São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Documento militar prevê ataque por três frentes e uso de aviões baseados em países do Oriente Médio

EUA têm plano para derrubar Saddam

ERIC SCHMITT
DO "THE NEW YORK TIMES"

Um documento de planejamento militar americano prevê que forças aéreas, terrestres e marítimas ataquem o Iraque desde três direções (norte, sul e oeste), numa campanha visando derrubar o ditador Saddam Hussein.
O documento prevê que dezenas de milhares de fuzileiros navais e soldados invadiriam o Iraque, vindos do Kuait. Centenas de aviões de guerra baseados em até oito países, possivelmente incluindo a Turquia e o Qatar, desencadeariam um ataque maciço contra milhares de alvos, incluindo pistas de pouso, estradas e centros de comunicações.
Forças operacionais especiais ou agentes secretos da CIA lançariam ataques contra armazéns e laboratórios que armazenam ou produzem as supostas armas de destruição em massa e os mísseis que seriam usados para lançá-las.
Nenhum dos países identificados no documento como possíveis áreas de lançamento já foi formalmente consultado, disseram autoridades, destacando a natureza preliminar do planejamento. Em sua viagem mais recente à região do golfo Pérsico, em junho, o secretário da Defesa, Donald H. Rumsfeld, visitou bases americanas no Kuait e em Qatar e a Quinta Frota no Bahrein.
A existência do documento que apresentou aspectos significativos de um ""conceito" de uma guerra contra o Iraque indica que o planejamento se encontra em fase avançada no setor militar, mesmo que, em público e para seus aliados, o presidente George W. Bush afirme que não tem nenhum plano detalhado.
Entretanto, o conceito de tal plano já está altamente desenvolvido. Uma vez que se tenha alcançado um consenso quanto ao conceito, os passos em direção à montagem de um plano final para a guerra e, o que é mais importante, o cronograma para a distribuição das forças e o início da guerra aérea representam a sequência final para a qual será necessária a aprovação de Bush.
O presidente já recebeu pelo menos dois briefings do general Tommy R. Franks, chefe do Comando Central, sobre os esboços gerais, ou ""conceito de operações", de um possível ataque. O briefing mais recente aconteceu em 19 de junho, segundo a Casa Branca. ""Já estamos bastante avançados", disse um alto funcionário da Defesa.
Intitulado ""Cursos de Ação da Central de Comando", o documento, altamente confidencial, foi redigido por planejadores do comando central em Tampa, Flórida, segundo fonte familiarizada com o documento. ""Cabe ao Departamento da Defesa desenvolver planos de contingência e atualizá-los de vez em quando", disse a porta-voz do Pentágono, Victoria Clarke. Autoridades revelaram que nem Rumsfeld nem os chefes militares já foram postos a par desse documento específico.
A fonte familiarizada com o documento descreveu seu conteúdo ao ""Times" sob a condição de anonimato e expressou sua frustração pelo fato de o planejamento ser pouco criativo e não incorporar plenamente os avanços em tática e tecnologia militares desde a Guerra do Golfo, em 1991.
Fontes da administração disseram que ainda estão estudando outras opções para depor Saddam. Mas a maioria dos representantes do setor militar e da administração acredita que um golpe de Estado no Iraque teria poucas chances de sucesso e que uma batalha por procuração, usando forças locais, não seria suficiente.
Nada no documento ou nas entrevistas com altos oficiais militares sugere que um ataque seja iminente. Os altos funcionários da administração continuam a dizer que qualquer ofensiva provavelmente será adiada até o início de 2003, dando tempo para a criação de melhores condições militares, econômicas e diplomáticas.
Entre as muitas questões pendentes está a localização das forças aéreas e terrestres na região. A geografia e a história, especialmente a da Guerra do Golfo, sugerem que países como Kuait, Turquia, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Bahrein seriam candidatos prováveis a servir de bases para missões de combate aéreo ou tropas terrestres. Nada no documento sugere a possibilidade de que sejam usadas bases na Arábia Saudita, desde a qual os EUA lançaram a maior parte dos ataques aéreos na Guerra do Golfo. Os EUA precisariam de autorização para usar o espaço aéreo saudita adjacente ao Iraque.
Os sauditas autorizaram os EUA a administrar a guerra aérea contra o Afeganistão a partir de um sofisticado centro de comando na base aérea Prince Sultan, nos arredores de Riad, mas proibiram sua força aérea de lançar quaisquer missões de ataque desde solo saudita.
O documento do Comando Central não inclui uma linha do tempo mostrando quando as forças americanas poderiam começar a dirigir-se ao golfo Pérsico, nem quanto tempo seria necessário para posicionar todas as forças. Ele tampouco oferece resposta a uma das grandes perguntas que a administração está procurando responder: como Saddam Hussein vai reagir se ocorrer uma grande concentração de forças convencionais, como os EUA promoveram na Guerra do Golfo. ""Os iraquianos não vão ficar parados, sem fazer nada, enquanto mandamos 250 mil homens para lá", disse um analista militar.


Tradução de Clara Allain


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