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Declínio agrícola cubano trava reforma
Produção em queda e aumento das importações obrigam governo comunista a liberalizar mercado, mas reação é tardia
Metade das cooperativas estatais opera hoje com prejuízo; autoridades incentivam produtividade e rendimento financeiro
MARC FRANK
DA REUTERS, EM HAVANA
O aumento vertiginoso nas
importações alimentícias de
Cuba e o enfraquecimento de
sua produção de açúcar, tabaco,
café e frutas cítricas levaram o
presidente Raúl Castro a lançar
uma reforma abrangente do setor agrícola em março.
O processo decisório no setor, desde o uso da terra até a
alocação de verbas, foi transferido do nível nacional para o local; estão sendo abertas lojas
em que, pela primeira vez em
décadas, os camponeses podem
abastecer-se de alguns produtos básicos e, cada vez mais, podem vender sua produção diretamente a consumidores locais
e instituições como escolas e
hospitais.
Durante anos o país arrendou terras a indivíduos interessados no plantio de café e tabaco, mas os resultados não foram satisfatórios.
Agora, ao mesmo tempo em
que foram canceladas as restrições à venda de computadores,
celulares e estadia em hotéis,
mais terra está sendo entregue
aos 250 mil agricultores privados comprovados e às 1.100
cooperativas que produzem
mais de metade dos alimentos
consumidos no país, em apenas
20% das terras exploradas.
As reformas começaram a ser
anunciadas a partir do final de
fevereiro, quando Raúl Castro
sucedeu a seu irmão doente, Fidel, tornando-se o primeiro novo líder em Cuba em 50 anos.
Para especialistas locais, elas já
chegaram com atraso.
A produção de café hoje é
50% menor que a de 2001, e a
previsão é que a produção de
tabaco sofra uma queda pequena, depois de manter-se estagnada em cerca de 40 mil toneladas durante anos.
A produção de açúcar chegou
a pouco mais de 1 milhão de toneladas anuais desde 2004,
comparada com 8 milhões de
toneladas em 1991.
Hoje Cuba importa cerca de
80% dos alimentos básicos que
consome, tais como arroz, leite
em pó, feijão e trigo, que são racionados para a população.
Mais de mil cooperativas que
exploram terras do governo
desde o início dos anos 1990,
quando grandes fazendas foram desmembradas, estão se
beneficiando das mudanças,
também. Entre as novidades figuram a duplicação dos preços
pagos por seus produtos.
Cerca de 50% das cooperativas estatais operam com prejuízo. Ao mesmo tempo em que
exploram muito mais terra que
o setor privado, produzem
muito menos que este.
O vice-ministro da Agricultura de Cuba, Alcides Lopez,
anunciou no mês passado que
as cooperativas estatais receberão mais recursos e terão mais
liberdade para decidir o que
produzir e onde vender sua
produção.
"É a oportunidade pela qual
esperávamos: uma atenção local e mais direta das autoridades, e recursos para podermos
trabalhar", disse o agricultor
Diógenes Fernandez, membro
de uma cooperativa estatal.
Segundo a imprensa oficial,
as cooperativas de açúcar, tanto públicas quanto privadas, foram informadas no mês passado de que, se conseguirem chegar a rendimentos superiores a
70 toneladas por hectare, poderão produzir o que quiserem
nas terras adicionais das quais
agora dispõem ou que lhes estão prometidas para o futuro.
Tradução de CLARA ALLAIN
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