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EUA
Para analistas, promessas de ajuda são verniz humanitário, mas viagem é centrada no combate ao terror e no fornecimento de óleo
Bush visita a África de olho no petróleo
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
George W. Bush inicia hoje sua
primeira visita como presidente
dos EUA à África em meio ao
anúncio de boas intenções, críticas e no limiar do envio de tropas
americanas à Libéria. Bush vai a
cinco países em seis dias: Senegal,
África do Sul, Botsuana, Nigéria e
Uganda. Será a terceira visita de
um presidente norte-americano à
região e a segunda de Bush, que já
esteve em Gâmbia em 1992 representando o pai, o ex-presidente
George Bush (1989-93).
Ele será também o primeiro
chefe de Estado a visitar a África
do Sul sem ter um encontro com
Nelson Mandela. Pouco antes da
Guerra do Iraque, Mandela disse
que o presidente americano não
conseguia "pensar direito".
Antes da partida, Bush voltou a
anunciar um ambicioso plano de
combate à Aids na África. Cerca
de 29,4 milhões de pessoas (de um
total de 42 milhões no mundo) estão infectadas pelo HIV na região.
Cerca de 18 milhões já morreram
com a doença.
Bush disse também que pretende aprofundar o comércio e a ajuda americana para a região.
Segundo algumas das principais
organizações não-governamentais ligadas à África consultadas
pela Folha, a visita de Bush à região, apesar do verniz humanitário, se encaixa na política de defesa, combate ao terrorismo e de
proteção a reservas de petróleo
que tem orientado as ações da
atual administração americana.
"Bush tem conseguido apresentar-se como mais simpático que
outros à causa africana, mas há
uma enorme dose de manipulação para mostrar compaixão", diz
Salih Booker, diretor-executivo
da Africa Action, ONG baseada
em Washington.
Da promessa inicial feita em janeiro de gastar US$ 15 bilhões em
cinco anos (US$ 3 bilhões ao ano)
para combater a Aids em 14 países
da África e do Caribe, a Casa
Branca enviou ao Congresso um
pedido de apenas US$ 1,5 bilhão
para o ano fiscal de 2004.
Também gerou protestos no
meio médico ligado ao assunto a
indicação, na semana passada, do
empresário Randall Tobias, ex-executivo do laboratório Eli Lilly e
conhecido financiador de campanhas republicanas, para coordenar o novo programa dos EUA de
combate à Aids.
O Departamento de Defesa norte-americano também vem delineando um ambicioso plano para
incrustar bases militares em vários países africanos. A localização atende ao objetivo comum de
vigiar países suspeitos de abrigar
terroristas e áreas ricas em reservas de petróleo.
Bill Fletcher, diretor do TransAfrica Forum, afirma que países ricos em petróleo da África, como a
Nigéria, merecem cada vez mais a
atenção dos EUA "apenas por
causa do petróleo".
O comércio total do EUA com a
África em 2002 somou US$ 24 bilhões, com US$ 18 bilhões em importações, de petróleo principalmente, e US$ 6 bilhões em exportações, concentradas em maquinaria para extração do óleo.
Os investimentos diretos dos
EUA na região, de US$ 10,2 bilhões, também se concentram em
equipamentos petrolíferos.
Emira Woods, economista de
Harvard e diretora do Foreign Policy in Focus, afirma que os norte-americanos têm planos de dobrar, em dez anos, a participação
dos países africanos no fornecimento de óleo para os EUA, hoje
na faixa de 15% do consumo.
"O objetivo é diminuir a dependência do Oriente Médio a todo
custo", diz Woods. Segundo ela, a
aproximação dos EUA com alguns governos da África tende a
reforçar uma política de controle
que não deve resultar, necessariamente, na melhora geral do padrão de vida dos africanos.
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