano, na Itália, transportado para a Alemanha e depois para os arredores do Cairo, onde ele afirma ter sido torturado.
Abu Omar vinha sendo vigiado pela Itália por supostamente pregar a violência em seus sermões e recrutar insurgentes para enviar ao Iraque antes da invasão americana, em 2003.
O egípcio esteve desaparecido por um ano até ter seu paradeiro revelado. Mantido preso por quatro anos sem acusações formais, foi solto no começo de 2007. O clérigo muçulmano vive hoje em Alexandria (Egito).

Com "New York Times" e agências internacionais



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