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Escritor é condenado por morte descrita em romance
Polonês recebe sentença de 25 anos; para investigador, detalhes do crime seriam conhecidos apenas pela polícia ou pelo assassino
CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Numa cidadezinha polonesa,
um corpo é pescado de um rio,
com sinais de uma morte sórdida: mãos ao redor do pescoço,
atadas a uma forca. A polícia
identifica Dariusz Janiszewski,
o dono de uma pequena agência de publicidade, que não tinha dívidas ou inimigos. A descrição detalhada deste homicídio, no romance policial
"Amok" (o arrebatamento, em
português), terminou em um
posfácio inesperado: a prisão
do autor, Krystian Bala, condenado ontem a 25 anos pelo crime que inspirou a obra.
A principal peça da acusação
é o romance policial, publicado
em 2003, três anos após o assassinato. O investigador Jacek
Wroblewski garante que a narrativa tem informações minuciosas, conhecidas apenas pela
polícia -ou pelo assassino.
Wroblewski reabriu o inquérito em 2005, quando leu
"Amok" por sugestão de uma
fonte anônima. As investigações revelaram detalhes que ligam Bala ao homicídio.
Joaquim Nogueira, ex-delegado e autor de "Informações
sobre a Vítima" (Cia das Letras,
2001), disse à Folha que acha
perfeitamente verossímil que
alguém use elementos de um
crime que cometeu ao escrever
uma obra literária, mas nunca
deparou com um caso semelhante no trabalho.
Não poderia Bala, como conta, ter montado o quebra-cabeça do assassinato a partir de
notícias dos jornais e imaginado as partes que faltavam? "É
óbvio que ele diria isso", comenta Nogueira. Mas pondera:
"O processo criativo é um caldo
de cultura que envolve muitas
experiências, leituras, notícias,
filmes". Impossível saber.
O fato -e todo o resto é literatura- é que Krystian Bala,
34, foi condenado em primeira
instância pela morte de Janiszewski. A polícia reuniu contra
ele uma série de indícios, considerados pela defesa meramente circunstanciais.
Pouco após o assassinato, o
escritor vendeu um celular do
mesmo modelo usado pela vítima. O aparelho, que estaria
com o empresário no dia do
crime, jamais foi encontrado.
Bala estava mergulhando no
sul da Ásia quando a polícia recebeu e-mails "suspeitos" originados em cibercafés do continente. As mensagens, enviadas após a exibição do caso em
um programa de TV semelhante ao brasileiro "Linha Direta",
falavam em "crime perfeito".
As habilidades de exímio
mergulhador também foram
usadas contra Bala. Para a polícia, as longas pausas feitas antes de cada resposta quando ele
se submeteu a um detector de
mentiras seriam uma técnica
de respiração aprendida com o
mergulho, usada para mascarar
os sinais físicos da mentira.
Segundo o depoimento da
ex-mulher, o escritor tinha
uma personalidade "obsessiva"
e controlava suas amizades
mesmo após a separação. Ela
conhecia a vítima, o que levantou a hipótese de um crime
passional.
O tribunal considerou os indícios insuficientes para provar que o próprio Bala tenha
cometido o homicídio, mas julgou haver provas bastantes para a condenação por autoria intelectual. A família disse que
ele vai recorrer. Qualquer que
seja o resultado da apelação, o
enigma literário persistirá.
Com agências internacionais
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