São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Bush mantém que país é "perigoso" e diz temer transferência de dados nucleares

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O presidente George W. Bush não retrocedeu em seu discurso contra o Irã, mesmo à luz de relatório divulgado anteontem por dezesseis agências de inteligência norte-americanas segundo o qual o país abandonou em 2003 seu programa de produção de armas nucleares. Em entrevista ontem, Bush adaptou o foco de sua preocupação para a "transferência de conhecimento" da tecnologia nuclear.
"Veja, o Irã era perigoso, é perigoso e continuará a ser perigoso se tiver o conhecimento necessário para produzir arma nuclear", afirmou o norte-americano, em encontro com a imprensa em Washington.
"É importante que a comunidade internacional reconheça o fato de que, se o Irã desenvolver o conhecimento e transferi-lo para um programa clandestino, vai criar um grande perigo."
Acerca do relatório, disse que o texto não o fez mudar de opinião sobre o regime dos aiatolás. Não há nada no levantamento, concluiu Bush, que o faça pensar "o.k., por que não deixamos de nos preocupar com isso? Ao contrário. Eu acho que o relatório deixa claro que o Irã precisa ser considerado seriamente uma ameaça à paz. Minha opinião não mudou".
No texto de 2005, o levantamento redigido pela NIE (sigla em inglês para Avaliação de Inteligência Nacional), que reúne o diagnóstico consensual de agências como a CIA e o FBI, afirmava "com grande confiança que o Irã está determinado a desenvolver armas nucleares". No de anteontem, a "grande confiança" era de que o país havia interrompido esse programa no outono de 2003.
O primeiro texto dava base para a retórica belicosa de Bush e de seu gabinete contra o Irã. Em 17 de outubro, o presidente chegou mesmo a afirmar que o mundo corria o risco de "uma Terceira Guerra, nuclear", se não agisse rápido.
Até pré-candidatos da oposição democrata embarcaram no discurso. No dia 30 do mesmo mês, Hillary Clinton afirmou em debate: "O Irã busca armas nucleares".
O imbróglio todo lembra a inteligência falha usada para justificar a Guerra do Iraque, nos meses que antecederam a invasão de março de 2003. Indagado ontem sobre a semelhança, o presidente reconheceu pela primeira vez explicitamente que os argumentos usados então eram realmente falhos. "Logo após o fracasso da inteligência no Iraque, reformamos a comunidade de inteligência", concedeu ele.
Bush disse ainda que a via diplomática não estava descartada, só havia sido abandonada por conta da eleição do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad. "Houve um momento em minha presidência que a diplomacia era um caminho para os iranianos. Nosso desejo é que possamos voltar a essa via."


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