São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Relatório sobre Irã gera confusão mundial

Segundo documento americano, país abandonou projeto da bomba em 2003; China insinua que não votaria mais sanções

Israel relativiza texto da inteligência dos EUA; Putin pede transparência; Londres e Paris seguem Washington e apóiam pressóes na ONU

DA REDAÇÃO

O relatório divulgado anteontem pelos serviços de inteligência americanos, dando conta que o Irã interrompeu em 2003 a produção da bomba atômica, provocou enorme confusão diplomática.
O relatório colocou na defensiva os mais próximos aliados dos Estados Unidos no Conselho de Segurança -Reino Unido e França- sobre a necessidade de um novo e terceiro pacote de sanções contra o regime iraniano.
Indagado se o relatório tornava as sanções menos prováveis, o embaixador da China nas Nações Unidas, Guangya Wang, disse ser preciso levar em consideração as informações nele contidas, "porque partimos de uma presunção que agora está modificada".
A China tem poder de veto. É também o caso da Rússia, que ontem recebeu o principal negociador nuclear iraniano, Said Jalili. O presidente Vladimir Putin recomendou "transparência", enquanto o chanceler Serguei Lavrov disse acreditar na promessa iraniana de entregar todas as informações solicitadas à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Na própria AIEA, em Viena, o diretor-geral, Mohamed el Baradei, disse que o relatório da inteligência americana coincidia com informações coletadas por seus inspetores e o qualificou como "útil para resolver a atual crise". O diretor-geral sai fortalecido pelo documento. Os EUA o acusavam de condescendência com o Irã.

Paris e Londres
Em Londres, o primeiro-ministro, Gordon Brown, recomendou, segundo seu porta-voz, "manter o Irã sob pressão", para que o país restrinja seu programa nuclear e cesse o enriquecimento de urânio.
Posição semelhante à da França, onde a porta-voz da chancelaria afirmou que "devemos continuar a buscar medidas restritivas" na ONU.
Em Teerã, o relatório da NIE (Avaliação de Inteligência Nacional), que resumiu o consenso das 16 diferentes agências americanas de inteligência, deixou o governo local "exultante", diz a Reuters. O ministro das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki, disse que o texto "põe fim a ambiguidades" despertadas pelo programa nuclear, e que "as atividades pacíficas do Irã ficam mais claras para o mundo".
O regime islâmico faz de conta não ter entendido que os serviços de inteligência americanos afirmaram que até quatro anos atrás o país trabalhava na produção da bomba, enquanto mentia ao afirmar que queria apenas produzir eletricidade.
Quem ficou em situação mais incômoda foi Israel, que desacreditou o relatório e mantém o cenário de que o Irã desenvolve armas atômicas. O ministro da Defesa, Ehud Barak, disse até ser possível que o Irã tenha interrompido em 2003 a construção da bomba, mas "aparentemente continuou depois".
O primeiro-ministro, Ehud Olmert, disse que o relatório americano demonstra "o quanto é vital prosseguir nos esforços para que o Irã não se capacite no plano nuclear".

Barganha israelense
Observadores acreditam que o documento diminuiu a percepção da ameaça sobre a capacidade de sobrevivência de Israel. E é do sentimento que depende a estreita relação daquele país com os Estados Unidos.
O próprio Barak admitiu ser "possível" que o relatório reduza a possibilidade de os EUA bombardearem o Irã para destruir instalações nucleares. Assim, e somente se for o caso, Israel teria que agir sozinho.
A Associated Press diz que os israelenses acreditam que o Irã prossegue na fabricação da bomba e temem que os iranianos tenham recebido um artefato pronto da Coréia do Norte.
Meir Javedanfar, israelense especialista em Irã, acredita que os serviços de inteligência americanos podem ter sido enganados pela contra-informação iraniana.


Com agências internacionais


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