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Grupo acusado pela Índia opera abertamente
JANE PERLEZ
SOMINI SENGUPTA
DO "NEW YORK TIMES", EM LAHORE,
PAQUISTÃO
Os indícios de conexões entre os ataques terroristas em
Mumbai e um grupo extremista paquistanês representam o
mais severo teste enfrentado
até agora pelo governo de Asif
Ali Zardari, que em setembro
substituiu o ex-ditador Pervez
Musharraf na Presidência do
Paquistão.
Washington pressiona Zardari por medidas de repressão
ao grupo Lashkar-e- Taiba
(exército dos devotos), acusado
por funcionários indianos de
ter executado os ataques em
Mumbai. Ainda que oficialmente proscrita, a organização
opera de forma aberta há anos,
e tem histórico de conexões
com as agências de inteligência
paquistanesas.
De acordo com a polícia indiana, o único dos terroristas
que sobreviveu aos ataques,
Azam Amir Kasab, 21, disse aos
interrogadores que havia treinado durante um ano e meio
em pelo menos quatro campos
no Paquistão, e que em um deles havia sido apresentado a
Mohammad Hafeez Saeed, o líder do Lashkar-e-Taiba.
Muitas das acusações contra
o Lashkar-e-Taiba se originam
de investigadores da Índia, que
há muito encara o Paquistão
com hostilidade. Os EUA e a Índia compartilham do interesse
em pôr fim às atividades dos
grupos extremistas paquistaneses, que representam ameaça para os soldados americanos
no Afeganistão.
O Lashkar-e-Taiba opera
abertamente em Lahore. Sua
ala militante, dizem funcionários ocidentais, opera campos
na porção da Caxemira ocupada pelo Paquistão e nas áreas
tribais paquistanesas. No passado dedicado a combater a
presença indiana na Caxemira,
o grupo estaria agora determinado a se unir à jihad mundial.
Saeed, 63, vive em um complexo que inclui uma mesquita
em uma movimentada rua comercial. Uma placa diante do
templo diz "Centro Qadsisiyah", referência ao local de uma
batalha na qual os árabes derrotaram os persas no século 7.
Negativa
Um porta-voz de Saeed, Yaya
Mujahid, negou em entrevista
que ele estivesse envolvido nos
ataques a Mumbai, e descreveu
a exigência indiana de que ele
seja extraditado para a Índia,
em companhia de outras 19
pessoas, como "propaganda".
"A Índia o quer porque ele
expõe as atividades indianas na
Caxemira e quanto ao fechamento das fontes de água", disse Mujahid, se referindo às
queixas paquistanesas de que a
Índia vem cortando o acesso do
Paquistão a reservas aquíferas.
A organização que serve de
rosto público do grupo, a Jamaat-ud-Dawa, opera escolas
islâmicas e instituições de caridade e mantém um campus em
Muridke, 25 quilômetros ao
norte de Lahore, ele diz. Desde
o 11 de Setembro, afirma Mujahid, "o cenário mudou e nossa
relação com as autoridades já
não é tão boa".
De acordo com funcionários
ocidentais, o Lashkar-e-Taiba
foi formado em 1989 com a ajuda do principal serviço de inteligência paquistanês, o ISI. A
extensão desse relacionamento
é hoje tema de intenso debate.
Os críticos do ISI no Paquistão
alegam que ele continua a proteger o grupo islâmico.
Ainda que tenha sido criado
para combater o domínio indiano da Caxemira, o Lashkar-e-Taiba se tornou uma organização transnacional, e alguns
de seus combatentes chegaram
a lutar no Iraque, dizem os funcionários ocidentais. Não se sabe se o grupo está ou não sob a
influência da Al Qaeda.
"É preciso pensar que possam existir influências ou contatos de alguma ordem", disse
um funcionário do governo dos
EUA.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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