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Bush mantém que país é "perigoso" e diz temer transferência de dados nucleares
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O presidente George W.
Bush não retrocedeu em seu
discurso contra o Irã, mesmo à
luz de relatório divulgado anteontem por dezesseis agências
de inteligência norte-americanas segundo o qual o país abandonou em 2003 seu programa
de produção de armas nucleares. Em entrevista ontem, Bush
adaptou o foco de sua preocupação para a "transferência de
conhecimento" da tecnologia
nuclear.
"Veja, o Irã era perigoso, é perigoso e continuará a ser perigoso se tiver o conhecimento
necessário para produzir arma
nuclear", afirmou o norte-americano, em encontro com a imprensa em Washington.
"É importante que a comunidade internacional reconheça o
fato de que, se o Irã desenvolver
o conhecimento e transferi-lo
para um programa clandestino,
vai criar um grande perigo."
Acerca do relatório, disse que
o texto não o fez mudar de opinião sobre o regime dos aiatolás. Não há nada no levantamento, concluiu Bush, que o faça pensar "o.k., por que não deixamos de nos preocupar com
isso? Ao contrário. Eu acho que
o relatório deixa claro que o Irã
precisa ser considerado seriamente uma ameaça à paz. Minha opinião não mudou".
No texto de 2005, o levantamento redigido pela NIE (sigla
em inglês para Avaliação de Inteligência Nacional), que reúne
o diagnóstico consensual de
agências como a CIA e o FBI,
afirmava "com grande confiança que o Irã está determinado a
desenvolver armas nucleares".
No de anteontem, a "grande
confiança" era de que o país havia interrompido esse programa no outono de 2003.
O primeiro texto dava base
para a retórica belicosa de Bush
e de seu gabinete contra o Irã.
Em 17 de outubro, o presidente
chegou mesmo a afirmar que o
mundo corria o risco de "uma
Terceira Guerra, nuclear", se
não agisse rápido.
Até pré-candidatos da oposição democrata embarcaram no
discurso. No dia 30 do mesmo
mês, Hillary Clinton afirmou
em debate: "O Irã busca armas
nucleares".
O imbróglio todo lembra a
inteligência falha usada para
justificar a Guerra do Iraque,
nos meses que antecederam a
invasão de março de 2003. Indagado ontem sobre a semelhança, o presidente reconheceu pela primeira vez explicitamente que os argumentos usados então eram realmente falhos. "Logo após o fracasso da
inteligência no Iraque, reformamos a comunidade de inteligência", concedeu ele.
Bush disse ainda que a via diplomática não estava descartada, só havia sido abandonada
por conta da eleição do linha-dura Mahmoud Ahmadinejad.
"Houve um momento em minha presidência que a diplomacia era um caminho para os iranianos. Nosso desejo é que possamos voltar a essa via."
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