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Relatório sobre Irã gera confusão mundial
Segundo documento americano, país abandonou projeto da bomba em 2003; China insinua que não votaria mais sanções
Israel relativiza texto da inteligência dos EUA; Putin pede transparência; Londres e Paris seguem Washington e apóiam pressóes na ONU
DA REDAÇÃO
O relatório divulgado anteontem pelos serviços de inteligência americanos, dando
conta que o Irã interrompeu
em 2003 a produção da bomba
atômica, provocou enorme
confusão diplomática.
O relatório colocou na defensiva os mais próximos aliados
dos Estados Unidos no Conselho de Segurança -Reino Unido e França- sobre a necessidade de um novo e terceiro pacote de sanções contra o regime
iraniano.
Indagado se o relatório tornava as sanções menos prováveis, o embaixador da China
nas Nações Unidas, Guangya
Wang, disse ser preciso levar
em consideração as informações nele contidas, "porque
partimos de uma presunção
que agora está modificada".
A China tem poder de veto. É
também o caso da Rússia, que
ontem recebeu o principal negociador nuclear iraniano, Said
Jalili. O presidente Vladimir
Putin recomendou "transparência", enquanto o chanceler
Serguei Lavrov disse acreditar
na promessa iraniana de entregar todas as informações solicitadas à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
Na própria AIEA, em Viena, o
diretor-geral, Mohamed el Baradei, disse que o relatório da
inteligência americana coincidia com informações coletadas
por seus inspetores e o qualificou como "útil para resolver a
atual crise". O diretor-geral sai
fortalecido pelo documento. Os
EUA o acusavam de condescendência com o Irã.
Paris e Londres
Em Londres, o primeiro-ministro, Gordon Brown, recomendou, segundo seu porta-voz, "manter o Irã sob pressão",
para que o país restrinja seu
programa nuclear e cesse o
enriquecimento de urânio.
Posição semelhante à da
França, onde a porta-voz da
chancelaria afirmou que "devemos continuar a buscar medidas restritivas" na ONU.
Em Teerã, o relatório da NIE
(Avaliação de Inteligência Nacional), que resumiu o consenso das 16 diferentes agências
americanas de inteligência,
deixou o governo local "exultante", diz a Reuters. O ministro das Relações Exteriores,
Manouchehr Mottaki, disse
que o texto "põe fim a ambiguidades" despertadas pelo programa nuclear, e que "as atividades pacíficas do Irã ficam
mais claras para o mundo".
O regime islâmico faz de conta não ter entendido que os serviços de inteligência americanos afirmaram que até quatro
anos atrás o país trabalhava na
produção da bomba, enquanto
mentia ao afirmar que queria
apenas produzir eletricidade.
Quem ficou em situação mais
incômoda foi Israel, que desacreditou o relatório e mantém o
cenário de que o Irã desenvolve
armas atômicas. O ministro da
Defesa, Ehud Barak, disse até
ser possível que o Irã tenha interrompido em 2003 a construção da bomba, mas "aparentemente continuou depois".
O primeiro-ministro, Ehud
Olmert, disse que o relatório
americano demonstra "o quanto é vital prosseguir nos esforços para que o Irã não se capacite no plano nuclear".
Barganha israelense
Observadores acreditam que
o documento diminuiu a percepção da ameaça sobre a capacidade de sobrevivência de Israel. E é do sentimento que depende a estreita relação daquele país com os Estados Unidos.
O próprio Barak admitiu ser
"possível" que o relatório reduza a possibilidade de os EUA
bombardearem o Irã para destruir instalações nucleares. Assim, e somente se for o caso, Israel teria que agir sozinho.
A Associated Press diz que os
israelenses acreditam que o Irã
prossegue na fabricação da
bomba e temem que os iranianos tenham recebido um artefato pronto da Coréia do Norte.
Meir Javedanfar, israelense
especialista em Irã, acredita
que os serviços de inteligência
americanos podem ter sido enganados pela contra-informação iraniana.
Com agências internacionais
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