São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009

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Favoritos em Israel cortejam ultradireitista

Partido do extremista Liberman sobe nas pesquisas e pode ser crucial para formação de novo governo

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A quatro dias da eleição que definirá o próximo governo de Israel, os favoritos ao cargo de primeiro-ministro flertam cada vez mais abertamente com a ultradireita. O alvo é o Israel Beitenu, um partido acusado de racismo contra os árabes que desponta como a grande estrela da campanha -e possível fiel da balança na formação de uma coalizão de governo.
Diante de uma disputa acirrada e do quadro eleitoral pulverizado, em que o candidato vencedor precisará de uma série de alianças para governar, o partido liderado pelo controvertido Avigdor Liberman passou a ser visto como parceiro potencial pelos três favoritos.
Nos últimos dias, nenhum deles deixou de mandar recados para Liberman, um imigrante da ex-república soviética de Moldova cujo mote de campanha é: "Sem lealdade, não há cidadania". Trata-se de um recado aos cidadãos árabes de Israel, que compõem 20% da população e que são acusados pelo Israel Beitenu e outros partidos de direita de conspirar com o inimigo.
Líder da oposição e das pesquisas eleitorais, Binyamin Netanyahu, do partido conservador Likud, reiterou ontem que guarda uma pasta "importante" para o ultradireitista. Fontes do Likud descartam, porém, que esse cargo seja o de ministro da Defesa, uma pretensão que Liberman tem insinuado por meio de assessores.
No calor da disputa, a chanceler Tzipi Livni, do partido de centro Kadima, apressou-se a anunciar que formará de bom grado um governo com a ajuda de Liberman. E mesmo o ministro da Defesa, Ehud Barak, que enfrenta forte resistência à ideia dentro de seu Partido Trabalhista, já disse que não descarta uma aliança com o líder do Israel Beitenu.
As últimas pesquisas justificam o flerte: o partido de Liberman aparece em terceiro, com chance de conquistar até 20 cadeiras, das 120 do Parlamento. Como nenhum partido deverá ter mais de 30 deputados, a matemática transformou Liberman num valioso aliado para quem quiser chegar à maioria de 61 necessária para governar.
A ascensão do ultradireitista também explica a queda do favoritismo de Netanyahu. De acordo com uma pesquisa de opinião divulgada na quarta-feira pelo Canal 2 israelense, o Kadima de Livni encostou no Likud, que agora tem a vantagem de apenas três deputados sobre o rival (26 a 23).
As seis cadeiras perdidas pelo Likud desde a pesquisa anterior, estimam analistas, foram todas para a conta de Liberman. Se ainda resta dúvida sobre qual partido chegará na frente (até porque há um terço de indecisos), é certo que o chamado bloco de direita terá a maioria dos votos na próxima terça, com o Likud à frente de outras forças do espectro sionista-político-religioso.
A recente ofensiva na faixa de Gaza, executada com amplo apoio popular, fortaleceu a direita e recolocou a segurança no topo da agenda política. Barak e Livni, que comandaram a guerra, não conseguiram avançar tanto quanto a direita.
Resta saber quem o vencedor escolherá para formar o seu governo. Barak, que na pesquisa tem só 13 cadeiras, parece sem chances de voltar a ser primeiro-ministro, mas é nome praticamente certo para continuar como ministro da Defesa, seja qual for o premiê.
Dentro de seu partido e entre as forças de esquerda em geral, uma nova parceria num gabinete com Liberman (que integrou por um ano a atual coalizão) é considerada uma traição aos valores do trabalhismo. O escritor Amós Oz, figura de ponta da esquerda no país, chegou a dizer que o Partido Trabalhista tinha perdido a razão de ser ao se tornar um coadjuvante de governos de direita.


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