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SUCESSÃO NOS EUA / NOVO CENÁRIO
Hillary se posiciona como a favorita e sugere chapa dupla
Obama rejeita proposta e diz que ainda é o campeão em número de delegados com direito a escolher o candidato
Indefinição dos democratas
pode ajudar John McCain,
o candidato republicano,
definido depois das quatro
prévias feitas anteontem
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)
Se o ex-presidente Bill Clinton entrou na história por ser o
"comeback kid", o garoto da
volta por cima, uma referência
às várias vezes em que foi prematuramente dado como acabado politicamente, sua mulher provou que pode fazer o
mesmo anteontem. O próprio
Clinton havia dito num comício há alguns dias: "Se ela ganhar no Texas e em Ohio, acho
que será a escolhida. Se vocês
não fizerem isso por ela, não
creio que ela será." Aparentemente, ele estava sendo ouvido.
Depois de vencer em 3 dos 4
Estados que fizeram prévias
anteontem, incluindo os dois
mais importantes, Hillary Clinton passou o dia de ontem tentando se reposicionar como a
favorita do Partido Democrata
e a com mais chance de ser eleita. Chegou mesmo a sugerir
uma chapa com ela e o senador
Barack Obama, desde, é claro,
que a ex-primeira-dama encabeçasse a cédula.
"Pode ser que seja para isso
que estamos caminhando", disse ela durante programa na
emissora CBS, provocativa, depois de indagada sobre o que alguns analistas chamam de
"Dream Ticket", a chapa dos
sonhos. "Mas é claro que temos
de decidir sobre quem está na
cabeça da chapa, e acho que o
povo de Ohio deixou bem claro
que essa pessoa deveria ser eu."
Em teleconferência na tarde
de ontem, os assessores da ex-primeira-dama reforçaram o
argumento da elegibilidade, citado por ela já no discurso de
vitória na terça em Columbus,
Ohio. "Se você examinar os resultados até agora, é ela, e não o
senador, quem vence nos grandes Estados", disse Mark Penn,
estrategista-chefe de Hillary.
"Isso será importante quando a
briga for contra John McCain."
A campanha de Barack Obama ignorou a sugestão de uma
chapa dupla e reagiu, rebatendo a tecla de que, apesar dos delegados ganhos pela concorrente com as vitórias em Texas,
Ohio e Rhode Island, era ele, o
senador, vencedor em Vermont e em onze disputas consecutivas anteriores, quem
continuava o líder na contagem
total dos delegados e em número de Estados ganhos.
Obama aproveitou para subir
o tom das críticas. Alvo nos últimos dias de anúncios negativos
e denúncias como o "Naftagate", que ajudou em sua derrota
em Ohio, segundo sugerem as
pesquisas de boca-de-urna, o
candidato acusou o golpe. "Não
há dúvida de que a senadora foi
muito negativa na semana passada e isso deve ter funcionado
em alguma medida", disse em
San Antonio, no Texas. "Mas as
pessoas deveriam questionar
melhor seus argumentos."
O senador disse que "80 viagens ao exterior como primeira-dama" não contam exatamente como experiência em
política externa e questionou o
fato de Hillary ainda não ter
tornado pública sua declaração
de renda de 2007. "Acho que o
povo americano tem direito de
saber de onde vem seu dinheiro", afirmou. A campanha de
Hillary disse que fará isso depois de 15 de abril.
O bate-boca foi uma prévia
do que deve ser o dia-a-dia entre os postulantes do partido de
oposição não só até a próxima
primária relevante, da Pensilvânia, em 22 de abril, como até
a convenção nacional democrata, no final de agosto, em
Denver, no Colorado. A indecisão e a temperatura dos ataques preocupam os líderes democratas, que olham em contraste para a situação tranqüila
do candidato da situação.
Alguns sugeriram que os chamados superdelegados, 796
membros do partido que votam
independentemente da escolha
popular e podem decidir a indicação democrata, deveriam
ajudar a resolver a questão antes de agosto. A presidente do
Congresso, Nancy Pelosi, urgiu
que os indecisos entre eles declarem o voto logo. "É a hora de
as pessoas se manifestarem."
Analisados os resultados de
boca-de-urna em Ohio e no Texas, há três universos em que
Hillary Clinton saiu-se muito
bem: entre os mais velhos, entre os que decidiram votar na
última hora e entre os que estão
mais preocupados com a economia. No Texas, além disso,
sua vantagem entre os latinos
sobre Obama foi de quase 35
pontos percentuais.
Isso sugere que as acusações
de que o senador tem um discurso crítico ao Tratado de Livre Comércio da América do
Norte (Nafta) em público e outro mais conservador em privado (o chamado "Naftagate") podem ter pesado ao levar indecisos às urnas e ao fazer os que se
preocupam com a economia a
votar em Hillary -o acordo é
apontado em Ohio como um
dos grandes culpados pela alta
taxa de desemprego local.
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