São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / NOVO CENÁRIO

Hillary se posiciona como a favorita e sugere chapa dupla

Obama rejeita proposta e diz que ainda é o campeão em número de delegados com direito a escolher o candidato

Indefinição dos democratas pode ajudar John McCain, o candidato republicano, definido depois das quatro prévias feitas anteontem

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)

Se o ex-presidente Bill Clinton entrou na história por ser o "comeback kid", o garoto da volta por cima, uma referência às várias vezes em que foi prematuramente dado como acabado politicamente, sua mulher provou que pode fazer o mesmo anteontem. O próprio Clinton havia dito num comício há alguns dias: "Se ela ganhar no Texas e em Ohio, acho que será a escolhida. Se vocês não fizerem isso por ela, não creio que ela será." Aparentemente, ele estava sendo ouvido.
Depois de vencer em 3 dos 4 Estados que fizeram prévias anteontem, incluindo os dois mais importantes, Hillary Clinton passou o dia de ontem tentando se reposicionar como a favorita do Partido Democrata e a com mais chance de ser eleita. Chegou mesmo a sugerir uma chapa com ela e o senador Barack Obama, desde, é claro, que a ex-primeira-dama encabeçasse a cédula.
"Pode ser que seja para isso que estamos caminhando", disse ela durante programa na emissora CBS, provocativa, depois de indagada sobre o que alguns analistas chamam de "Dream Ticket", a chapa dos sonhos. "Mas é claro que temos de decidir sobre quem está na cabeça da chapa, e acho que o povo de Ohio deixou bem claro que essa pessoa deveria ser eu."
Em teleconferência na tarde de ontem, os assessores da ex-primeira-dama reforçaram o argumento da elegibilidade, citado por ela já no discurso de vitória na terça em Columbus, Ohio. "Se você examinar os resultados até agora, é ela, e não o senador, quem vence nos grandes Estados", disse Mark Penn, estrategista-chefe de Hillary. "Isso será importante quando a briga for contra John McCain."
A campanha de Barack Obama ignorou a sugestão de uma chapa dupla e reagiu, rebatendo a tecla de que, apesar dos delegados ganhos pela concorrente com as vitórias em Texas, Ohio e Rhode Island, era ele, o senador, vencedor em Vermont e em onze disputas consecutivas anteriores, quem continuava o líder na contagem total dos delegados e em número de Estados ganhos.
Obama aproveitou para subir o tom das críticas. Alvo nos últimos dias de anúncios negativos e denúncias como o "Naftagate", que ajudou em sua derrota em Ohio, segundo sugerem as pesquisas de boca-de-urna, o candidato acusou o golpe. "Não há dúvida de que a senadora foi muito negativa na semana passada e isso deve ter funcionado em alguma medida", disse em San Antonio, no Texas. "Mas as pessoas deveriam questionar melhor seus argumentos."
O senador disse que "80 viagens ao exterior como primeira-dama" não contam exatamente como experiência em política externa e questionou o fato de Hillary ainda não ter tornado pública sua declaração de renda de 2007. "Acho que o povo americano tem direito de saber de onde vem seu dinheiro", afirmou. A campanha de Hillary disse que fará isso depois de 15 de abril.
O bate-boca foi uma prévia do que deve ser o dia-a-dia entre os postulantes do partido de oposição não só até a próxima primária relevante, da Pensilvânia, em 22 de abril, como até a convenção nacional democrata, no final de agosto, em Denver, no Colorado. A indecisão e a temperatura dos ataques preocupam os líderes democratas, que olham em contraste para a situação tranqüila do candidato da situação.
Alguns sugeriram que os chamados superdelegados, 796 membros do partido que votam independentemente da escolha popular e podem decidir a indicação democrata, deveriam ajudar a resolver a questão antes de agosto. A presidente do Congresso, Nancy Pelosi, urgiu que os indecisos entre eles declarem o voto logo. "É a hora de as pessoas se manifestarem."
Analisados os resultados de boca-de-urna em Ohio e no Texas, há três universos em que Hillary Clinton saiu-se muito bem: entre os mais velhos, entre os que decidiram votar na última hora e entre os que estão mais preocupados com a economia. No Texas, além disso, sua vantagem entre os latinos sobre Obama foi de quase 35 pontos percentuais.
Isso sugere que as acusações de que o senador tem um discurso crítico ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) em público e outro mais conservador em privado (o chamado "Naftagate") podem ter pesado ao levar indecisos às urnas e ao fazer os que se preocupam com a economia a votar em Hillary -o acordo é apontado em Ohio como um dos grandes culpados pela alta taxa de desemprego local.


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