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Favoritos em Israel cortejam ultradireitista
Partido do extremista Liberman sobe nas pesquisas e pode ser crucial para formação de novo governo
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
A quatro dias da eleição que
definirá o próximo governo de
Israel, os favoritos ao cargo de
primeiro-ministro flertam cada vez mais abertamente com a
ultradireita. O alvo é o Israel
Beitenu, um partido acusado de
racismo contra os árabes que
desponta como a grande estrela
da campanha -e possível fiel
da balança na formação de uma
coalizão de governo.
Diante de uma disputa acirrada e do quadro eleitoral pulverizado, em que o candidato
vencedor precisará de uma série de alianças para governar, o
partido liderado pelo controvertido Avigdor Liberman passou a ser visto como parceiro
potencial pelos três favoritos.
Nos últimos dias, nenhum
deles deixou de mandar recados para Liberman, um imigrante da ex-república soviética de Moldova cujo mote de
campanha é: "Sem lealdade,
não há cidadania". Trata-se de
um recado aos cidadãos árabes
de Israel, que compõem 20% da
população e que são acusados
pelo Israel Beitenu e outros
partidos de direita de conspirar
com o inimigo.
Líder da oposição e das pesquisas eleitorais, Binyamin Netanyahu, do partido conservador Likud, reiterou ontem que
guarda uma pasta "importante" para o ultradireitista. Fontes do Likud descartam, porém,
que esse cargo seja o de ministro da Defesa, uma pretensão
que Liberman tem insinuado
por meio de assessores.
No calor da disputa, a chanceler Tzipi Livni, do partido de
centro Kadima, apressou-se a
anunciar que formará de bom
grado um governo com a ajuda
de Liberman. E mesmo o ministro da Defesa, Ehud Barak,
que enfrenta forte resistência à
ideia dentro de seu Partido
Trabalhista, já disse que não
descarta uma aliança com o líder do Israel Beitenu.
As últimas pesquisas justificam o flerte: o partido de Liberman aparece em terceiro, com
chance de conquistar até 20 cadeiras, das 120 do Parlamento.
Como nenhum partido deverá
ter mais de 30 deputados, a matemática transformou Liberman num valioso aliado para
quem quiser chegar à maioria
de 61 necessária para governar.
A ascensão do ultradireitista
também explica a queda do favoritismo de Netanyahu. De
acordo com uma pesquisa de
opinião divulgada na quarta-feira pelo Canal 2 israelense, o
Kadima de Livni encostou no
Likud, que agora tem a vantagem de apenas três deputados
sobre o rival (26 a 23).
As seis cadeiras perdidas pelo
Likud desde a pesquisa anterior, estimam analistas, foram
todas para a conta de Liberman. Se ainda resta dúvida sobre qual partido chegará na
frente (até porque há um terço
de indecisos), é certo que o chamado bloco de direita terá a
maioria dos votos na próxima
terça, com o Likud à frente de
outras forças do espectro sionista-político-religioso.
A recente ofensiva na faixa de
Gaza, executada com amplo
apoio popular, fortaleceu a direita e recolocou a segurança
no topo da agenda política. Barak e Livni, que comandaram a
guerra, não conseguiram avançar tanto quanto a direita.
Resta saber quem o vencedor
escolherá para formar o seu governo. Barak, que na pesquisa
tem só 13 cadeiras, parece sem
chances de voltar a ser primeiro-ministro, mas é nome praticamente certo para continuar
como ministro da Defesa, seja
qual for o premiê.
Dentro de seu partido e entre
as forças de esquerda em geral,
uma nova parceria num gabinete com Liberman (que integrou por um ano a atual coalizão) é considerada uma traição
aos valores do trabalhismo. O
escritor Amós Oz, figura de
ponta da esquerda no país, chegou a dizer que o Partido Trabalhista tinha perdido a razão
de ser ao se tornar um coadjuvante de governos de direita.
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