|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sarkozy pretende guinada liberal, com Estado menor
Propostas do candidato estão mais distantes das políticas de Chirac, também um conservador, do que as de Ségolène
Ex-ministro do Interior quer reduzir imposto de renda, aumentar jornada de trabalho e reduzir para 16 anos maioridade penal
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Nicolas Sarkozy e Ségolène
Royal representam dois projetos de sociedade, bem mais matizados e menos radicais que
em presidenciais do passado,
como a de 1981, quando o candidato socialista vitorioso,
François Mitterrand, implantou um programa de estatizações e de controle público da
economia.
A possível eleição de Sarkozy
representa uma ruptura de
conteúdo liberal, não apenas se
comparada às propostas de sua
adversária de esquerda, mas sobretudo com políticas aplicadas por Chirac -apesar de os
dois pertencerem ao mesmo
partido, a UMP (União por um
Movimento Popular).
Ambicioso, designado por
seus adversários como um perigoso e autoritário alpinista
social, Nicolas Sarkozy prometeu, embora em termos mais
amenos, aliviar o peso regulamentador do Estado e favorecer o individualismo na economia. Sarkozy quer instituir no
campo da habitação uma "República de proprietários", ao
contrário de Ségolène, que prometeu investir maciçamente
em moradias populares, alugadas à população de baixa renda.
Para ascender à propriedade,
fundos de financiamento a juros simbólicos beneficiariam
mais a classe média e menos os
2,5 milhões de franceses e imigrantes mais pobres.
Na área fiscal, Sarkozy pretende baixar de 60% para 50%
a alíquota máxima do Imposto
de Renda e suprimir o imposto
sobre a sucessão. A seu ver,
uma das razões pelas quais a
França cresce pouco está no fato de os assalariados produzirem menos em razão de uma
baixa carga horária.
O regime semanal de 35 horas, implantado em 1998 por
um governo de esquerda, seria
mantido, mas sem que as horas
extras sejam objeto de encargos ou tributos. Um estímulo,
em suma, para "que se trabalhe
mais", embora a esquerda argumente que isso desestimularia
novas contratações.
Em termos trabalhistas, o
candidato de centro-direita
pretende limitar o direito de
greve no setor público -implantando a obrigação de um
serviço mínimo no setor de
transportes, por exemplo- e
excluir os sindicatos da discussão de projetos sociais. No campo da segurança pública, quer
baixar a maioridade penal de 18
para 16 anos e fixar uma pena
mínima para réus reincidentes.
Quanto aos imigrantes, Sarkozy quer uma política "seletiva", destinada a estimular o ingresso de estrangeiros altamente qualificados. Será dificultada o ingresso de cônjuges,
filhos e pais dos atuais imigrantes, enquanto -ao contrário do
que defende Ségolène, que prevê o direito à nacionalidade depois de dez anos no país- os direitos políticos dessa população continuariam nulos.
Os desempregados continuarão a receber pensão, mas ela
será cortada caso o beneficiado
recuse três ofertas sucessivas
de emprego. No sistema público de educação, por fim, Sarkozy quer a reintrodução da
avaliação do comportamento
do aluno e o ensino obrigatório
de civismo.
Texto Anterior: França, polarizada, define presidente hoje Próximo Texto: Frases Índice
|