São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Sucessão nos EUA / Literatura de Campanha

Biografias tentam colar em Obama a pecha de esquerdista

Lançados ontem, dois novos livros negativos ao candidato democrata já entraram na lista dos mais vendidos na Amazon

David Freddoso, autor de um dos textos, afirma que a campanha de McCain erra ao não atacar oponente por suas posições políticas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

No dia seguinte ao seu aniversário de 47 anos, o senador Barack Obama ganhou dois presentes indesejados que prometem trazer mais dor de cabeça a uma candidatura que parece começar a andar de lado.
Chegaram ontem às livrarias dos Estados Unidos duas biografias negativas do candidato democrata, escritas por dois nomes importantes da direita política norte-americana.
A mais séria é "The Case Against Barack Obama - The Unlikely Rise and Unexamined Agenda of the Media's Favorite Candidate" (O Caso Contra Barack Obama - A Ascensão Improvável e a Plataforma Não Examinada do Candidato Favorito da Mídia, editora Regnery), de David Freddoso, 34, da publicação conservadora "National Review". O livro já está em 11º lugar na lista dos mais vendidos da Amazon.
Mais do que fazer revelações surpreendentes, o jornalista alinha atos do político e fatos sobre o senador para dizer com todas as letras o que ele acha que a imprensa local não faz por ser parcial em relação à candidatura do democrata: Obama é um político de esquerda, não o reformista que ele vende no palanque e em seus programas de governo.
Na política norte-americana, em que o espectro aceitável pelo eleitor médio se divide em direita, centro-direita e centro, a qualificação equivale a uma sentença de morte nas urnas. Em 2004, uma das causas da derrota do senador John Kerry foi o sucesso da campanha de George W. Bush de vendê-lo como esquerdista.
No livro, Freddoso argumenta que o erro da campanha do republicano John McCain tem sido atacar Obama no que ele tem de bem-sucedido -o fato de ser uma celebridade mundial, por exemplo- ou em questões delicadas demais -a raça do senador, a biografia exótica-, em vez de se concentrar no óbvio: as declarações, associações e votos que mostrariam ao público que o candidato é de esquerda.
É isso que a biografia tenta mostrar: um candidato a favor de maior presença do governo em áreas como saúde e educação, que defende a opção do aborto e é contra o direito de portar armas. Um político que no começo da carreira se associou a radicais como o reverendo Jeremiah Wright Jr. e o ex-ativista William Ayers e só se afastou deles quando se transformaram num empecilho.
Afirma ainda que, apesar de se vender como diferente, Obama é um político como os outros. A biografia começa contando como Obama foi eleito ao Senado estadual de Illinois, em 1996, ao usar uma tecnicalidade para desqualificar na Justiça os nomes de seus oponentes. Concorrendo sozinho, venceu.
Não que não haja revelações. Freddoso, que cobre Obama desde 2004, diz que as pessoas olham para o lado errado ao criticar a associação entre o candidato e o negociante Antoin Rezko, de Chicago, condenado neste ano por entre outras coisas lavagem de dinheiro. Rezko ajudou Obama num acordo imobiliário, e o candidato se desculpou por isso, dizendo que tinha sido "burrice".
Mas os dois são amigos há 17 anos, escreve Freddoso, e Obama votou a favor ou propôs várias medidas que beneficiaram o negociante. Apesar de ter vindo a público dizer que "nunca havia pedido favores a Rezko", Obama escreveu cartas em 1998 ao Senado pedindo que fossem aprovados financiamentos ao amigo, diz o livro.

Mais folclórica
A outra biografia é mais folclórica, mas de dano potencial similar por sua popularidade. "The Obama Nation - Leftist Politics and the Cult of Personality" (A Nação Obama - As Políticas de Esquerda e o Culto à Personalidade, editora Threshold) se baseia mais em rumores disseminados pela internet, apesar de o livro trazer 600 referências bibliográficas.
O autor é Jerome Corsi, velho conhecido do cenário conservador americano por ser autor de um livro negativo sobre John Kerry, que ficou quase a campanha presidencial inteira de 2004 na lista dos mais vendidos do "New York Times".
Lançado ontem, o novo livro já está em sexto lugar na Amazon.


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