São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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CÚPULA

Abertura da reunião dos países mais ricos, cuja agenda deve abordar a pobreza africana, terá manifestações de todos os tipos

Milhares preparam protestos contra G8 hoje

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A EDIMBURGO

Não será por falta de barulho que os líderes do G8 -grupo dos sete países desenvolvidos mais a Rússia, que começa sua reunião anual hoje na Escócia -deixarão de ouvir as demandas dos ativistas políticos. De manifestantes tranqüilos a grupos mais radicais, passando por roqueiros e atores, milhares de pessoas deverão fazer algum tipo de protesto.
O Reino Unido, do premiê Tony Blair, ocupa a presidência do G8 neste ano e pretende convencer os outros países a adotar uma agenda que inclua medidas que levem à redução de pobreza na África e o reconhecimento da necessidade de ação para reduzir o ritmo de elevação de temperatura do planeta.
Essa pauta, considerada histórica para o G8, que costuma debater economia global e geopolítica, vem criando forte expectativa entre ativistas políticos, que, mesmo não acreditando em passos significativos, esperam avanços.
"Eu espero que [as manifestações] causem algum efeito. Os políticos têm de estar conscientes do que as pessoas querem, caso contrário a tendência é que acabem perdendo votos", disse à Folha Fran Healey, vocalista da banda britânica Travis, ao desembarcar na Escócia, ontem.
O Travis estará entre bandas e artistas que se apresentarão para 50 mil pessoas hoje em Edimburgo, capital da Escócia, no último show da série do Live 8. Outros dez concertos, organizados pelo músico e ativista irlandês Bob Geldof, ocorreram no último sábado em diferentes cidades do mundo.
Geldof chegou a conclamar 1 milhão de pessoas a marcharem hoje em Edimburgo, mas uma porta-voz de um grupo ligado à campanha Make Poverty History e ao cantor disse à Folha que esse número era "simbólico". Segundo a imprensa britânica, tudo indica que o total de manifestantes hoje fique longe disso.
Com a promessa de comportamento pacífico, o grupo G8 Alternatives conseguiu uma autorização especial da polícia escocesa para promover uma marcha que passará a 500 metros do hotel de Gleneagles, onde ocorrerá o encontro dos líderes mundiais. Mike Arnott, um dos porta-vozes do grupo, disse à Folha esperar cerca de 30 mil pessoas nos eventos de hoje.
Outros grupos prometem manifestações mais violentas. Um deles, chamado Dissent Network, está promovendo o "dia internacional contra o encontro do G8". Entre as atitudes que ameaça tomar está o bloqueio de estradas com a intenção de impedir que participantes cheguem a Gleneagles. Segundo a imprensa britânica, os protestos que terminaram em confronto com a polícia escocesa anteontem foram feitos por grupos que podem estar embaixo do guarda-chuva do Dissent Network.
A polícia escocesa, por outro lado, avisou ontem que tomará "medidas fortes" caso manifestantes saiam da linha. Ao desembarcar em Edimburgo ontem, acompanhado dos atores Tim Robbins e Susan Sarandon, Geldof criticou os manifestantes que agiram com violência, classificando-os de "bando de perdedores".
Ontem, o dia nas cidades próximas a Gleneagles foi mais tranqüilo. Em Edimburgo, três manifestantes se amarraram a um guindaste, protestando contra a suposta imposição de abertura econômica à África pelo Reino Unido, e algumas das pessoas que foram presas na última segunda-feira compareceram ao tribunal.
A reunião do G8 será aberta oficialmente hoje à noite com um jantar oferecido pela rainha Elizabeth 2ª. Amanhã, estarão na pauta de conversas a economia mundial e o ambiente. Sexta-feira será o dia de debates sobre África e outras questões de geopolítica. Na prática, esses encontros são formais, já que as decisões vêm sendo tomadas em reuniões "pré-G8" nos últimos dias.
O Brasil é um dos cinco países emergentes convidados a participar das reuniões de quinta-feira. Os outros são México, África do Sul, China e Índia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim chegarão a Gleneagles amanhã de manhã. Lula voltará para o Brasil no mesmo dia. Já Amorim seguirá para Londres, onde na sexta-feira deverá ter reuniões com representantes de outros governos sobre dois temas: negociações comerciais e ampliação do Conselho de Segurança da ONU, para o qual o Brasil pleiteia uma vaga.
Ontem, Amorim voltou a defender em Brasília a ampliação do G8. Segundo ele, o convite para que países emergentes participem do encontro indica que essa seja a tendência do grupo.


Leia mais sobre o encontro do G8 na http://www.folha.com.br/051861

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