São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Dupla libertada por Clinton chega aos EUA

Casa Branca afirma que ida de ex-presidente a Pyongyang para negociar libertação de jornalistas foi "missão privada"

Críticos, porém, dizem que EUA premiam atitude desafiadora de Kim Jong-il e que é impossível separar iniciativa de diálogo nuclear


Robyn Beck/France Presse
Euna Lee (à esq.) e Laura Ling são recebidas por familiares ao chegarem ontem à Califórnia após 140 dias de prisão na Coreia do Norte

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

As jornalistas americanas Laura Ling, 32, e Euna Lee, 36, chegaram na manhã de ontem a Burbank, na Califórnia, acompanhadas do ex-presidente Bill Clinton, após 140 dias de prisão na Coreia do Norte.
Muito emocionadas, foram recebidas por familiares e pelo ex-vice-presidente Al Gore, que preside o canal de TV para o qual trabalham.
Com voz trêmula, Ling afirmou que tinha medo de ser mandada para um campo de trabalhos forçados e agradeceu a participação de Clinton. Ele obteve o "perdão especial" às jornalistas, que tinham sido condenadas a 12 anos de trabalhos forçados por entrada ilegal no país e "atos hostis".
"Fomos levadas para um lugar e quando atravessamos a porta vimos em pé à nossa frente o presidente Bill Clinton. Ficamos chocadas, mas soubemos no mesmo instante que o pesadelo de nossas vidas finalmente tinha chegado ao fim."
Clinton foi aplaudido após sair do avião que trouxe as jornalistas. O presidente Barack Obama disse estar "bastante aliviado". "Penso que não só a Casa Branca está extraordinariamente feliz, como também todos os americanos devem ser gratos ao presidente Clinton e ao vice-presidente Gore por seu trabalho extraordinário."
Clinton havia considerado visitar a Coreia do Norte em 2000. Acabou enviando a secretária de Estado americana à época, Madeleine Albright.
Ao contrário do que foi veiculado na imprensa norte-coreana, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, negou que Bill Clinton tenha pedido desculpas pela atuação das jornalistas. "Isso não é verdade. Não aconteceu", disse.

Questão nuclear
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, negou que Clinton tenha levado alguma mensagem do governo para Kim Jong-il, mas disse que Obama deverá encontrar o ex-presidente. A Casa Branca tenta desvincular a missão para trazer de volta as jornalistas das discussões com a Coreia do Norte sobre desnuclearização.
Questionado se o governo poderia solicitar novamente os serviços de Clinton, Gibbs afirmou que a ida do ex-presidente à Coreia do Norte foi "uma missão privada". "Creio que se o presidente estiver em algum momento procurando pessoas para ajudá-lo, ex-presidentes são sempre um ótimo grupo para tentar", disse.
Sobre a retomada das negociações com a Coreia do Norte, Gibbs foi menos otimista. "A melhor maneira de mudar nossas relações seria se a Coreia do Norte decidisse que é hora de retomar as responsabilidades e acordos com os quais se comprometeu. Nossa meta é a desnuclearização", disse.
Críticos avaliam que a operação foi um erro por premiar o mau comportamento de Pyongyang, que testou uma bomba nuclear em maio contrariando resoluções da ONU. Afirmam ainda que não há separação real entre a missão e as discussões já que Clinton foi recebido por Kim Kye-gwan, negociador da Coreia do Norte na área nuclear.
A missão ocorreu pouco depois de Pyongyang abandonar negociações com EUA, China, Rússia, Coreia do Sul e Japão.
Segundo Gordon Chang, especialista em Ásia, Obama enviou mensagens por meio de Clinton. "Em alguns meses, tenho certeza de que vamos descobrir mais sobre isso. É difícil acreditar que a Casa Branca teria deixado passar essa oportunidade", disse.
Para Richard Bush, do Instituto Brookings, o perdão às jornalistas só representaria o primeiro passo para a retomada das negociações se a Coreia do Norte estivesse disposta a rever sua política de longo prazo em armas nucleares, o que ele considera improvável.
"A Coreia do Norte sem dúvida espera que o perdão funcione como alavanca para obter concessões do governo Obama em relação a energia nuclear e outros assuntos", disse.


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