São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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Leia a íntegra da carta de renúncia de Pinochet

Honorável Senado,
Contendas civis absolutamente alheias à função do Exército do Chile me impulsionaram a atuar, em setembro de 1973, em defesa da soberania, da segurança social e da paz de nosso povo.
Sem outro norte que o de superar a desintegração e a decadência da nacionalidade, exerci o governo supremo da nação por 16 anos e meio, pondo meu cargo à disposição da cidadania quando o Chile contava com uma institucionalidade sólida e uma organização social e econômica que assegurava a continuidade jurídica e o desenvolvimento integral da pátria. Reconstruiu-se, assim, não sem sofrimento para todos os setores, o regime democrático, e devolveu-se ao povo o direito de decidir seu próprio destino.
Desde então, dedico todas as minhas energias para que as instituições não sejam novamente destruídas e nosso país consiga progredir em harmonia, por meio de um esforço conjunto de todos os filhos, sem nenhuma exceção.
A obra realizada por meu governo será julgada pela história. Ainda subsistem demasiadas paixões entre nossos concidadãos para esperar deles um veredicto objetivo, sereno e, sobretudo, justo. Por isso, tenho a consciência tranquila e a esperança de que amanhã se valorize meu sacrifício de soldado e se reconheça que tudo o que fiz à frente das Forças Armadas e da Ordem não teve outro fim que a grandeza e o bem-estar do Chile.
Problemas de saúde insuperáveis e o implacável passar dos anos impõem-me o dever de renunciar a meu cargo de senador vitalício, instituído em nossa Constituição, aprovada pela grande maioria do povo chileno, em 1980. Não seria coerente com minha conduta e meus ideais se mantivesse essa dignidade impossibilitado, como me encontro, de desempenhá-la com a responsabilidade e a eficiência que se exige. Creio, por isso, que o interesse do Chile exige essa renúncia, mais ainda se com ela presto uma contribuição à paz política e social do país.
Honorável Senado, só aspiro a que os últimos dias de minha vida continuem sendo um claro testemunho de meu amor profundo pelo Chile, ao qual entreguei a plenitude de minhas energias, além de todo o sacrifício pessoal, movido apenas pelo bem-estar e pela felicidade de seus filhos. Ao distanciar-me da atividade cidadã, não tenho outro sentimento que o de uma imensa gratidão ao nosso povo, aos meus companheiros de armas e, sobretudo, à vontade de Deus, que, em meio a uma dura encruzilhada histórica, brindou-me com a oportunidade de entregar-me por inteiro à construção de um destino melhor para o Chile. Deus guarde Vossas Excelências.
Augusto Pinochet Ugarte,
Ex-presidente da República."



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