São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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ÁSIA

Prisão de estudante deflagra manifestação, reprimida por policiais; casa do premiê é incendiada, e governo impõe toque de recolher

Protesto em Timor termina com 5 mortos

Firdia Lisnawati/Associated Press
O presidente de Timor, Xanana Gusmão (de barba), é protegido pela polícia ao tentar acalmar estudantes durante confronto em Dili


DA REDAÇÃO

Cinco pessoas morreram e a casa do primeiro-ministro foi incendiada ontem durante protestos de estudantes em Timor Leste, segundo testemunhas citadas pela agência de notícias Reuters.
Autoridades locais e a ONU afirmam que somente podiam confirmar uma morte, apesar de terem informações de que outras pessoas morreram. Parte de Dili, capital de Timor, ficou em ruínas após os manifestantes incendiarem carros e um supermercado e saquearem escritórios.
Os protestos, considerados os mais duros desde que o país se tornou oficialmente independente, em maio deste ano, começaram após um estudante ter sido preso pela polícia, anteontem. Ele é acusado de formação de quadrilha.
Grupos de jovens foram destruindo tudo o que viam no caminho em direção a um prédio de escritórios, onde arrastaram para a rua móveis e computadores, queimando-os diante de todos.
No início da noite, moradores afirmaram que as ruas estavam praticamente vazias, após decretação de toque de recolher. Somente membros das forças de paz da ONU, que faziam a proteção de embaixadas e de estabelecimentos comerciais para evitar saques, circulavam pelas ruas.
O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, cuja casa foi incendiada, pediu calma aos manifestantes. "Os acontecimentos de hoje são uma página triste nesses primeiros dias de independência", afirmou, em comunicado.
O premiê teme que os choques possam afetar o estabelecimento da democracia no país, que esteve ocupado pela Indonésia até 1999, ano em que um levante sangrento levou à emancipação da ex-colônia portuguesa.
Cerca de 500 estudantes participaram do protesto. Os choques começaram depois que um dos estudantes foi morto pela polícia. "Os policiais tentaram tirar o corpo do meio dos estudantes, e eles se recusaram, dando início à confusão, com os estudantes ateando fogo a um supermercado", disse um fotógrafo da Reuters.
Os protestos irromperam diante do quartel-general da polícia, onde dezenas de policiais estavam de serviço. Testemunhas afirmam que os policiais começaram a disparar contra os manifestantes. Os estudantes seguiram para o prédio do Parlamento, a cerca de dois quarteirões de distância, onde houve novos disparos.
Membros do gabinete disseram que havia sido decretado estado de emergência no país. Mais tarde o premiê negou a informação em pronunciamento no rádio.
"Minha impressão é que o que aconteceu aqui hoje tenha a ver com a insatisfação em relação ao governo", disse o morador Wayne Lovell.
A ONU foi a responsável pelo governo de transição entre 1999 e maio deste ano, após 24 anos de ocupação da Indonésia. Cerca de 2.000 pessoas morreram nos dias que se sucederam ao desmembramento da Indonésia.


Com agências internacionais


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