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Al Qaeda busca fazer do Iêmen seu refúgio
Há temor de que a publicidade gerada por atentado frustrado a voo dos EUA no Natal atraia mais extremistas ao país
Segundo relatos, sauditas se juntaram aos iemenitas; militantes paquistaneses e afegãos receberam ordens para fazer a mesma coisa
ANDREW ENGLAND
MATTHEW GREEN
DO "FINANCIAL TIMES"
O crescimento da Al Qaeda
no Iêmen é um exemplo do dilema que governos enfrentam
ao combater o extremismo islâmico global: a repressão movida por um país pode empurrar
os militantes ao país vizinho.
Militantes sauditas teriam
fugido das forças de segurança
em seu país para se unir a iemenitas, reforçando a Al Qaeda na
península Arábica (AQPA),
grupo ao qual é atribuído o
atentado fracassado a voo nos EUA no dia de Natal.
A perspectiva de uma geração de militantes migrando por
um arco de instabilidade que
vai do Afeganistão e Paquistão
até o Iêmen e o Chifre da África
e o Sahel preocupa agências de
inteligência há anos. Esse foi
um elemento importante da estratégia de Osama bin Laden
durante seu refúgio no Afeganistão. Mas é difícil avaliar a extensão do fenômeno.
Um funcionário de segurança paquistanês e um diplomata
árabe em Islamabad disseram
ter ouvido relatos segundo os
quais os líderes da Al Qaeda na
fronteira entre Afeganistão e
Paquistão teriam ordenado que alguns seguidores árabes partissem para o Iêmen em 2009.
Diplomatas ocidentais em
Sanaa alegam que há poucas
evidências disso. Porém, há o
temor de que o Iêmen possa
atrair mais extremistas. "O receio é que, se os esforços contra
a Al Qaeda no Afeganistão e Paquistão surtirem efeito, a Al
Qaeda procure mudar de lugar,
e que o Iêmen seria um destino atraente", diz um diplomata.
A maioria dos sequestradores do 11 de Setembro era saudita, mas, de início, o governo
de Riad negou que seus militantes domésticos fossem uma
ameaça. Ataques em 2003 e
2004, que mataram dezenas de
ocidentais, inverteram a situação. Desde então, milhares de suspeitos foram presos.
Em 2009, o general Mansour
al Turki, do Ministério do Interior saudita, disse que a ameaça
havia se movido para o Iêmen,
gerando receios de que militantes no país vizinho pudessem
lançar ataques contra alvos do outro lado da fronteira.
As preocupações aumentaram depois de a Al Qaeda no Iêmen ter se rebatizado de Al
Qaeda na península Arábica para unir extremistas iemenitas e
sauditas e ampliar a dinâmica do grupo para além do território do Iêmen.
O medo se concretizou em
agosto, quando um saudita cruzou a fronteira de volta para seu
país e tentou assassinar o vice-ministro do Interior, príncipe Mohammed bin Naif.
Acredita-se que o segundo
em comando da AQPA seja
Saeed al Shehri, saudita libertado de Guantánamo e que se mudou para o Iêmen.
Gregory Johnsen, da Universidade Princeton, diz que, para
ilustrar seu "grau de conforto"
no Iêmen, Shehri levou sua mulher e seus filhos para lá.
"Os sauditas não passaram a
ir para o Iêmen até a Al Qaeda ter se fixado ali", afirma.
A publicidade obtida desde o
atentado frustrado no voo a Detroit pode atrair extremistas
para o país, segundo especialistas. "Se, com a AQPA, os militantes têm uma organização
que teve alguns êxitos, tais êxitos atraem recrutas", diz Johnsen. "Se o contexto iemenita tivesse sido resolvido, não existiria a opção de usar o país como refúgio seguro."
Em nenhum lugar o fenômeno do refúgio seguro é mais
marcante que na fronteira afegã-paquistanesa, onde a intervenção dos EUA no Afeganistão em 2001 empurrou os líderes do Taleban afegão e da Al Qaeda para o Paquistão.
Nove anos mais tarde, comandantes americanos temem
que refúgios do Taleban no Paquistão prejudiquem o impacto do envio de tropas extras.
Tradução de CLARA ALLAIN
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