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Artigo
Nasrallah só quer a destruição de Israel
CLAUDE LANZMANN
ESPECIAL PARA O "LE MONDE"
Sabra, Chatila, Jenin, Qana
quatro anos atrás, Qana agora
outra vez: o mesmo clamor se
desencadeia, nas ruas árabes,
nas nossas ruas, nas colunas
dos jornais a mesma pressa em
condenar, a atribuir toda a responsabilidade apenas a Israel, a
considerar insignificantes as
mortes israelenses e a chuva de
bombas que se abate diariamente e pela primeira vez atinge em tamanha escala a população civil de um pequeno país do
tamanho da Bélgica, forçando
350 mil de seus cidadãos a procurarem refúgio "mais ao sul",
onde mesmo assim outras
bombas poderão vir a atingi-los
nos próximos dias, porque Israel está desprovido de profundidade estratégica.
Se for revelado que Israel é
de fato responsável, teremos
em mãos um equívoco deplorável e não, como gritam tantas
vozes estridentes, um "crime
de guerra". "Não instruímos
nossos soldados a matar inocentes", disse Ehud Olmert.
Israel vem alertando a população libanesa há dias, por meio
de panfletos e pelo rádio, sobre
as áreas que serão bombardeadas por sua aviação, a fim de
permitir que os civis escapem, e
já está estabelecido que o Hizbollah abriga seus caminhões
lança-foguetes em aldeias xiitas habitadas, das quais eles
saem para disparar suas armas
e às quais voltam em seguida.
Uma palavra sonora surgiu em
mil bocas políticas, o termo
"desproporção".
Diz-se que Israel está destruindo o Líbano por conta de
três desafortunados soldados
capturados, um pelo Hamas,
dois pelo Hizbollah. Mas raras
vezes é mencionado que os foguetes já estavam sendo disparados contra Sderot e o sul de
Israel antes da captura do cabo
Shalit, e que o Hizbollah capturou os seus dois prisioneiros
em uma emboscada na qual oito de seus companheiros de
tropa foram mortos. Também é
convenientemente esquecido o
fato de que, antes da emboscada, já estavam sendo disparados foguetes contra os kibbutz
da Galiléia.
Os soldados capturados pelo
Hizbollah representam uma
declaração de guerra a Israel,
sem qualquer relação com o
conflito entre israelenses e palestinos: Mahmoud Abbas e
Ehud Olmert, seguindo o caminho aberto por Ariel Sharon, se
abraçaram em Amã, na presença do rei da Jordânia, e não se
tratava, nem de uma parte, nem
de outra, de um beijo de Judas.
Mas essa paz entre israelenses e palestinos é a menor das
preocupações para o líder do
Hizbollah. Ele estava se preparando para a guerra desde que
Israel desocupou o sul do Líbano, planejando uma grande
ofensiva e construindo uma rede de fortificações subterrâneas, bem como acumulando
um arsenal dos foguetes disponíveis em profusão graças à Síria e ao Irã.
O presidente do Irã, Ahmadinejad, já afirmou que o problema fundamental do mundo
muçulmano era a erradicação
do Estado de Israel e do sionismo. Será que se trata de bazófia
que não devemos levar a sério e
não merece nem mesmo uma
pergunta?
Hassan Nasrallah, o líder do
Hizbollah, respondeu a essa
pergunta muda. O que está em
curso no momento é o primeiro
ato, a abertura, dessa guerra,
cujo objetivo final, como há 60
anos, é a destruição do Estado
de Israel.
Israel teria deixado de existir
há muito tempo se não reagisse
de maneira desmesurada. O
Hizbollah não ignorava o que
poderia acontecer. Sabia o valor que o exército israelense
atribui à vida de seus soldados e
que Israel não deixaria passar
em branco o ataque. Os bombardeios e suas inevitáveis vítimas civis são parte do processo,
e o Hizbollah se beneficia em
duas frentes: a da propaganda e
a do despreparo militar de Israel para travar esse guerra de
um novo tipo apesar de toda a
alta tecnologia de que Israel
dispõe. De acordo com uma
doutrina do exército, são recrutas de 18 anos de idade que terminam encarregados de desmantelar as fortificações inimigas, ao custo de pesadas baixas.
Mas é lícito perguntar para
que serviu o acordo de paz de
Oslo e o que resta das esperanças que ele suscitou. Uma coisa
sabemos: os inimigos de Israel
puderam se armar até os dentes
e o fizeram sem qualquer empecilho.
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