São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há que temer consulta sobre Carta, diz Morales

Para boliviano, votação na Venezuela mostra que nova Constituição e reeleição só serão aprovadas se a população do país quiser

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Em meio à crise política que paralisa a tramitação da nova Carta boliviana, o presidente Evo Morales elogiou ontem o caráter democrático do referendo venezuelano, que rejeitou a reforma constitucional de seu aliado Hugo Chávez.
Morales fez referência à consulta popular a que deve ser submetida a nova Constituição do país, quando aprovada. "Se [Chávez] fosse autoritário, teria imposto o que pensa ao governar, mas ele pôs seus desejos à consideração do povo venezuelano [...] Não há que temer um referendo. Que o povo decida o destino do país."
O presidente boliviano também mencionou um referendo específico para alguns artigos da nova Carta. "O que há de melhor do que apostar em um referendo, por exemplo, sobre alguns artigos acerca dos quais não se pode conseguir dois terços [dos votos da Constituinte]? Que o povo decida." E completou: "Vai ver Evo Morales está errado e o povo pode lhe corrigir com seu voto".
Em entrevista publicada na segunda, o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, disse à Folha que a proposta do governo é submeter a proposta de reeleição presidencial, ilimitada ou por um período fixo, a um referendo em separado.
A possibilidade de eleições consecutivas para presidente e vice está no texto geral da nova Constituição da Bolívia, aprovado em uma questionada sessão da qual a oposição não participou, no último dia 24.
Agora, os constituintes do governista MAS (Movimento ao Socialismo) e aliados menores tentam levar adiante a aprovação da Carta, artigo por artigo. O prazo final é dia 14, mas a oposição se nega a participar a menos que o governo desconsidere a aprovação do texto geral.
De acordo com o regulamento da Constituinte boliviana, artigos da nova Carta que não consigam maioria de dois terços devem ser submetidos a referendos específicos.
A avaliação do governo, porém, é que, mesmo que a reeleição consiga dois terços dos votos, o ideal é submetê-la a consulta popular. "Para diminuir o nível de conflito, a idéia é fazer um referendo sobre a reeleição", disse o constituinte Humberto Silvestre (MAS).
"O governo quer levar a reeleição a referendo porque lhe interessa, mas não outros temas nos quais também achamos que há conflito", diz Rubén Dario Cuellar, do oposicionista Podemos.
Não há acordo sobre reeleição nem dentro do MAS. Há setores que defendem a reeleição ilimitada e outros por apenas um período. Os oposicionistas rejeitam as duas propostas.
Nos EUA, governadores oposicionistas de departamentos (Estados) bolivianos reclamaram à OEA (Organização dos Estados Americanos) da aprovação da nova Carta, que consideram ilegal. "Estamos fazendo um esforço para evitar o derramamento de sangue", disse o governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa.
O governo havia convocado para ontem uma reunião com os oposicionistas, que fracassou. "Estamos interessados no diálogo, não em uma cortina de fumaça para a comunidade internacional", disse Reyes.


Texto Anterior: Bush prega livre comércio contra Chávez
Próximo Texto: Equador: Para líder da assembléia, derrota chavista é pedido de atenção
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.