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ARTIGO
Choque de Bush e Congresso evoca Vietnã
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Autor de "É o Iraque Outro
Vietnã?" o professor de história
Robert Brighman lembra que
foram as audiências no Senado
americano que acabaram por
destruir o que ainda existia de
apoio popular à guerra. William
Fullbright, condutor das investigações parlamentares sobre
como o ex-presidente Lyndon
Johnson fizera do Vietnã um
pesadelo, tornou-se figura lendária. Denunciou em livro, conferências e discursos a "arrogância do poder americano",
como raiz de tragédias do tipo
vietnamita. Em sua versão iraquiana, a insurgência se mostrou em condições de atacar o
coração do poder, o Parlamento, além de matar a granel.
Comparações entre Vietnã e
Iraque rechearam os discursos
que resultaram nas resoluções
parlamentares vinculando verbas de guerra à retirada das tropas americanas do Iraque. O
"Washington Post" há algum
tempo manifestou o receio de
uma saída desordenada, como a
de Saigon em 1975, imagem de
derrota atroz da maior potência militar do mundo. Gordon
Brown, a ponto de ser coroado
sucessor de Tony Blair, garantiu que com ele a Inglaterra só
entrará em guerras com autorização do Parlamento.
Já Bush diz que ir ou não ir à
guerra é prerrogativa presidencial. "Não nos deterão", reagiu
o vice-presidente Dick Cheney,
um superfalcão. Nancy Pelosi,
presidente da Câmara dos Deputados, chamada de "mandona" por Bush, esteve inclusive
na Síria, do "eixo do mal", com
agenda própria. Cheney andou
por baixo como um dos arquitetos de uma guerra falida e
brutal, além de sentenças judiciais graves contra um ex-chefe
de seu gabinete. Não ficou de
fora, no entanto. Há informações de que mantém regularmente seus encontros a dois
com Bush. Papo de linha dura,
com toda certeza.
O presidente e seu vice jogam
com a convicção de que o Congresso, embora declare guerras,
não tem poderes para encerrá-las. O professor Brigham não
concorda e tem suas razões. O
Congresso, insatisfeito com as
protelações da Casa Branca no
caso vietnamita, retomou as
audiências em 1973 e um acordo de paz acabou sendo assinado nesse ano. Embora impopular a guerra se arrastou durante
anos, matando milhares desnecessariamente. Foi aprovado o
"War Powers Act", regulando
os poderes de guerra. Os envios
de tropas ao exterior devem ser
comunicados ao Congresso
com 48 horas de antecedência.
Volta em 60 dias se não houver
endosso parlamentar. Essa lei
pode estar esquecido. Mas continua vigente.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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