São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Após trégua, ETA anuncia retomada da luta armada

Retorno do grupo terrorista basco era esperado desde atentado em dezembro

Declaração marca derrota política do premiê Zapatero, socialista que fez da paz com o grupo seu projeto político mais ambicioso

CARLOS IAVELBERG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grupo separatista basco ETA (sigla para as iniciais em basco de Pátria Basca e Liberdade) anunciou ontem oficialmente o fim do cessar-fogo permanente estabelecido em março de 2006 e a retomada da luta armada em busca da "construção de um Estado livre".
De acordo com um comunicado publicado em euskera (idioma basco) nas versões online dos jornais "Garra" e "Berria", os terroristas culpam o governo espanhol pelo fracasso das negociações do processo de paz e qualificam o primeiro-ministro do país, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, de "fascista".
Essa não é a primeira vez que o grupo põe fim a uma trégua. Ao longo das décadas de 80 e 90 o ETA suspendeu seus ataques terroristas em pelo menos cinco ocasiões. A mais longa começou em setembro de 1998 e terminou 14 meses depois.
Embora o atual fim do cessar-fogo já fosse considerado certo por governo e sociedade desde dezembro do ano passado -quando o grupo terrorista explodiu parte do estacionamento do aeroporto de Madri, matando dois equatorianos-, o ETA informou que a trégua estaria suspensa a partir da 0h desta quarta-feira (19h de ontem no horário de Brasília). "Renovamos nossa decisão de defender com armas o povo que é agredido com as armas", afirmou o grupo no comunicado.
Desde o atentado de dezembro, a polícia vinha apertando o cerco contra o ETA. Recentemente realizou diversas prisões de supostos integrantes e desmantelou algumas células terroristas. A situação ficou ainda mais tensa depois que a Justiça espanhola vetou a participação do Batasuna (braço político do ETA) nas eleições municipais no final de maio.
Nos últimos dias, os serviços espanhóis de combate ao terrorismo alertaram o governo que o ETA estava se preparando para cometer novos atentados. O grupo também tinha voltado a enviar cartas para extorquir dinheiro de empresários da região para financiar suas ações.
A organização apontada como responsável pela morte de cerca de 800 pessoas, entre elas políticos, foi fundada em 1959, com o objetivo de criar um Estado independente e socialista, formado pelas regiões basca espanhola e francesa.

Derrota de Zapatero
Apesar de há muito esperado, o fim do cessar-fogo é considerado uma derrota pessoal do primeiro-ministro Zapatero, que tinha feito do processo de paz seu projeto político mais ambicioso. A Espanha segue sendo o único país da Europa ocidental que possui um grupo terrorista em atividade.
Ontem, em um pronunciamento oficial, Zapatero afirmou que o ETA voltou a se equivocar e pediu o respaldo unânime de todos os partidos políticos. Poucas horas depois, o líder da oposição, o conservador Mariano Rajoy, presidente do Partido Popular, disse que a fala do premiê não havia sido clara e pediu ao governo a promessa de nunca mais negociar com terroristas.
Considerado por alguns o único governante realmente de esquerda na Europa Ocidental, Zapatero começa a ver sua tentativa de reeleição -que até poucos meses atrás era dada como certa- correr riscos. Os espanhóis vão às urnas escolher um novo Parlamento em menos de um ano.
No pleito realizado no dia 27 de maio, a oposição venceu por uma pequena diferença de 0,7% de votos a seu favor, algo considerável se comparado com as eleições realizadas quatro anos antes, quando perderam por uma diferença ainda menor, 0,54%.


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