São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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ARTIGO

Choque de Bush e Congresso evoca Vietnã

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Autor de "É o Iraque Outro Vietnã?" o professor de história Robert Brighman lembra que foram as audiências no Senado americano que acabaram por destruir o que ainda existia de apoio popular à guerra. William Fullbright, condutor das investigações parlamentares sobre como o ex-presidente Lyndon Johnson fizera do Vietnã um pesadelo, tornou-se figura lendária. Denunciou em livro, conferências e discursos a "arrogância do poder americano", como raiz de tragédias do tipo vietnamita. Em sua versão iraquiana, a insurgência se mostrou em condições de atacar o coração do poder, o Parlamento, além de matar a granel.
Comparações entre Vietnã e Iraque rechearam os discursos que resultaram nas resoluções parlamentares vinculando verbas de guerra à retirada das tropas americanas do Iraque. O "Washington Post" há algum tempo manifestou o receio de uma saída desordenada, como a de Saigon em 1975, imagem de derrota atroz da maior potência militar do mundo. Gordon Brown, a ponto de ser coroado sucessor de Tony Blair, garantiu que com ele a Inglaterra só entrará em guerras com autorização do Parlamento.
Já Bush diz que ir ou não ir à guerra é prerrogativa presidencial. "Não nos deterão", reagiu o vice-presidente Dick Cheney, um superfalcão. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, chamada de "mandona" por Bush, esteve inclusive na Síria, do "eixo do mal", com agenda própria. Cheney andou por baixo como um dos arquitetos de uma guerra falida e brutal, além de sentenças judiciais graves contra um ex-chefe de seu gabinete. Não ficou de fora, no entanto. Há informações de que mantém regularmente seus encontros a dois com Bush. Papo de linha dura, com toda certeza.
O presidente e seu vice jogam com a convicção de que o Congresso, embora declare guerras, não tem poderes para encerrá-las. O professor Brigham não concorda e tem suas razões. O Congresso, insatisfeito com as protelações da Casa Branca no caso vietnamita, retomou as audiências em 1973 e um acordo de paz acabou sendo assinado nesse ano. Embora impopular a guerra se arrastou durante anos, matando milhares desnecessariamente. Foi aprovado o "War Powers Act", regulando os poderes de guerra. Os envios de tropas ao exterior devem ser comunicados ao Congresso com 48 horas de antecedência. Volta em 60 dias se não houver endosso parlamentar. Essa lei pode estar esquecido. Mas continua vigente.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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