São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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Coréia lança sétimo míssil; ONU reage

Organismo internacional discute impor sanções econômicas, defendidas pelo Japão e pelos EUA; China pede calma

Apesar de críticas, reação americana fica aquém do esperado; especialistas crêem que mísseis norte-coreanos sejam imprecisos


Lee Jin-man/Associated Press
Manifestante sul-coreano queima cartaz com imagem do ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-il, em protesto ontem em Seul


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Um dia após realizar seis lançamentos de mísseis e acender a ira mundial, a Coréia do Norte voltou a conduzir mais um teste, o que provocou reações do presidente norte-americano, George W. Bush, e levou países-membros do Conselho de Segurança da ONU -que deve tomar decisões a respeito do país nas próximas horas- a propor sanções econômicas. Tanto os testes quanto as reações dos EUA, porém, foram menos impactantes do que se esperava.
Com capacidade teórica de atingir o Alasca e talvez partes da Costa Oeste dos EUA, o Taepodong-2 foi um dos mísseis lançados nas últimas horas; menor, o último da série cairia 42 segundos depois de deixar a base, às 5h22 de ontem, horário de Brasília, no mar do Japão.
Especialistas apontam que a precisão continua sendo um problema para os norte-coreanos, que estariam a vários anos de produzir um artefato nuclear pequeno o suficiente para caber nesse tipo de veículo.
Com os testes, "os norte-coreanos estão se isolando ainda mais" do mundo, disse o presidente norte-americano; Bush, no entanto, descartou qualquer medida mais drástica ou mesmo o retorno da negociação bilateral interrompida em seu governo, que seria a real intenção de Kim Jong-il com os testes. "A melhor maneira de resolver esse problema diplomaticamente é com mais de um país falando com a Coréia do Norte, em vez de só os EUA expressarem sua posição."
Ele se referia ao chamado Grupo dos Seis, que inclui Coréia do Sul, China, Japão e Rússia. Pela manhã, seu porta-voz havia batido na mesma tecla. "Essa não é uma questão EUA-Coréia do Norte, e não vamos permitir que o líder daquele país a transforme nisso", disse.

Sanções
Segundo as agências de notíciais, após conversarem por telefone, Bush e o premiê japonês, Junichiro Koizumi, concordaram em trabalhar para que haja sanções à Coréia do Norte no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, que convocou ontem uma reunião de emergência. O Japão e a Coréia do Sul, os dois principais alvos potenciais de um ataque norte-coreano, anunciaram sanções comerciais contra o país comunista e exigiram que o mesmo fosse feito no âmbito do conselho, que está dividido. "Nada pode ser resolvido sem diálogo", disse Koizumi sobre os testes. "Mas tanto diálogo quanto pressão são precisos."
A reação da China, principal parceira da Coréia do Norte, porém, foi mais ambígua. Os testes "causam preocupação", mas a "calma deve ser mantida", segundo comunicado oficial. Na mesma linha foi o embaixador russo na ONU, que disse que seu país se opõe a sanções e prefere que o CS considere uma "declaração presidencial", em vez de resolução. A tibieza foi criticada por John Bolton, representante dos EUA e crítico freqüente da ONU.
Uma proposta elaborada pelo Japão e que contaria com o apoio dos EUA, do Reino Unido e da França, segundo a agência de notícias Reuters, exigiria que os países-membros embargassem fundos, bens e tecnologia que pudessem ser usados no programa de mísseis da Coréia do Norte. O texto, no entanto, não foi confirmado pela ONU.
Embora dividida quanto a procedimentos, a reação uníssona do mundo quanto aos lançamentos foi resumida pela secretária de Estado dos EUA. "Seja o que for o que eles pensavam estar fazendo, receberam uma resposta firme da comunidade internacional", disse Condoleezza Rice, que também descartou uma intervenção direta de seu país na questão, mas afirmou que há "uma variedade de ferramentas" disponíveis para impedir os testes.
A Coréia do Norte aceitou a proposta do Japão de uma moratória dos testes de mísseis em 2002, reafirmada em 2004 e suspensa no ano passado.
Coréias do Norte e do Sul estão tecnicamente em guerra há mais de meio século, depois de uma trégua que durou de 1950 a 1953. Há 30 mil soldados norte-americanos no sul.


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