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México reconta votos após suspeita de erro e manobra
Recontadas 89% das atas distritais, López Obrador liderava com 1,3 ponto
Esquerdista promete levar massas às ruas; vencedor pela contagem preliminar, conservador já convida oponente para seu gabinete
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Continua o suspense no México para se descobrir quem será o novo presidente do país.
Ontem, no inicio da recontagem de todas as atas distritais
do país, o esquerdista Andrés
Manuel López Obrador conseguiu, pela primeira vez, a dianteira. Até o fechamento desta
edição, com 89% das atas conferidas, Lopez Obrador tinha
36,27% dos votos, e o conservador Felipe Calderón, 34,99%.
Antes dessa reviravolta, o esquerdista havia solicitado a recontagem "voto por voto" ao
Instituto Federal Eleitoral
(IFE). Manifestações de simpatizantes de López Obrador
aconteceram na capital e em
varias cidades do interior ontem. A sede do IFE foi cercada.
O fantasma das eleições norte-americanas de 2000, quando George W. Bush virou presidente graças a Suprema Corte,
ronda o México.
O mercado financeiro -que
aposta em Calderón por sua
promessa de manter a política
econômica do presidente Vicente Fox- reagiu mal à liderança de López Obrador. A Bolsa de Valores do México caiu
mais de 3%, a terceira maior
queda do ano.
Na guerra de nervos em que
se transformou a apuração, o
conservador Calderón provocou o adversário, dizendo que
"voto não pode ser trocado por
mobilizações, voto é a manifestação dos pacíficos". A campanha de Calderón focou ataques
ao "perigo" que López Obrador
representaria e a violência de
seus simpatizantes.
Mas, em um raro gesto conciliador, Calderón disse que convidaria López Obrador para fazer parte de seu ministério.
"Não sei se ele aceitaria, mas
quero um governo de unidade.
Concordamos na orientação
geral de combater a pobreza."
Massas na rua
O IFE tem até domingo para
revelar o vencedor, depois da
apuração das atas dos 300 distritos eleitorais do país, que somam 130 mil seções eleitorais.
É quando deve começar a batalha eleitoral entre os dois favoritos. López Obrador pede recontagem de votos, enquanto o
direitista Partido da Ação Nacional (PAN), de Calderón, faz
pressão para que o conservador
seja declarado vencedor. Pela
legislação, o país precisa declarar o novo presidente até 6 de
setembro. A posse do eleito
acontece em 1º de dezembro.
O Partido da Revolução Democrática (PRD), de López
Obrador, anunciou que pediria
recontagem total dos votos. E
promete levar massas de militantes às ruas. No último mês
de campanha, o esquerdista dizia que queriam "roubar" sua
vitória e pedia que o povo o defendesse "dos poderosos".
Boa parte da carreira política
do ex-prefeito da Cidade do
México tem esse apelo às massas. Em 2005, juntou milhares
no Zócalo, a praça principal da
capital, para protestar contra
um processo que lhe impediria
de concorrer à Presidência.
Apesar de ser uma decisão judicial, muitos viram o dedo de
Fox na manobra.
O candidato que se sentir
prejudicado ou quiser pedir impugnação de votos terá que recorrer ao Tribunal Federal
Eleitoral, que, pela primeira
vez, terá uma decisão tão importante pela frente. As instituições eleitorais do país foram
criadas apenas nos anos 90,
quando começou a colapsar a
hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI),
que governou o país por 71
anos, de 1929 a 2000.
Falta de transparência
A confusão da apuração das
eleições presidenciais começou
no próprio domingo, pouco
após o fechamento das urnas.
Pesquisas de boca-de-urna não
foram divulgadas por conta de
"empate técnico". O conselheiro-presidente do Instituto Federal Eleitoral, Luis Carlos
Ugalde, que deveria revelar a
contagem rápida às 23h, pediu
paciência e não divulgou nenhum dado. Mas os dois favoritos se declaram vencedores e
começaram a trocar acusações.
A apuração preliminar, baseada na contagem das atas nas
seções eleitorais, deu 400 mil
votos de vantagem - um ponto
percentual- , a Calderón. Número mínimo diante de 41 milhões de votos em um universo
de 71 milhões de eleitores.
Na segunda, López Obrador
acusou o IFE de esconder da
apuração preliminar 3 milhões
de votos. Pela lei mexicana, atas
com rasuras ou inconsistências
na contagem não entram na
apuração preliminar. Só 24 horas após a denúncia, o IFE admitiu haver 2,5 milhões de votos não computados. Desses,
888 mil eram para López Obrador, e 740 mil, para Calderón. A
vantagem do conservador diminuiu para 257 mil votos, ou
0,6 ponto percentual.
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