São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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"EIXO DO MAL"

Chanceler esfria campanha dos EUA por sanções afirmando que só AIEA pode avaliar programa nuclear do país

Rússia reluta em considerar Irã ameaça

DA REDAÇÃO

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse ontem que seu governo ainda não pode afirmar que o programa nuclear iraniano constitui uma ameaça -referência ao suposto projeto de construção de uma bomba atômica- e que apenas tomará uma decisão com base em informações fornecidas pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU.
Lavrov respondia a declarações do chefe da diplomacia iraniana, Manouchehr Mottaki, para quem a Rússia e a China, dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, haviam-lhe dado garantias de que se oporiam a sanções ou a uma intervenção militar contra seu país.
"Não fizemos tal afirmação", disse Lavrov. A seu ver, "em se tratando de algo tão sério e importante como a proliferação nuclear, só poderemos tomar decisões com base na opinião de especialistas". Segundo o ministro, "as inspeções que foram feitas no Irã não nos permite concluir que aquele país possui a tecnologia necessária para produzir armas de destruição em massa".
Mas, ao mesmo tempo, também disse, "essas inspeções tampouco nos deixam tirar uma conclusão em sentido oposto".
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França, os outros membros permanentes do Conselho de Segurança, já elaboraram um projeto de resolução em que exortam o Irã a abandonar suas "ambições nucleares".
Reunidos nesta semana em Paris, os cinco países, aos quais se juntou a Alemanha, não conseguiram chegar a um acordo sobre a redação que a resolução teria. A Rússia e a China se opõem a sanções econômicas, por acreditarem que no atual estágio elas seriam contraproducentes. Russos e chineses também têm pesados interesses econômicos no Irã.
O embaixador iraniano na ONU, Javad Zarif, disse que o projeto de resolução dos ocidentais era "lamentável", porque demonstra a intenção "de criar uma crise num momento em que essa crise não é necessária".
Enquanto isso, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, voltou ontem a afirmar que seu país manteria os planos de enriquecer urânio em escala industrial, para não depender de combustível de terceiros para suas centrais termonucleares.
Ahmadinejad disse que seus adversários estão engajados numa "guerra psicológica" e reafirmou que o Irã não abriria mão do propósito de utilizar o átomo com finalidades civis e pacíficas.
Participando de uma conferência em Baku, capital do Azerbaijão, ele disse ainda que seu programa nuclear não contrariava as leis internacionais e estava aberto a inspeções.
A questão é, no entanto, mais controvertida. A AIEA acusou o Irã de ter desencadeado clandestinamente seu programa para o enriquecimento de urânio e afirmou, em seu último relatório, que há questões técnicas importantes que o governo iraniano continua a não responder.
Os Estados Unidos temem que uma bomba atômica iraniana desestabilize o Oriente Médio e se torne uma ameaça contra Israel.
Os termos conciliadores que o presidente iraniano empregou em Baku contrastam com a agressividade de um influente clérigo xiita, Ahmad Khatami. "Aqueles que nos confrontarem o lamentarão para sempre", afirmou.
A crise tem se acelerado desde o início do ano, quando instalações nucleares iranianas voltaram a produzir combustível nuclear. A agência da ONU pediu para que essa produção fosse interrompida. O ultimato venceu no final de abril. Diante de um comportamento em sentido oposto ao exigido, a AIEA encaminhou o caso ao Conselho de Segurança.


Com agências internacionais


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