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Local atacado na selva é "buraco num prato de brócolis"
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A ANGOSTURA
(EQUADOR)
Do alto, o acampamento das
Farc em território equatoriano
é, agora, apenas uma clareira na
selva fechada. Um buraco num
prato de brócolis, na imagem
do coronel equatoriano José
Nuñez.
No chão, avista-se o que sobrou -um amontoado de roupas, uniformes militares, manuais da guerrilha na lama, um
cartão-postal com o Che Guevara- após o preciso bombardeio das Forças Armadas da
Colômbia que matou o número
2 da guerrilha, Raúl Reyes, e
provocou a mais séria crise diplomática da década na região.
A Folha acompanhou ontem
à tarde de trabalho dos militares do Equador na área, a 30
km da cidade equatoriana de
Angostura. O dia foi dedicado à
perícia técnica de oficiais da
Força Aérea, cuja comitiva a
reportagem acompanhou a
bordo de um helicóptero Superpuma do Exército.
As análises têm o objetivo de
determinar que tipo de armamento foi usado no ataque e
com que intensidade. Mas uma
conclusão as forças equatorianas já têm: não houve ataque
da guerrilha e revide colombiano. Ou seja, invasão proposital.
"Esse é um trabalho para detalhar a ação. A prova de que foi
um ataque-surpresa já está no
IML de Quito", diz o coronel
José Castillo, chefe do Estado
Maior da Brigada 19 do Exército, 4ª Divisão (responsável pela
Amazônia equatoriana), a respeito dos corpos de mais de
uma dezena de guerrilheiros
mortos com Reyes, e cujas imagens chocantes estão na internet. (Bogotá só fez questão de
levar o corpo de Reyes e de um
ideólogo das Farc, o resto foi
recolhido pelos equatorianos).
Na descrição de Castillo, foi
um ataque em três fases. Um
bombardeio com aviões -estimam dez bombas ao menos-,
seguido de um ataque por helicópteros com metralhadoras e
logo uma ofensiva por terra.
"Os colombianos não atacaram
a guerrilha vindos do lado colombiano. Eles contornaram o
acampamento, entraram ainda
mais no território para surpreendê-los pelo sul."
Os vestígios do acampamento onde morreu o porta-voz da
guerrilha exibem a expertise
das Farc em décadas de selva.
Ainda se identifica onde era a
cozinha (com um escorredor
de pratos atado a uma haste), a
área do quarto dos líderes, segundo apontam os militares,
chamando atenção para os restos de uma TV de plasma, um
som e cds piratas (da banda colombiana de cúmbia La Sonora
Dinamita, Gloria Stefan...).
Os escombros vão delineando o cotidiano do acampamento, falando da presença das mulheres. Também na lama, há a
bula de um anticoncepcional
intravenoso. Há uma espécie
de sala-de-aula, com tocos como bancos. Para os equatorianos, o local era de treinamento
e, na hora do ataque, vários outros guerrilheiros fugiram nas
imensidões à frente.
Há um riacho perto, para onde se desce por meio degraus
feitos de madeira, firmes. No final do caminho, um chiqueiro
suspenso sobre a água aparece.
Há ainda um porco, que sobreviveu. "Estar em constante atitude de vigilância durante seus
turnos, sem afastar-se por nenhum motivo", diz parte do
manual manuscrito na lama.
Como provam as últimas vitórias do Exército colombiano,
esses manuais não são mais suficientes.
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