São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2010

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Morte de líder racista chega à Justiça

Homem de 28 anos e adolescente de 15, que teriam matado fazendeiro por questões salariais, aparecem ante corte

Apesar de não ter motivações raciais aparentes, caso vem reacendendo tensões étnicas na África do Sul, em meio a série de disputas judiciais

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

Os dois suspeitos de terem matado o líder radical branco sul-africano Eugene Terreblanche devem aparecer hoje na corte de Ventersdorp (110 km de Johannesburgo), sob forte esquema de segurança.
Ainda não identificados, um homem de 28 anos e um adolescente de 15 teriam confessado que mataram Terreblanche, no sábado, porque ele se recusou a pagar pelos serviços prestados em sua fazenda.
Ontem, a mãe do garoto afirmou, em entrevista à agência Associated Press, que ele disse que ele e o outro homem mataram o líder branco com sete golpes de uma barra de ferro.
Segundo as primeiras pessoas a chegarem ao local do crime, o rosto da vítima estava irreconhecível. Havia poças de sangue em cima da cama.
Terreblanche era o líder do Movimento de Resistência Africâner (AWB, nas iniciais no original), uma facção radical da minoria branca. Nos anos 90, o AWB aterrorizou favelas negras, mas atualmente a organização, que se inspira no nazismo, tem influência residual.
A grande maioria dos brancos, que são 10% dos 50 milhões de sul-africanos, rejeita a ideia de criar um país apenas para os africâners, descendentes de colonizadores holandeses do século 17. Mesmo assim, a morte violenta de Terreblanche traz preocupação por vir num momento delicado.
Há duas semanas, organizações brancas obtiveram na Justiça decisão que proíbe que líderes do Congresso Nacional Africano, o partido do governo, entoem uma canção cujo refrão diz "atire no bôer" -o termo designa fazendeiros africâners.
Outras disputas judiciais pretendem proibir que cidades com referências à cultura e história africâner tenham o nome trocado. A começar pela própria capital, Pretória, referência a um líder militar do século 19, Andries Pretorius.
Existe ainda um desconforto de grande parcela dos brancos com as políticas de ação afirmativa, que privilegiam companhias que empregam negros em contratos com o governo.
O tema da pobreza branca começa a aparecer com destaque em relatórios socioeconômicos, e há duas semanas o presidente Jacob Zuma fez questão de demonstrar preocupação, ao visitar uma dessas comunidades carentes.
Zuma tem pedido calma desde o assassinato e ontem obteve uma pequena vitória quando um porta-voz do AWB recuou numa ameaça que fizera de "guerra total" aos negros.


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