São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Declínio agrícola cubano trava reforma

Produção em queda e aumento das importações obrigam governo comunista a liberalizar mercado, mas reação é tardia

Metade das cooperativas estatais opera hoje com prejuízo; autoridades incentivam produtividade e rendimento financeiro

MARC FRANK
DA REUTERS, EM HAVANA

O aumento vertiginoso nas importações alimentícias de Cuba e o enfraquecimento de sua produção de açúcar, tabaco, café e frutas cítricas levaram o presidente Raúl Castro a lançar uma reforma abrangente do setor agrícola em março.
O processo decisório no setor, desde o uso da terra até a alocação de verbas, foi transferido do nível nacional para o local; estão sendo abertas lojas em que, pela primeira vez em décadas, os camponeses podem abastecer-se de alguns produtos básicos e, cada vez mais, podem vender sua produção diretamente a consumidores locais e instituições como escolas e hospitais.
Durante anos o país arrendou terras a indivíduos interessados no plantio de café e tabaco, mas os resultados não foram satisfatórios. Agora, ao mesmo tempo em que foram canceladas as restrições à venda de computadores, celulares e estadia em hotéis, mais terra está sendo entregue aos 250 mil agricultores privados comprovados e às 1.100 cooperativas que produzem mais de metade dos alimentos consumidos no país, em apenas 20% das terras exploradas.
As reformas começaram a ser anunciadas a partir do final de fevereiro, quando Raúl Castro sucedeu a seu irmão doente, Fidel, tornando-se o primeiro novo líder em Cuba em 50 anos. Para especialistas locais, elas já chegaram com atraso.
A produção de café hoje é 50% menor que a de 2001, e a previsão é que a produção de tabaco sofra uma queda pequena, depois de manter-se estagnada em cerca de 40 mil toneladas durante anos. A produção de açúcar chegou a pouco mais de 1 milhão de toneladas anuais desde 2004, comparada com 8 milhões de toneladas em 1991.
Hoje Cuba importa cerca de 80% dos alimentos básicos que consome, tais como arroz, leite em pó, feijão e trigo, que são racionados para a população.
Mais de mil cooperativas que exploram terras do governo desde o início dos anos 1990, quando grandes fazendas foram desmembradas, estão se beneficiando das mudanças, também. Entre as novidades figuram a duplicação dos preços pagos por seus produtos.
Cerca de 50% das cooperativas estatais operam com prejuízo. Ao mesmo tempo em que exploram muito mais terra que o setor privado, produzem muito menos que este.
O vice-ministro da Agricultura de Cuba, Alcides Lopez, anunciou no mês passado que as cooperativas estatais receberão mais recursos e terão mais liberdade para decidir o que produzir e onde vender sua produção.
"É a oportunidade pela qual esperávamos: uma atenção local e mais direta das autoridades, e recursos para podermos trabalhar", disse o agricultor Diógenes Fernandez, membro de uma cooperativa estatal.
Segundo a imprensa oficial, as cooperativas de açúcar, tanto públicas quanto privadas, foram informadas no mês passado de que, se conseguirem chegar a rendimentos superiores a 70 toneladas por hectare, poderão produzir o que quiserem nas terras adicionais das quais agora dispõem ou que lhes estão prometidas para o futuro.


Tradução de CLARA ALLAIN


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