São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Sarkozy pretende guinada liberal, com Estado menor

Propostas do candidato estão mais distantes das políticas de Chirac, também um conservador, do que as de Ségolène

Ex-ministro do Interior quer reduzir imposto de renda, aumentar jornada de trabalho e reduzir para 16 anos maioridade penal

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal representam dois projetos de sociedade, bem mais matizados e menos radicais que em presidenciais do passado, como a de 1981, quando o candidato socialista vitorioso, François Mitterrand, implantou um programa de estatizações e de controle público da economia.
A possível eleição de Sarkozy representa uma ruptura de conteúdo liberal, não apenas se comparada às propostas de sua adversária de esquerda, mas sobretudo com políticas aplicadas por Chirac -apesar de os dois pertencerem ao mesmo partido, a UMP (União por um Movimento Popular).
Ambicioso, designado por seus adversários como um perigoso e autoritário alpinista social, Nicolas Sarkozy prometeu, embora em termos mais amenos, aliviar o peso regulamentador do Estado e favorecer o individualismo na economia. Sarkozy quer instituir no campo da habitação uma "República de proprietários", ao contrário de Ségolène, que prometeu investir maciçamente em moradias populares, alugadas à população de baixa renda.
Para ascender à propriedade, fundos de financiamento a juros simbólicos beneficiariam mais a classe média e menos os 2,5 milhões de franceses e imigrantes mais pobres.
Na área fiscal, Sarkozy pretende baixar de 60% para 50% a alíquota máxima do Imposto de Renda e suprimir o imposto sobre a sucessão. A seu ver, uma das razões pelas quais a França cresce pouco está no fato de os assalariados produzirem menos em razão de uma baixa carga horária.
O regime semanal de 35 horas, implantado em 1998 por um governo de esquerda, seria mantido, mas sem que as horas extras sejam objeto de encargos ou tributos. Um estímulo, em suma, para "que se trabalhe mais", embora a esquerda argumente que isso desestimularia novas contratações.
Em termos trabalhistas, o candidato de centro-direita pretende limitar o direito de greve no setor público -implantando a obrigação de um serviço mínimo no setor de transportes, por exemplo- e excluir os sindicatos da discussão de projetos sociais. No campo da segurança pública, quer baixar a maioridade penal de 18 para 16 anos e fixar uma pena mínima para réus reincidentes.
Quanto aos imigrantes, Sarkozy quer uma política "seletiva", destinada a estimular o ingresso de estrangeiros altamente qualificados. Será dificultada o ingresso de cônjuges, filhos e pais dos atuais imigrantes, enquanto -ao contrário do que defende Ségolène, que prevê o direito à nacionalidade depois de dez anos no país- os direitos políticos dessa população continuariam nulos.
Os desempregados continuarão a receber pensão, mas ela será cortada caso o beneficiado recuse três ofertas sucessivas de emprego. No sistema público de educação, por fim, Sarkozy quer a reintrodução da avaliação do comportamento do aluno e o ensino obrigatório de civismo.


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