São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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"Sacoleiro do Taleban" lucra com ataques

Saques de caminhões com suprimentos aos EUA no Afeganistão movimentam comércio

IGOR GIELOW
ENVIADO A TAXILA (PAQUISTÃO) e KHAIROW KHEL (AFEGANISTÃO)

Numa avenida da cidade paquistanesa de Taxila, a menos de 500 metros de um enorme complexo industrial que produz tanques de guerra, uma modesta loja está o tempo todo com a porta corrediça fechada.
Poucos suspeitam que lá fica a ponta de um negócio que floresceu com o recrudescimento dos ataques às linhas de suprimento dos EUA e da Otan no Afeganistão: a venda de produtos roubados de contêineres.
Geralmente o noticiário é focado nas explosões dos caminhões-tanque que levam combustível por duas rotas principais do Paquistão para o Afeganistão: pela fronteira em Chamam (Baluquistão) e por Torkham (Khyber-Pukhtunkhwa).
Mas também por elas passam caminhões com contêineres com tudo, de produtos de higiene pessoal a maquinário pesado. Durante os dez anos de conflito, nada menos que 80% do esforço de guerra ocidental passou por esses pontos -o que facilita a compreensão da importância de ter o Paquistão como aliado.
A loja em questão pertence a um certo senhor Shah. Ninguém nunca o vê, mas ele tem um número de celular no qual comerciantes locais fazem suas encomendas. Ou melhor, descobrem o que está disponível.
Na terceira semana de agosto, a oferta era por compressores para sistemas de ar-condicionado central. Um negociante de Taxila arrematou uma peça por R$ 15 mil.
"Foi uma pechincha. Eu compro um compressor chinês, de pior qualidade do que esse americano, por R$ 32 mil pelo menos", conta Mazhar -que colocou o produto à venda em sua loja de equipamentos à beira da linha do trem Islamabad-Peshawar.
Diz ter recebido três ofertas. Ele afirma que não sabe a origem do produto que recebe, sem convencer muito em sua explicação. Na outra ponta da linha, está gente como Muhammad. Aos 25 anos, ele é caminhoneiro na perigosíssima estrada entre a fronteira em Torkham e Cabul. Na segunda semana de agosto, ele estava esperando autorização para seguir viagem em Khairow Khel, perto de Jalalabad.
"A gente tem medo, mas tem que trabalhar. Eu já perdi dois amigos", disse o rapaz numa parada de caminhões-tanque protegida por dois homens com fuzis. Ganha por viagem cerca de R$ 160, que é considerado bom salário.
Os caminhões-tanque e transportadores de contêineres andam quase sempre em grupos de quatro ou cinco, a excruciantes velocidades de 20 km/h, 30 km/h. Só em agosto, foram mais de 50 ataques a caminhões.


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