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Ex-PC italiano chega à última estação
Com a decisão de unir-se à centro-esquerda cristã, partido põe de lado últimos símbolos pré-queda do Muro de Berlim
Mudança de nomenclatura e programa é a terceira desde 1989; sucessão de dissidências deu origem
a agremiações menores
JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "MONDE", EM ROMA
O martelo e a foice estão há
tempo abandonados na loja de
acessórios do antigo Partido
Comunista Italiano (PCI), recobertos de pó. No congresso
dos Democratas de Esquerda
(DS) que aconteceu em Florença entre 19 e 21 de abril, os herdeiros de Antonio Gramsci e
Enrico Berlinguer colocaram
na prateleira de recordações
também a bandeira vermelha e
a "Internacional". A decoração
do ginásio de esportes que abrigou os 1.500 delegados do DS
foi dominada pelo laranja, a cor
das revoluções de hoje.
Com esta mais recente troca
de pele, não sobrou mais rastro
nenhum do passado comunista, nem nos símbolos, nem nas
palavras. Ao votar por sua dissolução e sua fusão com a Margarida, movimento de inspiração democrata-cristã, os Democratas de Esquerda, de acordo com a opinião unânime da
imprensa italiana, "assinaram
o encerramento definitivo da
experiência história inaugurada em 1921 em Livorno". Foi ali
que nasceu o PCI, fruto de uma
cisão do Partido Socialista.
Eurocomunismo
Dirigido primeiramente por
Amadeo Bordiga e depois por
Antonio Gramsci, o novo partido foi proibido em 1926 pelo regime fascista. Ele renasceu em
15 de maio de 1943, e Palmiro
Togliatti, seu líder clandestino
desde 1927, continuou à sua
frente até sua morte, em 1964.
A partir de 1956, com os acontecimentos na Hungria, o PCI
inaugurou "uma via italiana para o socialismo". Eleito secretário em 1972, Enrico Berlinguer
adotou a linha "eurocomunista", que, em 1981, conduziu à
ruptura com Moscou.
Essa época marcou o apogeu
do PCI: nas eleições legislativas
de 1976, o partido obteve 34,4%
dos votos. A Itália era compartilhada -mais do que dividida- entre esse peso pesado e
seu contrapeso de centro-direita, a Democracia Cristã (DC).
Para muitos observadores, os
pós-comunistas de 2007 e os
herdeiros da DC estão realizando neste momento o famoso
"compromisso histórico" entre
as duas culturas políticas italianas com o qual sonharam Enrico Berlinguer e Aldo Moro, pelo
qual esse último pagou com a
vida, em 1978, assassinado pelas Brigadas Vermelhas.
"Aquilo foi uma tragédia; hoje, vivemos uma farsa que se
anuncia pior que uma tragédia", escreveu o "Il Manifesto",
jornal de esquerda que continua a acrescentar a seu título a
menção "diário comunista".
Em 12 de novembro de 1989,
alguns dias após a queda do
Muro de Berlim, Achille Occhetto, então secretário do partido, anunciou o começo do fim
do PCI, que em 1991 seria
transformado no Partido dos
Democratas de Esquerda
(PDS). Seu símbolo era o carvalho, mas, num canto, ainda resistia a bandeira vermelha com
a estrela, a foice e o martelo.
Do PDS aos DS
Apesar do sucesso da esquerda nas eleições legislativas de
1996, o PDS não sobreviveu à
crise do governo Prodi. Os DS
nasceram em 1998 sob a direção de Walter Veltroni, prefeito
de Roma e favorito para a direção do futuro Partido Democrata. Em 2007, porém, os "dinossauros" comunistas cedem
lugar, sob a égide do carvalho,
ao cravo socialista e às estrelas
da União Européia.
Convidado ao congresso dos
DS, Silvio Berlusconi aplaudiu
o discurso do secretário Piero
Fassino: "Se o Partido Democrata é isso, estou 95% disposto
a me filiar a ele também", exclamou. Fassino evocou a "necessidade histórica" de uma evolução "para aqueles de nossos filhos que não conheceram pagamentos que não fossem em euros e que talvez não tivessem
nascido quando o muro caiu".
Houve choros e abraços, como a cada ruptura na família
comunista, quando Fabio Mussi, líder de uma corrente que representa cerca de 15% dos militantes, constatou "a falência
política do desafio nascido com
o fim do PCI".
Placa na fachada
Em 1991, a maioria do PCI
optou pela secessão para criar o
Partido da Refundação Comunista (PRC). Com o Partido dos
Comunistas Italianos (PDCI),
nascido de uma cisão posterior,
o voto comunista ainda pesou
mais de 10% nas eleições legislativas de 2006. O PCR já propôs um "reagrupamento familiar" com base no antiliberalismo, o pacifismo e o laicismo.
No centro de Roma, na fachada da seção dos Democratas de
Esquerda, há duas placas. Há
preparativos para trocar a dos
DS pela do PD. Mas não se cogita em desprender a outra, que
indica "PCI, seção Regola Campitella", com a foice e o martelo
gravados na pedra. É uma lembrança do passado.
Tradução de CLARA ALLAIN
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