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Morte de líder racista chega à Justiça
Homem de 28 anos e adolescente de 15, que teriam matado fazendeiro por questões salariais, aparecem ante corte
Apesar de não ter motivações raciais aparentes, caso vem reacendendo tensões étnicas na África do Sul, em meio a série de disputas judiciais
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Os dois suspeitos de terem
matado o líder radical branco
sul-africano Eugene Terreblanche devem aparecer hoje
na corte de Ventersdorp (110
km de Johannesburgo), sob
forte esquema de segurança.
Ainda não identificados, um
homem de 28 anos e um adolescente de 15 teriam confessado que mataram Terreblanche,
no sábado, porque ele se recusou a pagar pelos serviços prestados em sua fazenda.
Ontem, a mãe do garoto afirmou, em entrevista à agência
Associated Press, que ele disse
que ele e o outro homem mataram o líder branco com sete
golpes de uma barra de ferro.
Segundo as primeiras pessoas a chegarem ao local do crime, o rosto da vítima estava irreconhecível. Havia poças de
sangue em cima da cama.
Terreblanche era o líder do
Movimento de Resistência
Africâner (AWB, nas iniciais no
original), uma facção radical da
minoria branca. Nos anos 90, o
AWB aterrorizou favelas negras, mas atualmente a organização, que se inspira no nazismo, tem influência residual.
A grande maioria dos brancos, que são 10% dos 50 milhões de sul-africanos, rejeita a
ideia de criar um país apenas
para os africâners, descendentes de colonizadores holandeses do século 17. Mesmo assim,
a morte violenta de Terreblanche traz preocupação por vir
num momento delicado.
Há duas semanas, organizações brancas obtiveram na Justiça decisão que proíbe que líderes do Congresso Nacional
Africano, o partido do governo,
entoem uma canção cujo refrão
diz "atire no bôer" -o termo
designa fazendeiros africâners.
Outras disputas judiciais
pretendem proibir que cidades
com referências à cultura e história africâner tenham o nome
trocado. A começar pela própria capital, Pretória, referência a um líder militar do século
19, Andries Pretorius.
Existe ainda um desconforto
de grande parcela dos brancos
com as políticas de ação afirmativa, que privilegiam companhias que empregam negros
em contratos com o governo.
O tema da pobreza branca
começa a aparecer com destaque em relatórios socioeconômicos, e há duas semanas o presidente Jacob Zuma fez questão de demonstrar preocupação, ao visitar uma dessas comunidades carentes.
Zuma tem pedido calma desde o assassinato e ontem obteve uma pequena vitória quando
um porta-voz do AWB recuou
numa ameaça que fizera de
"guerra total" aos negros.
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