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Presidente sofre pressão para ampliar área para coca
DA ENVIADA A LA PAZ E SANTA CRUZ
"Há sobreprodução. Estamos
receosos porque mais setores
pedem para ter coca legalizada.
Quando o interesse é comercial, há que ter "mano dura"."
O autor da frase não é um crítico de Evo Morales, mas um líder cocaleiro como ele, da região dos Yungas, no departamento de La Paz.
Na inspetoria do maior mercado de coca legal do país, na
capital boliviana, David Guaigua, 30, da diretoria da Adepcoca (Associação Departamental
de Produtores de Coca), diz
que, após a eleição, as seis principais organizações cocaleiras
vão se reunir com o governo para debater a nova "lei da coca".
A discussão deve incluir a
pressão da base de Evo para aumentar ainda mais a área de
plantio de coca legal, oficialmente destinada ao consumo
tradicional milenar, e a pressão
de parte da opinião pública e de
órgãos controladores do narcotráfico pelo crescimento, desde
2006, da produção estimada de
cocaína do país.
Guaiga representa uma área
tradicional de plantio de coca,
onde reconhece haver ao menos 2.000 ha ilegais, e critica o
Chapare, o berço político do cocaleiro Morales, e outras zonas
pela expansão que, diz, pode
prejudicar os plantadores antigos e até a imagem do governo.
Nos dois primeiros anos o governo Morales foi relativamente bem avaliado na luta contra o
tráfico. O cultivo da coca aumentou 8% em 2006 e 5% em
2007, segundo a ONU, ante, por
exemplo, os 27% de aumento
da Colômbia em 2007.
Mas os dados do ano passado
ajudaram a complicar o quadro
para o ex-cocaleiro. Enquanto a
Colômbia, ainda segundo a
ONU, reduziu sua produção, a
da Bolívia voltou a aumentar.
Outros sinais do avanço do
narcotráfico ajudaram a mudar
o humor, principalmente da
classe média urbana, contra a
política de Morales. Em Santa
Cruz, taxistas ou empresários
contam histórias sobre rinhas
de galo milionárias promovidas
pelos traficantes.
No balanço de 2006 a 2008, a
área destinada à coca no país
avançou 21%, e a produção estimada de pasta de cocaína saltou 41%. Se a diplomacia brasileira evita falar do tema, a Polícia Federal reclama, argumentado que 80% do pó da Bolívia
marcha rumo ao Brasil.
O governo Morales também
expulsou, no ano passado, a
DEA, a agência antidrogas dos
Estados Unidos, que atuava
desde os anos 80 no país. Seus
funcionários foram acusados
de ingerência política.
No lugar da parceira americana, La Paz quer contar com
os vizinhos, como Brasil. Acordos de cooperação foram assinados, mas os resultados do elo
bilateral não são animadores.
Em novembro último, a Folha acompanhou uma operação do Exército brasileiro na
fronteira entre os países -a
maior do Brasil, com mais de
3.000 km- para inibir o tráfico
de drogas. Também constatou
a facilidade de transporte de
droga pela zona.
No lado boliviano, praticamente não havia policiamento
ou controle, apesar de o ministro do Interior de Morales, Alfredo Rada, ter dito ontem que
operações conjuntas com o
Brasil estão tendo resultados
satisfatórios.0
(FM)
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