São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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México reconta votos após suspeita de erro e manobra

Recontadas 89% das atas distritais, López Obrador liderava com 1,3 ponto

Esquerdista promete levar massas às ruas; vencedor pela contagem preliminar, conservador já convida oponente para seu gabinete


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Continua o suspense no México para se descobrir quem será o novo presidente do país. Ontem, no inicio da recontagem de todas as atas distritais do país, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador conseguiu, pela primeira vez, a dianteira. Até o fechamento desta edição, com 89% das atas conferidas, Lopez Obrador tinha 36,27% dos votos, e o conservador Felipe Calderón, 34,99%.
Antes dessa reviravolta, o esquerdista havia solicitado a recontagem "voto por voto" ao Instituto Federal Eleitoral (IFE). Manifestações de simpatizantes de López Obrador aconteceram na capital e em varias cidades do interior ontem. A sede do IFE foi cercada.
O fantasma das eleições norte-americanas de 2000, quando George W. Bush virou presidente graças a Suprema Corte, ronda o México.
O mercado financeiro -que aposta em Calderón por sua promessa de manter a política econômica do presidente Vicente Fox- reagiu mal à liderança de López Obrador. A Bolsa de Valores do México caiu mais de 3%, a terceira maior queda do ano.
Na guerra de nervos em que se transformou a apuração, o conservador Calderón provocou o adversário, dizendo que "voto não pode ser trocado por mobilizações, voto é a manifestação dos pacíficos". A campanha de Calderón focou ataques ao "perigo" que López Obrador representaria e a violência de seus simpatizantes.
Mas, em um raro gesto conciliador, Calderón disse que convidaria López Obrador para fazer parte de seu ministério. "Não sei se ele aceitaria, mas quero um governo de unidade. Concordamos na orientação geral de combater a pobreza."

Massas na rua
O IFE tem até domingo para revelar o vencedor, depois da apuração das atas dos 300 distritos eleitorais do país, que somam 130 mil seções eleitorais. É quando deve começar a batalha eleitoral entre os dois favoritos. López Obrador pede recontagem de votos, enquanto o direitista Partido da Ação Nacional (PAN), de Calderón, faz pressão para que o conservador seja declarado vencedor. Pela legislação, o país precisa declarar o novo presidente até 6 de setembro. A posse do eleito acontece em 1º de dezembro.
O Partido da Revolução Democrática (PRD), de López Obrador, anunciou que pediria recontagem total dos votos. E promete levar massas de militantes às ruas. No último mês de campanha, o esquerdista dizia que queriam "roubar" sua vitória e pedia que o povo o defendesse "dos poderosos".
Boa parte da carreira política do ex-prefeito da Cidade do México tem esse apelo às massas. Em 2005, juntou milhares no Zócalo, a praça principal da capital, para protestar contra um processo que lhe impediria de concorrer à Presidência. Apesar de ser uma decisão judicial, muitos viram o dedo de Fox na manobra.
O candidato que se sentir prejudicado ou quiser pedir impugnação de votos terá que recorrer ao Tribunal Federal Eleitoral, que, pela primeira vez, terá uma decisão tão importante pela frente. As instituições eleitorais do país foram criadas apenas nos anos 90, quando começou a colapsar a hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país por 71 anos, de 1929 a 2000.

Falta de transparência
A confusão da apuração das eleições presidenciais começou no próprio domingo, pouco após o fechamento das urnas. Pesquisas de boca-de-urna não foram divulgadas por conta de "empate técnico". O conselheiro-presidente do Instituto Federal Eleitoral, Luis Carlos Ugalde, que deveria revelar a contagem rápida às 23h, pediu paciência e não divulgou nenhum dado. Mas os dois favoritos se declaram vencedores e começaram a trocar acusações.
A apuração preliminar, baseada na contagem das atas nas seções eleitorais, deu 400 mil votos de vantagem - um ponto percentual- , a Calderón. Número mínimo diante de 41 milhões de votos em um universo de 71 milhões de eleitores.
Na segunda, López Obrador acusou o IFE de esconder da apuração preliminar 3 milhões de votos. Pela lei mexicana, atas com rasuras ou inconsistências na contagem não entram na apuração preliminar. Só 24 horas após a denúncia, o IFE admitiu haver 2,5 milhões de votos não computados. Desses, 888 mil eram para López Obrador, e 740 mil, para Calderón. A vantagem do conservador diminuiu para 257 mil votos, ou 0,6 ponto percentual.


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