São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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Al Qaeda busca fazer do Iêmen seu refúgio

Há temor de que a publicidade gerada por atentado frustrado a voo dos EUA no Natal atraia mais extremistas ao país

Segundo relatos, sauditas se juntaram aos iemenitas; militantes paquistaneses e afegãos receberam ordens para fazer a mesma coisa

ANDREW ENGLAND
MATTHEW GREEN
DO "FINANCIAL TIMES"

O crescimento da Al Qaeda no Iêmen é um exemplo do dilema que governos enfrentam ao combater o extremismo islâmico global: a repressão movida por um país pode empurrar os militantes ao país vizinho.
Militantes sauditas teriam fugido das forças de segurança em seu país para se unir a iemenitas, reforçando a Al Qaeda na península Arábica (AQPA), grupo ao qual é atribuído o atentado fracassado a voo nos EUA no dia de Natal.
A perspectiva de uma geração de militantes migrando por um arco de instabilidade que vai do Afeganistão e Paquistão até o Iêmen e o Chifre da África e o Sahel preocupa agências de inteligência há anos. Esse foi um elemento importante da estratégia de Osama bin Laden durante seu refúgio no Afeganistão. Mas é difícil avaliar a extensão do fenômeno.
Um funcionário de segurança paquistanês e um diplomata árabe em Islamabad disseram ter ouvido relatos segundo os quais os líderes da Al Qaeda na fronteira entre Afeganistão e Paquistão teriam ordenado que alguns seguidores árabes partissem para o Iêmen em 2009.
Diplomatas ocidentais em Sanaa alegam que há poucas evidências disso. Porém, há o temor de que o Iêmen possa atrair mais extremistas. "O receio é que, se os esforços contra a Al Qaeda no Afeganistão e Paquistão surtirem efeito, a Al Qaeda procure mudar de lugar, e que o Iêmen seria um destino atraente", diz um diplomata.
A maioria dos sequestradores do 11 de Setembro era saudita, mas, de início, o governo de Riad negou que seus militantes domésticos fossem uma ameaça. Ataques em 2003 e 2004, que mataram dezenas de ocidentais, inverteram a situação. Desde então, milhares de suspeitos foram presos.
Em 2009, o general Mansour al Turki, do Ministério do Interior saudita, disse que a ameaça havia se movido para o Iêmen, gerando receios de que militantes no país vizinho pudessem lançar ataques contra alvos do outro lado da fronteira.
As preocupações aumentaram depois de a Al Qaeda no Iêmen ter se rebatizado de Al Qaeda na península Arábica para unir extremistas iemenitas e sauditas e ampliar a dinâmica do grupo para além do território do Iêmen.
O medo se concretizou em agosto, quando um saudita cruzou a fronteira de volta para seu país e tentou assassinar o vice-ministro do Interior, príncipe Mohammed bin Naif.
Acredita-se que o segundo em comando da AQPA seja Saeed al Shehri, saudita libertado de Guantánamo e que se mudou para o Iêmen.
Gregory Johnsen, da Universidade Princeton, diz que, para ilustrar seu "grau de conforto" no Iêmen, Shehri levou sua mulher e seus filhos para lá.
"Os sauditas não passaram a ir para o Iêmen até a Al Qaeda ter se fixado ali", afirma.
A publicidade obtida desde o atentado frustrado no voo a Detroit pode atrair extremistas para o país, segundo especialistas. "Se, com a AQPA, os militantes têm uma organização que teve alguns êxitos, tais êxitos atraem recrutas", diz Johnsen. "Se o contexto iemenita tivesse sido resolvido, não existiria a opção de usar o país como refúgio seguro."
Em nenhum lugar o fenômeno do refúgio seguro é mais marcante que na fronteira afegã-paquistanesa, onde a intervenção dos EUA no Afeganistão em 2001 empurrou os líderes do Taleban afegão e da Al Qaeda para o Paquistão.
Nove anos mais tarde, comandantes americanos temem que refúgios do Taleban no Paquistão prejudiquem o impacto do envio de tropas extras.


Tradução de CLARA ALLAIN


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