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Dupla libertada por Clinton chega aos EUA
Casa Branca afirma que ida de ex-presidente a Pyongyang para negociar libertação de jornalistas foi "missão privada"
Críticos, porém, dizem que EUA premiam atitude desafiadora de Kim Jong-il e que é impossível separar iniciativa de diálogo nuclear
Robyn Beck/France Presse
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Euna Lee (à esq.) e Laura Ling são recebidas por familiares ao chegarem ontem à Califórnia após 140 dias de prisão na Coreia do Norte
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
As jornalistas americanas
Laura Ling, 32, e Euna Lee, 36,
chegaram na manhã de ontem
a Burbank, na Califórnia,
acompanhadas do ex-presidente Bill Clinton, após 140 dias de
prisão na Coreia do Norte.
Muito emocionadas, foram
recebidas por familiares e pelo
ex-vice-presidente Al Gore,
que preside o canal de TV para
o qual trabalham.
Com voz trêmula, Ling afirmou que tinha medo de ser
mandada para um campo de
trabalhos forçados e agradeceu
a participação de Clinton. Ele
obteve o "perdão especial" às
jornalistas, que tinham sido
condenadas a 12 anos de trabalhos forçados por entrada ilegal
no país e "atos hostis".
"Fomos levadas para um lugar e quando atravessamos a
porta vimos em pé à nossa frente o presidente Bill Clinton. Ficamos chocadas, mas soubemos no mesmo instante que o
pesadelo de nossas vidas finalmente tinha chegado ao fim."
Clinton foi aplaudido após
sair do avião que trouxe as jornalistas. O presidente Barack
Obama disse estar "bastante
aliviado". "Penso que não só a
Casa Branca está extraordinariamente feliz, como também
todos os americanos devem ser
gratos ao presidente Clinton e
ao vice-presidente Gore por
seu trabalho extraordinário."
Clinton havia considerado
visitar a Coreia do Norte em
2000. Acabou enviando a secretária de Estado americana à
época, Madeleine Albright.
Ao contrário do que foi veiculado na imprensa norte-coreana, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, negou
que Bill Clinton tenha pedido
desculpas pela atuação das jornalistas. "Isso não é verdade.
Não aconteceu", disse.
Questão nuclear
O porta-voz da Casa Branca,
Robert Gibbs, negou que Clinton tenha levado alguma mensagem do governo para Kim
Jong-il, mas disse que Obama
deverá encontrar o ex-presidente. A Casa Branca tenta desvincular a missão para trazer de
volta as jornalistas das discussões com a Coreia do Norte sobre desnuclearização.
Questionado se o governo
poderia solicitar novamente os
serviços de Clinton, Gibbs afirmou que a ida do ex-presidente
à Coreia do Norte foi "uma missão privada". "Creio que se o
presidente estiver em algum
momento procurando pessoas
para ajudá-lo, ex-presidentes
são sempre um ótimo grupo para tentar", disse.
Sobre a retomada das negociações com a Coreia do Norte,
Gibbs foi menos otimista. "A
melhor maneira de mudar nossas relações seria se a Coreia do
Norte decidisse que é hora de
retomar as responsabilidades e
acordos com os quais se comprometeu. Nossa meta é a desnuclearização", disse.
Críticos avaliam que a operação foi um erro por premiar o
mau comportamento de
Pyongyang, que testou uma
bomba nuclear em maio contrariando resoluções da ONU.
Afirmam ainda que não há separação real entre a missão e as
discussões já que Clinton foi recebido por Kim Kye-gwan, negociador da Coreia do Norte na
área nuclear.
A missão ocorreu pouco depois de Pyongyang abandonar
negociações com EUA, China,
Rússia, Coreia do Sul e Japão.
Segundo Gordon Chang, especialista em Ásia, Obama enviou mensagens por meio de
Clinton. "Em alguns meses, tenho certeza de que vamos descobrir mais sobre isso. É difícil
acreditar que a Casa Branca teria deixado passar essa oportunidade", disse.
Para Richard Bush, do Instituto Brookings, o perdão às jornalistas só representaria o primeiro passo para a retomada
das negociações se a Coreia do
Norte estivesse disposta a rever
sua política de longo prazo em
armas nucleares, o que ele considera improvável.
"A Coreia do Norte sem dúvida espera que o perdão funcione como alavanca para obter
concessões do governo Obama
em relação a energia nuclear e
outros assuntos", disse.
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