São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007 |
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Mãe de Betancourt "suplica" ajuda de Lula
Yolanda Betancourt diz suspeitar que o governo colombiano segurou as provas de vida de Ingrid para boicotar Chávez
Yolanda Pulecio Betancourt
usa um verbo forte para se dirigir ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva: "Eu suplico a ajuda de Lula e do governo brasileiro para libertar minha filha". PROVAS DE VIDA No dia 30 de novembro, os familiares recebemos cartas e fotos de 16 dos seqüestrados -as de Ingrid estavam entre elas. Cúmulo do absurdo, recebi só uma xerox da carta de minha filha. Eles [as autoridades colombianas] ficaram com os originais e ainda distribuíram o texto à imprensa. Eram 12 páginas manuscritas endereçadas a mim e eles, num completo desrespeito, divulgaram-nas. Eu nunca duvidei de que minha filha estivesse viva. Uma mãe sabe o que está acontecendo com suas crianças, mesmo que estejam longe. E eu não queria as provas porque Uribe, para fazer seu show e justificar a guerra estúpida contra a guerrilha, poderia pôr em risco a vida dos nossos entes queridos. É que, para fazer com que essas provas cheguem ao seu destino, os militantes das Farc têm de se expor muito. E o governo poderia usar o emissário para obter informações que subsidiassem eventual tentativa de resgate militar. A história colombiana recente tem inúmeros cadáveres de seqüestrados que perderam suas vidas porque ficaram no meio do fogo. SUSPEITA A carta de Ingrid foi escrita entre 23 e 24 de outubro deste ano. Devia ter chegado antes da reunião de Chávez com Sarkozy, marcada para o dia 20 de novembro. Mas só foi entregue a mim depois do encontro dos chefes de Estado e depois que Uribe já havia dispensado o auxílio de Chávez na negociação. Começamos a sentir interesses estranhos. Cada vez que avançamos, o presidente Uribe faz qualquer coisa para nos deter. Faz um ano que é assim. Agora, estávamos com esperança de, pela primeira vez em seis anos, passarmos o Natal todos juntos. O dia 25 de dezembro é também o aniversário da Ingrid. Ela tinha 40 anos... É muito cruel. Já vão seis anos. Eu suspeito de que agentes do governo interceptaram as provas de vida antes da reunião e que as retiveram até depois que ela ocorresse, para demonstrar que nada estava avançando e, assim, justificar a dispensa da ajuda do governo venezuelano. Estou certa de que Uribe não tem nenhuma consideração humana. Ele coloca seus interesses políticos acima da vida das pessoas. É um homem sem alma. CONVERSA COM URIBE Há dois anos e meio Uribe se recusa a falar comigo. Da última vez que nos encontramos, discutimos. Ele não gosta de mim e eu menos ainda dele. Ele é falso. Chávez, ao contrário, fala olhando nos olhos. Assim que anunciou o resultado do referendo, adverso para ele, disse-me: "Estou falando com o coração, se o povo assim quis, assim será". RESSENTIMENTO Antes do seqüestro de Ingrid, eu achava que nunca conseguiria odiar alguém. Hoje sei que consigo. Mas não são os guerrilheiros -até dizem que estou sofrendo de síndrome de Estocolmo, mas eu nunca falo mal da guerrilha porque, afinal, eles estão com a minha filha. Meu ódio dirige-se a Uribe, com sua arrogância, insensibilidade e irresponsabilidade com a vida humana. Todos os dias vou à igreja para me confessar e pedir perdão pelos maus sentimentos que tenho em relação a ele. Mas não passa. As ruas de Bogotá estão cheias de gente, de camponeses deslocados, que saíram de suas terras para salvar suas vidas, que não estão preparados para viver em uma cidade grande. Vieram fugindo da guerra. SÚPLICA Eu peço que todos os políticos, artistas, escritores se mobilizem em toda a América Latina para nos ajudar a libertar Ingrid e demais seqüestrados. Isso que está acontecendo na Colômbia pode acontecer em qualquer país. E suplico ao presidente Lula e ao governo brasileiro que intervenham para fazermos o acordo humanitário, que trará o caminho da paz. Texto Anterior: Equador: Para líder da assembléia, derrota chavista é pedido de atenção Próximo Texto: Governo da Colômbia quer Sarkozy em reunião com as Farc Índice |
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