São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Novo vídeo do resgate de reféns desmente Uribe

Imagens mostram uso planejado de insígnia da Cruz Vermelha na Operação Xeque

A versão do governo era a de que uso do símbolo durante ação contra as Farc foi por nervosismo; para Bogotá, vazamento foi "traição"

Maurício Duenas/RCN/France Presse
Vídeo mostra Exército capturando guerrilheiros das Farc

DA REDAÇÃO

Um vídeo divulgado anteontem comprovou que o Exército colombiano usou indevidamente e desde o início o símbolo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no resgate de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em 2 de julho, desmentindo a versão do governo de Álvaro Uribe.
O vídeo também exibe logotipos de duas TVs -a venezuelana Telesur e a equatoriana Ecuavisa- usados por soldados que fingiram ser jornalistas.
Após a Operação Xeque, que libertou Ingrid Betancourt, três americanos e outros 11 reféns, o presidente Álvaro Uribe negou o uso de símbolos. Essa versão foi confrontada pela rede americana CNN, que afirmou em meados de julho, sem mostrar imagens, que o Exército fez uso da insígnia do CICV.
O governo na época mudou o relato e afirmou que um militar, "por nervosismo", colocou um jaleco com o símbolo do CICV pouco antes de se encontrar com os guerrilheiros.
Contudo, no vídeo divulgado pela TV privada RCN, anteontem, é possível ver mais de um soldado com a insígnia da organização internacional neutra, inclusive durante treinamento em um hangar militar.
As imagens causaram alvoroço no governo colombiano. O presidente, em nota, negou conhecimento: "É grave que nas primeiras investigações (...) não tenha sido revelada toda a verdade". Ele também disse ser grave que "integrantes das Forças Armadas divulguem informações confidenciais de maneira clandestina e sem coordenação com seus superiores".
O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, se disse indignado com os responsáveis pela entrega do material à RCN, que teriam "colocado em perigo seus companheiros". Santos qualificou o vazamento de "traição à pátria" e disse que punirá os responsáveis. O general Fredy Padilla, chefe das Forças Armadas do país, afirmou que o governo acreditou no soldado que alegou nervosismo porque "na vida militar a palavra é muito importante".
Indagada, a RCN não respondeu se pagou pelas imagens -a CNN disse que não obteve o vídeo porque se recusou a pagar.

Ajustes
Por violar convenções internacionais, o uso intencional e planejado do símbolo do CICV é potencialmente o mais grave da série de ajustes e revelações que a Colômbia teve de fazer sobre Operação Xeque.
O governo também admitiu nas semanas posteriores à ação que: 1) usou símbolo de ONG fictícia no helicóptero de resgate; 2) mimetizou ações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para receber reféns libertados pelas Farc; 3) anunciou à imprensa local ter autorizado o contato de mediadores europeus com o secretariado das Farc como parte do plano para enganar a guerrilha.
O uso dos logos das duas TVs provocou fortes críticas. A organização internacional Comitê para Proteção de Jornalistas enviou uma carta aberta ao governo Uribe na qual afirma que o ato põe em risco todos os profissionais da imprensa. A RCN afirmou ainda que um avião-radar dos EUA ajudou a operação.


Com agências internacionais

NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/082182
Veja o vídeo do resgate


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