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Pacote promocional de empresa aérea "exportou" doença da Ásia
DA REDAÇÃO
O governo chinês já pediu desculpas ao mundo por esconder os
primeiros casos de uma misteriosa doença surgida na Província de
Guangdong, em novembro passado, evitando que outros países
adotassem medidas preventivas.
Mas uma série de casualidades
-inclusive um pacote promocional de uma companhia aérea-
também contribuiu para que a
Sars se espalhasse pelo mundo.
"Noventa e nove por cento dos
casos de Sars registrados fora da
China continental e de Taiwan tiveram origem no Hotel Metropole, em Hong Kong, na noite do dia
21 de fevereiro", diz o microbiologista canadense Donald Low,
coordenador do combate à Sars
em Toronto, em entrevista à Folha, por telefone.
Naquela noite, o médico chinês
Liu Jianlun, que estava cuidando
de pacientes com Sars na Província de Guangdong, se hospedou
no Metropole. Infectou dez pessoas, vindas de Cingapura, Vietnã
e Canadá, além de moradores de
Hong Kong. Todos geraram os
primeiros surtos epidêmicos em
suas regiões de origem.
Quem levou a doença ao Canadá -único país fora da Ásia onde
houve surto epidêmico- foi a
dona de casa Kwan Sui-chu, 76,
moradora de Toronto.
"O irônico é que ela não precisava dormir no hotel. Ela foi para lá
visitar o seu filho e ia ficar na casa
dele, mas comprou as passagens
aéreas por meio de uma promoção pela qual ela e seu marido teriam três noites de graça em qualquer hotel de Hong Kong. E eles
pensaram: "Nós temos hotel de
graça, vamos ficar por aqui'",
conta Low.
Dois dias mais tarde, ela voltou
para o Canadá, onde desenvolveu
a doença, e morreu no dia 5 de
março. Antes, contaminou seu
outro filho, que espalhou o vírus
da Sars.
Nos quatro meses seguintes, a
Sars provocaria a morte de 39 pessoas na região de Toronto. Mais
de 370 contraíram a doença e cerca de 12 mil moradores da cidade
ficaram sob quarentena. Ainda
restam 20 pacientes com Sars em
hospitais da cidade -11 em situação crítica. Sem contar os prejuízos econômicos e o abalo emocional da maior cidade canadense,
com 4 milhões de habitantes.
O encontro fatídico no Hotel
Metropole provocaria ainda 298
mortes em Hong Kong, 32 em
Cingapura e cinco no Vietnã.
Foi apenas o acaso? "Absolutamente. Pura má sorte. Poderia ter
acontecido em São Paulo. Se
aquela mulher tivesse ficado em
Hong Kong, não teríamos nenhum problema", diz Low.
(FM)
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