São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002

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TECNOLOGIA

Segundo pesquisadores de Harvard, governo proíbe acesso a cerca de 19 mil sites que considera ameaçadores

China é o país que mais censura a internet, diz estudo

JOSEPH KAHN
DO "THE NEW YORK TIMES", EM XANGAI

A China é o país que impõe a maior censura à internet, regularmente negando a seus usuários acesso a cerca de 19 mil sites que o governo vê como ameaçadores, constatou um estudo feito por pesquisadores da Escola de Direito de Harvard (EUA).
O estudo, que testou o acesso à rede desde múltiplos locais na China ao longo de seis meses, constatou que Pequim bloqueia milhares dos sites políticos, religiosos e de notícias mais acessados do mundo, além de alguns de teor educativo e de entretenimento. De acordo com os pesquisadores, os censores às vezes punem pessoas que procuram informações proibidas, dificultando temporariamente seu acesso a qualquer site da rede.
Os chineses não podem acessar os sites da Anistia Internacional e da Human Rights Watch, grupos que defendem os direitos humanos. A China também não permite que seus cidadãos se conectem com grandes sites religiosos ocidentais. Os de órgãos de imprensa são frequentemente bloqueados.
Entre os sites que os usuários tiveram problemas em acessar durante o período de testes figuram os do National Public Radio, dos jornais "The Los Angeles Times" e "The Washington Post" e da revista "Time", todos dos EUA.
Desafiando as previsões segundo as quais a internet é por sua própria natureza diversificada e maleável demais para poder ser submetida a controle estatal, a China vem negando à imensa maioria de seus 46 milhões de internautas o acesso a informações que ela teme que possam enfraquecer seu poder autoritário. Ao mesmo tempo, Pequim permite que seus cidadãos usem a rede para fins comerciais, culturais, educacionais ou de entretenimento, que o governo vê como essenciais numa era globalizada.
Apenas os internautas mais determinados conseguem desviar-se dos filtros. Para isso, correm riscos pessoais consideráveis, segundo o estudo. "Se o objetivo da filtragem é influenciar o que o internauta chinês mediano vê, o êxito pode estar perto", disse Jonathan Zittrain, professor da escola de direito e co-autor do estudo.

Controle mais fácil
O estudo traz novas provas de que a internet pode ser mais fácil de controlar do que telefones, máquinas de fax ou o correio convencional. A China não pode monitorar cada telefonema, fax ou carta. Mas a internet possui barreiras comuns. Todo o tráfego da rede passa por roteadores que são a espinha dorsal das telecomunicações. A China bloqueia o acesso a muitos sites. Além disso, começou a fazer a filtragem seletiva de conteúdo e a deletar links individuais ou sites específicos cujo conteúdo é visto como ofensivo.
Os pesquisadores testaram regularmente o acesso a 200 mil endereços muito procurados na rede e descobriram que, em algum momento ou outro do período de seis meses coberto pelo estudo, a China bloqueou o acesso a cerca de 50 mil sites. Entre estes, foram identificados 19 mil que não puderam ser acessados de diferentes pontos na China em diferentes dias. O estudo pode ser encontrado no endereço http://cyber.law.harvard.edu/filtering/china.
Comparada com a Arábia Saudita, tema de uma análise anterior feita pelos mesmos pesquisadores, a China exerce um controle muito mais amplo, se bem que, às vezes, mais superficial. Pequim bloqueou por completo o acesso aos sites mais importantes sobre o Tibete e Taiwan. Um internauta que digitasse ""China democracia" no programa de buscas Google veria que quase todos os sites mais importantes com essas palavras estavam inacessíveis. O próprio Google foi bloqueado em setembro, mas já teve seu acesso restaurado.
Pequim afirma que a principal justificativa da censura é a proliferação da pornografia, mas seus esforços para bloquear sites pornográficos são menos constantes. O estudo constatou que a China bloqueia menos de 15% dos sites mais procurados de teor sexual explícito. A Arábia Saudita impediu o acesso a 86% deles.


Tradução de Clara Allain


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