Bombardeio ocorre um dia após fogo cruzado com soldados americanos deixar pelo menos dez civis mortos

DA REDAÇÃO

Nove civis da mesma família foram mortos na madrugada de ontem no Afeganistão, em um ataque contra um edifício realizado pelas forças de coalizão lideradas pelos EUA, informou o governo do país.
O ataque, que ocorreu na Província de Kapisa (nordeste), foi o segundo comandado pelas forças de coalizão a registrar morte de civis em menos de dois dias. No domingo, pelo menos dez civis foram mortos em um suposto fogo cruzado entre soldados americanos e insurgentes, em Nangarhar.
As forças de coalizão confirmaram o ataque em Kapisa e culparam os insurgentes pela morte dos civis. "Essas pessoas intencionalmente colocaram a população em perigo ao se estabelecerem numa área povoada, enquanto conduziam ataques à coalizão," afirmou David Accetta, porta-voz das forças.
Em nota, o Exército dos EUA afirmou que lançou duas bombas de 90 quilos contra o edifício, depois que uma base americana em Kapisa foi atacada por um foguete. De acordo com o texto, dois homens armados com fuzis foram vistos entrando no edifício após deixarem a cena do ataque.
Segundo um parente das vítimas, Gulam Nabi, quatro crianças, com idades entre seis meses e cinco anos, e cinco adultos -entre eles os pais, a irmã e um sobrinho de Nabi- foram mortos no ataque.
O presidente afegão, Hamid Karzai, condenou ontem o ataque suicida de domingo, "que fez com que as forças americanas atirassem em civis". Os EUA afirmam que atiraram após terem sido alvo de um ataque suicida e de disparos de insurgentes. Ontem o Exército americano informou que foram dez os civis mortos, e não 16, como anunciado no domingo. Fontes afegãs dizem que o número pode ser maior.
Karzai já pediu repetidas vezes que as tropas ocidentais preservem os civis, temendo que incidentes como os de ontem e domingo levem a uma revolta da população afegã contra as tropas estrangeiras e o próprio governo -enfraquecido diante da ameaça de um ressurgimento do Taleban.

Versão contestada
De acordo com a Associated Press, que entrevistou mais de doze testemunhas dos ataques de domingo, ninguém confirmou a versão americana de que foram feitos disparos por insurgentes. "Não havia ninguém na rua, ninguém para atirar nos americanos", afirmou Akhtyar Gul, uma das testemunhas.
Uma autoridade dos EUA afirmou que o ataque suicida está relacionado aos esforços afegãos para erradicar a crescente plantação de papoula, matéria-prima do ópio.
Segundo relatório divulgado ontem pelo Escritório contra Drogas e Crime da ONU, o cultivo de papoula pode continuar a crescer em 2007. No ano passado, ele subiu 59%. Cerca de 90% do ópio produzido no mundo vêm do Afeganistão.