São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Presidente sofre pressão para ampliar área para coca

DA ENVIADA A LA PAZ E SANTA CRUZ

"Há sobreprodução. Estamos receosos porque mais setores pedem para ter coca legalizada. Quando o interesse é comercial, há que ter "mano dura"."
O autor da frase não é um crítico de Evo Morales, mas um líder cocaleiro como ele, da região dos Yungas, no departamento de La Paz.
Na inspetoria do maior mercado de coca legal do país, na capital boliviana, David Guaigua, 30, da diretoria da Adepcoca (Associação Departamental de Produtores de Coca), diz que, após a eleição, as seis principais organizações cocaleiras vão se reunir com o governo para debater a nova "lei da coca".
A discussão deve incluir a pressão da base de Evo para aumentar ainda mais a área de plantio de coca legal, oficialmente destinada ao consumo tradicional milenar, e a pressão de parte da opinião pública e de órgãos controladores do narcotráfico pelo crescimento, desde 2006, da produção estimada de cocaína do país.
Guaiga representa uma área tradicional de plantio de coca, onde reconhece haver ao menos 2.000 ha ilegais, e critica o Chapare, o berço político do cocaleiro Morales, e outras zonas pela expansão que, diz, pode prejudicar os plantadores antigos e até a imagem do governo.
Nos dois primeiros anos o governo Morales foi relativamente bem avaliado na luta contra o tráfico. O cultivo da coca aumentou 8% em 2006 e 5% em 2007, segundo a ONU, ante, por exemplo, os 27% de aumento da Colômbia em 2007.
Mas os dados do ano passado ajudaram a complicar o quadro para o ex-cocaleiro. Enquanto a Colômbia, ainda segundo a ONU, reduziu sua produção, a da Bolívia voltou a aumentar.
Outros sinais do avanço do narcotráfico ajudaram a mudar o humor, principalmente da classe média urbana, contra a política de Morales. Em Santa Cruz, taxistas ou empresários contam histórias sobre rinhas de galo milionárias promovidas pelos traficantes.
No balanço de 2006 a 2008, a área destinada à coca no país avançou 21%, e a produção estimada de pasta de cocaína saltou 41%. Se a diplomacia brasileira evita falar do tema, a Polícia Federal reclama, argumentado que 80% do pó da Bolívia marcha rumo ao Brasil.
O governo Morales também expulsou, no ano passado, a DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, que atuava desde os anos 80 no país. Seus funcionários foram acusados de ingerência política.
No lugar da parceira americana, La Paz quer contar com os vizinhos, como Brasil. Acordos de cooperação foram assinados, mas os resultados do elo bilateral não são animadores.
Em novembro último, a Folha acompanhou uma operação do Exército brasileiro na fronteira entre os países -a maior do Brasil, com mais de 3.000 km- para inibir o tráfico de drogas. Também constatou a facilidade de transporte de droga pela zona.
No lado boliviano, praticamente não havia policiamento ou controle, apesar de o ministro do Interior de Morales, Alfredo Rada, ter dito ontem que operações conjuntas com o Brasil estão tendo resultados satisfatórios.0 (FM)


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