São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Brasil ainda participa como um "outsider"

DO ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

Não deixa de ser um símbolo, ainda que no detalhe: a cidade de Kühlungsborn, na qual foi montado o centro de mídia para a cúpula do G8, mandou fazer elegantes cadeiras de praia, com assento duplo, cobertura de plástico e bandeiras dos países participantes. Só os oito do grupo. Nada de Brasil, Índia, China, África do Sul ou México, o "outreach", o grupo externo convidado para a cúpula deste ano (e para três das quatro anteriores).
É um sinal de que esse grupo, ainda que tenha crescente participação global, continua tão "out" que ainda não entrou na cultura do mundo rico como participante de pleno direito.
Neste ano, a Alemanha até que deu tratamento diferente ao grupo, na forma de um "diálogo expandido" pelo qual os "externos" participaram de discussões preparatórias para a cúpula. Agora, a forma de diálogo mudou. Passará a ser "diálogo estruturado", ou seja, o Brasil, como seus parceiros do "outreach", terá direito a ser ouvido plenamente. Nas quatro cúpulas anteriores de que participou, seu representante (foi sempre Luiz Inácio Lula da Silva) entrava no último dia, falava o que queria, mas todo o pacote já havia sido discutido e finalizado antes pelos membros permanentes do G8.
Para Heiligendamm, repetiu-se o esquema, mas o G5 teve direito a discutir um segundo documento final, a ser assinado pela presidência do G8 e pelos cinco. Mas nada que interferisse no documento principal.
De todo modo, o "diálogo estruturado" tem um horizonte de dois anos, o que significa que o Brasil será de novo convidado para as cúpulas do Japão (2008) e Itália (2009).
Poderia até ter carteirinha de membro pleno do clube se aceitasse o âmbito de negociação proposto pelo G8, que é a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clube dos 30 países supostamente mais ricos do mundo). O Brasil é um dos 30, mas até agora não se interessou em ser membro da OCDE. O secretário-geral do clube queria convidá-lo já neste ano, mas o Brasil esnobou.
De todo modo, a participação brasileira na agenda global tende a crescer, com a prioridade dada ao tema ambiental. Amanhã mesmo, Lula recebe, na embaixada do Brasil em Berlim, o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, que vai convidá-lo para o jantar na véspera da Assembléia Geral de setembro, no qual será discutido o aquecimento global.
Lula será um dos 15 convidados, com o que o fato de a bandeira do Brasil não queimar ao sol tímido do Báltico neste fim de primavera será compensado no verão em Nova York. (CR)


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