São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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FOCO

Portugal faz campanha para recuperar a autoestima

LUISA BELCHIOR
EM LISBOA

Crise da dívida, queda de premiê, Parlamento dissolvido e corte de salários à parte, Portugal vai bem, obrigado. É o que querem mostrar iniciativas para reanimar a autoestima e a economia do país criadas por cidadãos, empresas, políticos e governo.
De sites só de boas notícias a campanhas pelo consumo interno, passando por pacotes de férias adequados aos cortes de salários e troca de incentivos por empresários, o país começa a superar os traumas do primeiro semestre e o clima de medo com as medidas de austeridade.
"Não há fatalismo. Somos realistas e buscamos alternativas", disse o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
Como as mobilizações recentes, o movimento começou na internet. Sites como o blog "Portugal Positivo", o grupo "Portugal na Frente" do Facebook e o portal "Boas Notícias" publicam notícias como pesquisas lusitanas para combater a artrite e o Alzheimer e o elogio da revista "Forbes" à política de descriminalização de drogas.
"Há tanta notícia boa que muitas vezes nem temos tempo para noticiar tudo", conta Patrícia Maia, editora do "Boas Notícias". "Isso tem sido bom para nossa autoestima, mas raramente boa notícia é manchete", pondera a jornalista Catarina de Sousa.
Em breve, porém, isso pode acontecer. Em setembro, o "Diário de Notícias" lança a seção "Made in Portugal", em uma onda de valorização da marca lusitana na imprensa -"não nos lixem", resposta ao rebaixamento pela agência Moody's, foi título recente da revista "Visão".
Um dos motes é o investimento em produção científica, que dobrou nos últimos cinco anos -a alta na média europeia foi de 13,5%.
"Apesar da crise, Portugal nunca teve uma geração jovem tão qualificada do ponto de vista acadêmico e científico", diz Antonio Nova, reitor da Universidade de Lisboa.
O governo entrou na onda e lançou a campanha "Compro o que é nosso", que incentiva consumo de produtos locais e já fez as vendas internas de vinhos crescerem.
Empresários criaram o grupo "Portugal Faz Bem", no qual 87 marcas trocam incentivos e vendas entre si, e discutem investimentos em pesca, agricultura e turismo.
Em pleno verão, o país atrai conterrâneos a suas praias com promoções em hotéis para nativos. "Neste ano tem muito mais gente daqui, dá para falar português à vontade", diz o vendedor de praia brasileiro Clayton Oliveira.
Ao mesmo tempo, o total de turistas estrangeiros, que com a crise gastam menos no país, cresceu 17,6% neste verão, segundo o governo.
"Portugal é apenas uma vítima do ataque especulativo do dólar contra o euro. Mas estamos acostumados a altos e baixos", diz Boaventura.


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