São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010 |
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ANÁLISE Ataque a frota expõe falência política de bloqueio israelense sobre faixa de Gaza
CLAUDIA ANTUNES DO RIO O resultado trágico do ataque israelense aos navios que pretendiam entregar ajuda a Gaza evidencia a falência da política de isolamento do território palestino, que dura três anos. Se o objetivo era enfraquecer o grupo Hamas, o resultado tem sido o contrário. O diagnóstico foi feito pelo International Crisis Group, especializado no acompanhamento de conflitos, e corroborado por analistas como Bradley Burston, do jornal de esquerda israelense "Haaretz", e Martin Indyk, que serviu ao governo de Bill Clinton e é conhecido pelas posições pró-Israel. "O ataque à flotilha é só um sintoma e ilustra a necessidade de uma mudança abrangente na política para Gaza", disse Robert Malley, diretor do Crisis Group para o Oriente Médio. Malley ressalta que, embora executado por Israel e Egito -que têm fronteira com o território-, o bloqueio a Gaza é endossado pelos EUA e pela União Europeia. Ele impediu a reconstrução da faixa de 1,6 milhão de habitantes depois da ofensiva israelense de dezembro de 2008 e janeiro de 2009. As doações anunciadas após a guerra não chegam ao destino porque o Ocidente não reconhece o Hamas como intermediário legítimo. HISTÓRICO Os antecedentes do bloqueio foram o desmantelamento unilateral, em 2005, das colônias israelenses em Gaza, que o Hamas apresentou como conquista sua, e a vitória do grupo islâmico nas eleições palestinas de 2006. Os EUA, que incentivaram o pleito, se recusaram a reconhecer o governo dos islamitas e continuaram a dialogar só com o partido Fatah, do presidente Mahmoud Abbas. O Fatah negou-se a transferir ao Hamas o controle das forças de segurança. Confrontos entre ambos levaram à expulsão do Fatah de Gaza, em 2007. Tentativas de reconciliação mediadas pelo Egito fracassaram porque a precondição é que o Hamas reconheça Israel. A carta fundadora do grupo islâmico, dos anos 80, prega a destruição do Estado judaico. Este é o principal argumento de Israel e dos EUA para rejeitar contatos oficiais com os dirigentes de Gaza. Mas -lembrou editorial do "Financial Times"- o Hamas apoiou uma proposta de 2002 da Liga Árabe, de paz com Israel em troca da devolução dos territórios ocupados, e prometeu acatar o resultado de um referendo entre os palestinos sobre a solução de dois Estados. DOIS ESTADOS Para o Crisis Group, a questão do reconhecimento de Israel só existirá de fato quando houver um Estado palestino. "Antes disso, é [uma discussão] acadêmica", disse o centro de estudos em relatório de abril de 2009. O importante, argumenta o Crisis Group, é que o Hamas aceite um cessar-fogo de longo prazo e a autoridade de Abbas para negociar um acordo definitivo com Israel. Desde o conflito de 2009, o grupo vem reprimindo ataques ao território judaico por facções ainda mais radicais. "O Hamas aprendeu que o próprio embargo contra Gaza era sua arma mais poderosa e sofisticada contra o Estado judaico", escreveu Burston. Para Marc Lynch, da revista "Foreign Policy", ao apoiar o bloqueio e ignorar o Hamas, a Casa Branca de Barack Obama viu "Gaza explodir na sua cara", justo quando parecia ter convencido Israel e Fatah a negociarem. Texto Anterior: Sem violência, Israel barra novo navio Próximo Texto: Conselho de Segurança: Presidente russo diz que "existe um acordo" sobre sanções ao Irã Índice |
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