São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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Grupo acusado pela Índia opera abertamente

JANE PERLEZ
SOMINI SENGUPTA
DO "NEW YORK TIMES", EM LAHORE, PAQUISTÃO

Os indícios de conexões entre os ataques terroristas em Mumbai e um grupo extremista paquistanês representam o mais severo teste enfrentado até agora pelo governo de Asif Ali Zardari, que em setembro substituiu o ex-ditador Pervez Musharraf na Presidência do Paquistão.
Washington pressiona Zardari por medidas de repressão ao grupo Lashkar-e- Taiba (exército dos devotos), acusado por funcionários indianos de ter executado os ataques em Mumbai. Ainda que oficialmente proscrita, a organização opera de forma aberta há anos, e tem histórico de conexões com as agências de inteligência paquistanesas.
De acordo com a polícia indiana, o único dos terroristas que sobreviveu aos ataques, Azam Amir Kasab, 21, disse aos interrogadores que havia treinado durante um ano e meio em pelo menos quatro campos no Paquistão, e que em um deles havia sido apresentado a Mohammad Hafeez Saeed, o líder do Lashkar-e-Taiba.
Muitas das acusações contra o Lashkar-e-Taiba se originam de investigadores da Índia, que há muito encara o Paquistão com hostilidade. Os EUA e a Índia compartilham do interesse em pôr fim às atividades dos grupos extremistas paquistaneses, que representam ameaça para os soldados americanos no Afeganistão.
O Lashkar-e-Taiba opera abertamente em Lahore. Sua ala militante, dizem funcionários ocidentais, opera campos na porção da Caxemira ocupada pelo Paquistão e nas áreas tribais paquistanesas. No passado dedicado a combater a presença indiana na Caxemira, o grupo estaria agora determinado a se unir à jihad mundial.
Saeed, 63, vive em um complexo que inclui uma mesquita em uma movimentada rua comercial. Uma placa diante do templo diz "Centro Qadsisiyah", referência ao local de uma batalha na qual os árabes derrotaram os persas no século 7.

Negativa
Um porta-voz de Saeed, Yaya Mujahid, negou em entrevista que ele estivesse envolvido nos ataques a Mumbai, e descreveu a exigência indiana de que ele seja extraditado para a Índia, em companhia de outras 19 pessoas, como "propaganda".
"A Índia o quer porque ele expõe as atividades indianas na Caxemira e quanto ao fechamento das fontes de água", disse Mujahid, se referindo às queixas paquistanesas de que a Índia vem cortando o acesso do Paquistão a reservas aquíferas.
A organização que serve de rosto público do grupo, a Jamaat-ud-Dawa, opera escolas islâmicas e instituições de caridade e mantém um campus em Muridke, 25 quilômetros ao norte de Lahore, ele diz. Desde o 11 de Setembro, afirma Mujahid, "o cenário mudou e nossa relação com as autoridades já não é tão boa".
De acordo com funcionários ocidentais, o Lashkar-e-Taiba foi formado em 1989 com a ajuda do principal serviço de inteligência paquistanês, o ISI. A extensão desse relacionamento é hoje tema de intenso debate.
Os críticos do ISI no Paquistão alegam que ele continua a proteger o grupo islâmico.
Ainda que tenha sido criado para combater o domínio indiano da Caxemira, o Lashkar-e-Taiba se tornou uma organização transnacional, e alguns de seus combatentes chegaram a lutar no Iraque, dizem os funcionários ocidentais. Não se sabe se o grupo está ou não sob a influência da Al Qaeda.
"É preciso pensar que possam existir influências ou contatos de alguma ordem", disse um funcionário do governo dos EUA.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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