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Meta é incentivar consumo, diz governo
O czar antidrogas boliviano, Felipe Cáceres, diz que nova lei vai abaixar o lucro dos atravessadores e o preço final da coca
Segundo o ex-produtor de coca, repressão ao tráfico cresceu com Morales, mas falta uma maior cooperação antidrogas com o Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
O czar antidrogas do governo
Evo Morales, Felipe Cáceres,
disse que o objetivo do governo
com a liberação do comércio da
coca aos produtores é incentivar o consumo e a industrialização da folha na Bolívia, diminuir o lucro dos atravessadores
e abaixar o preço final.
Ex-produtor de coca como
Morales, Cáceres teve sua plantação erradicada por forças do
Exército entre os anos de 1996
e 1997. Hoje, ocupa o cargo de
vice-ministro de Defesa Social.
Leia sua entrevista à Folha por
telefone.
FOLHA - Quais são as principais
mudanças do governo Morales com
respeito ao cultivo da coca e ao narcotráfico?
FELIPE CÁCERES - A lei 1.008,
aprovada em 1988, previa apenas a repressão e a violência
contra a coca, como se ela, em
seu estado natural, fosse cocaína. Por isso, se fala de zonas tradicionais, onde a coca é legal.
Mas na zona excedente, essa
coca seria cocaína. É uma tipificação absurda. Em segundo lugar, a luta contra o narcotráfico
estava dirigida apenas aos plantadores de coca, na qual o atropelo dos direitos humanos era
fatal.
Nossa política nova é narcotráfico zero, cocaína zero. Há
informes da Força Especial de
Luta Contra o Narcotráfico de
que até agora foram apreendidas mais de duas toneladas de
droga, entre cocaína e maconha. Muitos diziam que, com
este governo, haveria mais droga. Não. Nos governos anteriores, se faziam cerca de 200 operativos por ano. Sob a minha direção, fizemos 350 operativos.
Até agora, erradicamos 2.000
hectares de cultivos de coca.
Sem repressão, sem violência,
de maneira consensual e voluntária.
FOLHA - O sr. disse que a Bolívia
tem hoje 27 mil hectares de coca,
quando deveriam existir 18 mil hectares. No entanto a lei 1.008 prevê
12 mil hectares. Por que esse aumento de 6.000 hectares?
CÁCERES - Pela simples razão:
quando foi aprovada a lei 1.008,
eram necessários 12 mil hectares de coca. Hoje, a população e
este governo estamos fomentando nossa cultura tradicional
e ancestral, ou seja, revalorizando a folha de coca. Isso significa um aumento de consumo. Depois, estamos defendendo o estudo do mercado legal da
folha de coca. Além disso, queremos fazer a industrialização
da folha de coca, fabricando farinha, cosméticos etc.
FOLHA - Outra mudança anunciada que provocou críticas foi a expansão do comércio de coca, hoje limitada a apenas dois mercados. Para a
oposição, isso facilita o acesso do
narcotráfico à folha.
CÁCERES - Os partidos tradicionais monopolizaram a folha de
coca. Apenas 5.000 pessoas podiam comercializar -os varejistas, que tinham licença para
isso. Em La Paz, a libra de coca
(0,45 kg) custa 14 bolivianos
(US$ 1,75). Mas chega a Santa
Cruz por 28 bolivianos (US$
3,50). Hoje, pretendemos que
essa coca não custe mais do que
18, 20 bolivianos. Com a nova
regulamentação, estamos fazendo com que os varejistas
não lucrem com a comercialização, mas que se fomente o
maior consumo da folha.
FOLHA - O Brasil é o principal destino da cocaína produzida no país. Essa tendência deve continuar?
CÁCERES - Creio que vamos reduzir. O Brasil instruiu suas
forças para aumentar o controle na fronteira boliviana. À parte isso, o Brasil também é um
país de trânsito. Na Bolívia, por
exemplo, das 92 toneladas de
cocaína apreendidas, quase
45% são peruanas. Estão utilizando a Bolívia e o Brasil como
caminho para a Europa.
FOLHA - Falta uma maior cooperação entre os dois países?
CÁCERES - O presidente Evo
Morales tocou no tema sobre
como fortalecer os mecanismos de controle com o presidente Lula, mas isso está sendo
feito pela Chancelaria para um
convênio mais efetivo. Nós temos sido muito dependentes
dos EUA, mas seria muito bom
que, no futuro, como países latino-americanos, houvesse um
acordo mais estreito para combater as drogas.
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