São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Finança mundial não tem muito onde colocar dinheiro além do cofre dos EUA

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Disseram que o governo dos Estados Unidos está com o nome um pouco menos limpo na praça -está muito longe de estar com o nome sujo.
Quem disse foi uma agência de classificação de risco, uma das três maiores, a S&P, uma espécie de "Serviço de Proteção ao Crédito" das finanças mundiais, digamos.
Em tese, o crédito para países com nota rebaixada tende a ficar mais caro: os juros ficam mais altos. Além do mais, devido a contratos ou mesmo leis, alguns grandes investidores ficam proibidos de emprestar a governos que não tenham a "nota 10" de crédito ("AAA", na verdade).
Os EUA agora são apenas "AA+". Em tese, deveria haver venda de títulos dos EUA depois do rebaixamento.
Em tese. o Japão, estagnado faz décadas, superendividado etc., tem nota inferior à dos EUA ("AA-"). Mas o Japão paga juro quase zero e, nesta semana mesmo, teve de enxotar investidores ávidos por ienes, o que estava supervalorizando a moeda japonesa, encarecendo seus produtos e encrencando ainda mais a economia japonesa.
Porém, o rebaixamento dos EUA é um fato tão extraordinário que é difícil prever qual será a reação do mercado.
A economia dos EUA é a maior do mundo. Seus mercados financeiros são os maiores, os mais seguros e os mais livres (algo menos livres talvez que os britânicos).
A poupança dos governos do mundo, o capital de bancos, as garantias da finança mundial, estão em dólares e títulos da dívida americana.
Se os investidores venderem em massa tais títulos, vão comprar o quê? Ouro (não há bastante)? Água em Marte? No curto prazo, não há substituto para os EUA -no curto prazo, é bom ressaltar.
Considere-se que, na semana passada, investidores em fuga do risco de quebra de países e bancos europeus aplicavam em massa seu capital em dólares e títulos americanos, que portanto subiam de preço (com o que os "juros" dos títulos americanos baixaram a níveis recordes).
Aliás, os juros na praça americana ficaram negativos, dada a fuga da Europa para o porto seguro americano. Há muito medo na praça e pouco "porto seguro" onde ancorar o dinheiro grosso.
Porém, um mundo em que a dívida americana não é mais "nota 10" é um universo paralelo, desconhecido. A finança global anda tensa com o risco de colapso da Itália, de asfixia de alguns bancos europeus, de talvez recessão nos EUA. De início, pode haver alguma reação desordenada no mercado.


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