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Após trégua, ETA anuncia retomada da luta armada
Retorno do grupo terrorista basco era esperado desde atentado em dezembro
Declaração marca derrota política do premiê Zapatero, socialista que fez da paz com o grupo seu projeto político mais ambicioso
CARLOS IAVELBERG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O grupo separatista basco
ETA (sigla para as iniciais em
basco de Pátria Basca e Liberdade) anunciou ontem oficialmente o fim do cessar-fogo permanente estabelecido em março de 2006 e a retomada da luta
armada em busca da "construção de um Estado livre".
De acordo com um comunicado publicado em euskera
(idioma basco) nas versões
online dos jornais "Garra" e
"Berria", os terroristas culpam
o governo espanhol pelo fracasso das negociações do processo
de paz e qualificam o primeiro-ministro do país, o socialista
José Luis Rodríguez Zapatero,
de "fascista".
Essa não é a primeira vez que
o grupo põe fim a uma trégua.
Ao longo das décadas de 80 e 90
o ETA suspendeu seus ataques
terroristas em pelo menos cinco ocasiões. A mais longa começou em setembro de 1998 e terminou 14 meses depois.
Embora o atual fim do cessar-fogo já fosse considerado
certo por governo e sociedade
desde dezembro do ano passado -quando o grupo terrorista
explodiu parte do estacionamento do aeroporto de Madri,
matando dois equatorianos-, o
ETA informou que a trégua estaria suspensa a partir da 0h
desta quarta-feira (19h de ontem no horário de Brasília).
"Renovamos nossa decisão de
defender com armas o povo que
é agredido com as armas", afirmou o grupo no comunicado.
Desde o atentado de dezembro, a polícia vinha apertando o
cerco contra o ETA. Recentemente realizou diversas prisões de supostos integrantes e
desmantelou algumas células
terroristas. A situação ficou
ainda mais tensa depois que a
Justiça espanhola vetou a participação do Batasuna (braço
político do ETA) nas eleições
municipais no final de maio.
Nos últimos dias, os serviços
espanhóis de combate ao terrorismo alertaram o governo que
o ETA estava se preparando para cometer novos atentados. O
grupo também tinha voltado a
enviar cartas para extorquir dinheiro de empresários da região para financiar suas ações.
A organização apontada como responsável pela morte de
cerca de 800 pessoas, entre elas
políticos, foi fundada em 1959,
com o objetivo de criar um Estado independente e socialista,
formado pelas regiões basca espanhola e francesa.
Derrota de Zapatero
Apesar de há muito esperado,
o fim do cessar-fogo é considerado uma derrota pessoal do
primeiro-ministro Zapatero,
que tinha feito do processo de
paz seu projeto político mais
ambicioso. A Espanha segue
sendo o único país da Europa
ocidental que possui um grupo
terrorista em atividade.
Ontem, em um pronunciamento oficial, Zapatero afirmou que o ETA voltou a se
equivocar e pediu o respaldo
unânime de todos os partidos
políticos. Poucas horas depois,
o líder da oposição, o conservador Mariano Rajoy, presidente
do Partido Popular, disse que a
fala do premiê não havia sido
clara e pediu ao governo a promessa de nunca mais negociar
com terroristas.
Considerado por alguns o
único governante realmente de
esquerda na Europa Ocidental,
Zapatero começa a ver sua tentativa de reeleição -que até
poucos meses atrás era dada
como certa- correr riscos. Os
espanhóis vão às urnas escolher um novo Parlamento em
menos de um ano.
No pleito realizado no dia 27
de maio, a oposição venceu por
uma pequena diferença de
0,7% de votos a seu favor, algo
considerável se comparado
com as eleições realizadas quatro anos antes, quando perderam por uma diferença ainda
menor, 0,54%.
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