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CÚPULA
Abertura da reunião dos países mais ricos, cuja agenda deve abordar a pobreza africana, terá manifestações de todos os tipos
Milhares preparam protestos contra G8 hoje
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A EDIMBURGO
Não será por falta de barulho
que os líderes do G8 -grupo dos
sete países desenvolvidos mais a
Rússia, que começa sua reunião
anual hoje na Escócia -deixarão
de ouvir as demandas dos ativistas políticos. De manifestantes
tranqüilos a grupos mais radicais,
passando por roqueiros e atores,
milhares de pessoas deverão fazer
algum tipo de protesto.
O Reino Unido, do premiê Tony
Blair, ocupa a presidência do G8
neste ano e pretende convencer os
outros países a adotar uma agenda que inclua medidas que levem
à redução de pobreza na África e o
reconhecimento da necessidade
de ação para reduzir o ritmo de
elevação de temperatura do planeta.
Essa pauta, considerada histórica para o G8, que costuma debater
economia global e geopolítica,
vem criando forte expectativa entre ativistas políticos, que, mesmo
não acreditando em passos significativos, esperam avanços.
"Eu espero que [as manifestações] causem algum efeito. Os políticos têm de estar conscientes do
que as pessoas querem, caso contrário a tendência é que acabem
perdendo votos", disse à Folha
Fran Healey, vocalista da banda
britânica Travis, ao desembarcar
na Escócia, ontem.
O Travis estará entre bandas e
artistas que se apresentarão para
50 mil pessoas hoje em Edimburgo, capital da Escócia, no último
show da série do Live 8. Outros
dez concertos, organizados pelo
músico e ativista irlandês Bob
Geldof, ocorreram no último sábado em diferentes cidades do
mundo.
Geldof chegou a conclamar 1
milhão de pessoas a marcharem
hoje em Edimburgo, mas uma
porta-voz de um grupo ligado à
campanha Make Poverty History
e ao cantor disse à Folha que esse
número era "simbólico". Segundo a imprensa britânica, tudo indica que o total de manifestantes
hoje fique longe disso.
Com a promessa de comportamento pacífico, o grupo G8 Alternatives conseguiu uma autorização especial da polícia escocesa
para promover uma marcha que
passará a 500 metros do hotel de
Gleneagles, onde ocorrerá o encontro dos líderes mundiais. Mike Arnott, um dos porta-vozes do
grupo, disse à Folha esperar cerca
de 30 mil pessoas nos eventos de
hoje.
Outros grupos prometem manifestações mais violentas. Um
deles, chamado Dissent Network,
está promovendo o "dia internacional contra o encontro do G8".
Entre as atitudes que ameaça tomar está o bloqueio de estradas
com a intenção de impedir que
participantes cheguem a Gleneagles. Segundo a imprensa britânica, os protestos que terminaram
em confronto com a polícia escocesa anteontem foram feitos por
grupos que podem estar embaixo
do guarda-chuva do Dissent Network.
A polícia escocesa, por outro lado, avisou ontem que tomará
"medidas fortes" caso manifestantes saiam da linha. Ao desembarcar em Edimburgo ontem,
acompanhado dos atores Tim
Robbins e Susan Sarandon, Geldof criticou os manifestantes que
agiram com violência, classificando-os de "bando de perdedores".
Ontem, o dia nas cidades próximas a Gleneagles foi mais tranqüilo. Em Edimburgo, três manifestantes se amarraram a um
guindaste, protestando contra a
suposta imposição de abertura
econômica à África pelo Reino
Unido, e algumas das pessoas que
foram presas na última segunda-feira compareceram ao tribunal.
A reunião do G8 será aberta oficialmente hoje à noite com um
jantar oferecido pela rainha Elizabeth 2ª. Amanhã, estarão na pauta
de conversas a economia mundial
e o ambiente. Sexta-feira será o
dia de debates sobre África e outras questões de geopolítica. Na
prática, esses encontros são formais, já que as decisões vêm sendo tomadas em reuniões "pré-G8" nos últimos dias.
O Brasil é um dos cinco países
emergentes convidados a participar das reuniões de quinta-feira.
Os outros são México, África do
Sul, China e Índia.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o chanceler Celso Amorim
chegarão a Gleneagles amanhã de
manhã. Lula voltará para o Brasil
no mesmo dia. Já Amorim seguirá para Londres, onde na sexta-feira deverá ter reuniões com representantes de outros governos
sobre dois temas: negociações comerciais e ampliação do Conselho de Segurança da ONU, para o
qual o Brasil pleiteia uma vaga.
Ontem, Amorim voltou a defender em Brasília a ampliação do
G8. Segundo ele, o convite para
que países emergentes participem
do encontro indica que essa seja a
tendência do grupo.
Leia mais sobre o encontro do G8 na http://www.folha.com.br/051861
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