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A MORTE DO PAPA
Facções influem mas não fazem o papa
"Novos movimentos" católicos, de tendência conservadora, contam com nomes importantes, mas são minoritários no conclave
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
A extrema simpatia de João
Paulo 2º pelos "novos movimentos" católicos e, ainda mais, à
Opus Dei, introduziu no debate
laico da sucessão papal a suspeita
de que a eleição do santo padre
poderia ser muito influenciada
por conventículos de organizações religiosas conservadoras.
A afeição mútua entre Karol
Wojtyla e Opus Dei, mais antiga
que o pontificado, manifestou-se
nas muitas honrarias e concessões de João Paulo 2º ao movimento fundado por Josemaría Escrivá (1902-1975, feito santo por
Wojtyla em 2002).
Mas tiveram também muito incentivo do papa e da Cúria, a alta
burocracia da Santa Sé, os "novos
movimentos" como Comunhão e
Liberação, Neocatecumenato, Focolare, o braço leigo dos Legionários de Cristo e, mais novo e diferente, a Renovação Carismática.
Os "novos movimentos"
Dos 116 cardeais que devem votar no conclave (o cardeal filipino
Jaime Sin, doente, desistiu ontem), apenas 22 pertencem a ordens religiosas (veja quadro nesta
página). Menos ainda são membros ou talvez adeptos inequívocos daqueles "novos movimentos", pouco mais de uma dúzia.
O que nesses movimentos inspira teorias conspiratórias? Embora religiosa e institucionalmente muito diferentes entre si, são
acusados pelos católicos "progressistas radicais" de criarem
"seitas de direita" na igreja.
De mais comum entre si, os
adeptos dos "novos movimentos", assim como a Opus Dei, venerariam demais a figura carismática de seus fundadores. Seriam exclusivistas e elitistas, como
se apenas o seu modo de encarar a
religião fosse o correto, e dirigidos
à classe média ou ricos, o que
acarreta risco de divisão nas dioceses. São conservadores, tradicionalistas e, por vezes, integristas
(acham que sociedade e Estado
adotem orientações católicas).
Mas qual a sua possível influência na mais de centena de homens
experimentados e complexos como os cardeais votantes?
Alguns dos cardeais, diz um dos
mais reputados vaticanistas da
mídia, Marco Politi, devem desempenhar o papel de "grandes
eleitores". A maioria é da Cúria de
João Paulo 2º, simpática aos "novos movimentos", nada muito
além disso -em geral são só muito conservadores em doutrina.
Dois são liberais inequívocos,
como o italiano Carlo Maria Martini e o alemão Karl Lehman. Mas
o decano dos cardeais e dos grandes eleitores é Joseph Ratzinger, o
guardião da doutrina de Wojtyla,
é grande amigo da Opus Dei.
Mas um cardeal pode ser conservador em doutrina e adepto da
"colegialidade", a descentralização das decisões da igreja. Um outro pode ser ativo na defesa da justiça social e inimigo da esquerda
política laica. São quase incalculáveis as possíveis combinações de
"facções políticas" no conclave, o
que acaba por diluir a influência
dos movimentos conservadores.
Quem é quem
Dois cardeais são membros de
ordem religiosa irmã da Opus
Dei: o peruano Cipriani Thorne, e
o espanhol Julián Herranz.
O "Comunhão e Liberação"
surgiu na Itália, em 1969, a fim de
expandir a fé e a cultura entre estudantes. Conta com simpatia dos
cardeais Jorge Mario Bergoglio,
de Buenos Aires, Dionigi Tettamanzi, de Milão, ambos papáveis,
e do húngaro Peter Erdö.
O tcheco Miloslav Vlk, na lista
de surpresas "papáveis", é simpático aos Focolare, à Comunhão e
Liberação e ao Neocatecumenato,
assim como os americanos James
Stafford e Theodore McCarrick.
O Movimento dos Focolares
("Opera di Maria"), fundado na
Itália na Segunda Guerra e sempre presidido por mulheres, tem
orientação mariana (Maria, mãe
de Jesus, é seu modelo espiritual).
É aberto ao diálogo inter-religioso
(entre cristãos) e ecumênico. Prega ações sociais, mas sem esquerdismo laico, e é "acusado" de ser
de classe média.
Os neocatecumenais, que apareceram nos anos de 1960 em
bairros pobres de Madri, adotam
processos complexos e demorados de formação religiosa, com
vistas a uma renovação do batismo, quase uma reconversão profunda ao catolicismo.
Dois outros papáveis, o mexicano Norberto Rivera Carrera, pastor "social" mas inimigo da esquerda, e o indiano e diplomata
da igreja Ivan Dias são próximos
dos Legionários de Cristo.
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