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Brasil ainda participa como um "outsider"
DO ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA
Não deixa de ser um símbolo,
ainda que no detalhe: a cidade
de Kühlungsborn, na qual foi
montado o centro de mídia para a cúpula do G8, mandou fazer elegantes cadeiras de praia,
com assento duplo, cobertura
de plástico e bandeiras dos países participantes. Só os oito do
grupo. Nada de Brasil, Índia,
China, África do Sul ou México,
o "outreach", o grupo externo
convidado para a cúpula deste
ano (e para três das quatro anteriores).
É um sinal de que esse grupo,
ainda que tenha crescente participação global, continua tão
"out" que ainda não entrou na
cultura do mundo rico como
participante de pleno direito.
Neste ano, a Alemanha até
que deu tratamento diferente
ao grupo, na forma de um "diálogo expandido" pelo qual os
"externos" participaram de discussões preparatórias para a
cúpula. Agora, a forma de diálogo mudou. Passará a ser "diálogo estruturado", ou seja, o Brasil, como seus parceiros do "outreach", terá direito a ser ouvido plenamente. Nas quatro cúpulas anteriores de que participou, seu representante (foi
sempre Luiz Inácio Lula da Silva) entrava no último dia, falava o que queria, mas todo o pacote já havia sido discutido e finalizado antes pelos membros
permanentes do G8.
Para Heiligendamm, repetiu-se o esquema, mas o G5 teve
direito a discutir um segundo
documento final, a ser assinado
pela presidência do G8 e pelos
cinco. Mas nada que interferisse no documento principal.
De todo modo, o "diálogo estruturado" tem um horizonte
de dois anos, o que significa que
o Brasil será de novo convidado
para as cúpulas do Japão
(2008) e Itália (2009).
Poderia até ter carteirinha de
membro pleno do clube se aceitasse o âmbito de negociação
proposto pelo G8, que é a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico, o clube dos 30 países supostamente mais ricos do
mundo). O Brasil é um dos 30,
mas até agora não se interessou
em ser membro da OCDE. O secretário-geral do clube queria
convidá-lo já neste ano, mas o
Brasil esnobou.
De todo modo, a participação
brasileira na agenda global tende a crescer, com a prioridade
dada ao tema ambiental. Amanhã mesmo, Lula recebe, na
embaixada do Brasil em Berlim, o secretário-geral da ONU,
o sul-coreano Ban Ki-moon,
que vai convidá-lo para o jantar
na véspera da Assembléia Geral
de setembro, no qual será discutido o aquecimento global.
Lula será um dos 15 convidados, com o que o fato de a bandeira do Brasil não queimar ao
sol tímido do Báltico neste fim
de primavera será compensado
no verão em Nova York.
(CR)
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