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Em Paris, debate sobre eleição está em cafés e metrô
DO ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Um grupo de quatro trabalhadores na construção
civil entrou um pouco antes do meio-dia de sexta
num bar chamado "À
L'Angle" (na esquina), no
8º distrito de Paris. Todos
pediram cafezinho.
"Assim não dá. Vocês viram o documentário da
TF1 sobre aquele desempregado que recebe pensões há 22 anos e nunca
trabalhou na vida dele?"
A discussão só estava começando. Quem puxou a
conversa era eleitor de Nicolas Sarkozy. Outro companheiro de trabalho tinha a mesma opinião. Só
um terceiro, eleitor de Ségolène Royal, insistia que,
se há abusos, a candidata
socialista corrigiria, e que
a eliminação do seguro-desemprego colocaria
muita gente na miséria.
Foi um dos inúmeros e
discretos episódios que fazem da sucessão do presidente Jacques Chirac um
assunto público de paixões. Dez minutos depois,
já dentro de um vagão do
metrô, entre as estações
Concorde e Châtelet, 12
passageiros estavam sentados nos bancos posteriores. Três liam livros. E
quatro estavam com jornais abertos nas páginas
de política interna, com
reportagens sobre a disputa eleitoral.
Gosto pelo trabalho
Alain, 50, é balconista de
um bistrô próximo à praça
da Bastilha. Votará em
Sarkozy, porque "é preciso
que a França volte a tomar
gosto pelo trabalho". Argumenta que só assim ela
se recuperará do atraso
com relação aos demais
países da União Européia
e desestimulará o assistencialismo dos que se beneficiam de pensões do
Estado.
Nicolas, 48, é pequeno
empresário. Tem uma
consultoria de produtos
farmacêuticos. "Voto em
Sarkozy porque com ele a
minha empresa ficará
mais protegida." Diz saber
que Ségolène não é contra
os empresários ou contra
o capitalismo. Mas afirma
que, dentro das opções, "as
duas social-democratas",
o candidato conservador é
mesmo assim o melhor.
Christine, 45, caixa de
um supermercado, vota
em Ségolène Royal. "O
programa dela é o melhor
para quem ganha menos e
quer subir na vida."
Sangue frio
Ao seu lado, uma colega
sua de trabalho, Isabelle,
48, discorda com um sorriso debochado. "Ela não
tem a maturidade emocional e o sangue frio para ser
presidente. Perdeu o controle de si mesma no debate contra Sarkozy de quarta-feira." Ela vai de Nicolas Sarkozy, opção eleitoral que já era a sua desde o
primeiro turno.
Arlette, 61, é consultora
do departamento de prevenção aos acidentes rodoviários. E eleitora de Ségolène, "porque não há
melhor opção".
Qualifica a candidata de
superficial e pouco sincera. Mas votará nela porque
é a representante socialista na disputa à Presidência. Sylvain, 24, é estudante e auxiliar de escritório
de uma revendedora de
cosméticos. Votou no primeiro turno em François
Bayrou, candidato que se
apresentou como de centro e ficou em terceiro lugar. "Eu não gosto muito
dessas polarizações." E
agora está indeciso.
Ao seu lado, Martine, 43.
Como o voto é facultativo
e ela não gosta de política,
acabou mais uma vez não
se inscrevendo nas listas
eleitorais.
(JBN)
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