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EUA criticam os "amigos de nossos adversários"
ROSA TOWNSEND
DO ""EL PAÍS", EM MIAMI
O subsecretário dos EUA
para a América Latina, Otto
Reich, diz, em relação aos
movimentos de esquerda na
região, que a preocupação
americana são "os amigos de
nossos adversários".
Ele nega que Washington
tenha abandonado os latino-americanos, mas diz que
qualquer ajuda ""será condicionada à luta contra a corrupção, porque a corrupção
está na raiz de todos os problemas".
Reich, 57, é um diplomata
conservador que se opõe ao
fim do embargo a Cuba, seu
país de origem. É um grande
conhecedor da América Latina, especialmente da Venezuela, onde foi embaixador
(1986-89). Na semana passada ele esteve em Miami, numa conferência para promover a honestidade empresarial na América Latina.
Pergunta - Qual é a resposta
dos EUA ao ressurgimento da
esquerda na América Latina?
Otto Reich - Ninguém vai
copiar o modelo da Venezuela depois que seu PIB
caiu. O que nos preocupa
são os governos que adotam
políticas que não geram riquezas. O que nos preocupa
são os amigos de nossos adversários.
Pergunta - Existe na América Latina o sentimento de
que, depois de 11 de setembro, os EUA a abandonaram.
Reich - O presidente Bush
se sente muito próximo da
América Latina, mas sua responsabilidade primeira é a
segurança nacional. Isso não
quer dizer que ele tenha
abandonado a América Latina. Sabemos que nosso futuro está ligado ao de nossos
vizinhos.
Pergunta - Existe um movimento nos EUA contra o embargo a Cuba. Esse movimento exerce influência sobre o
governo, ou o peso da comunidade cubana é maior?
Reich - Nós também somos
a favor de que seja levantado
o embargo, mas desde que
Cuba tenha eleições livres. O
que devemos nos perguntar
é: se temos um elemento em
mãos que pode nos ajudar a
negociar uma transição pacífica, por que cancelá-lo?
Pergunta - Qual é a prioridade da política dos EUA com relação à América Latina?
Reich - A corrupção, porque é esse o maior obstáculo
à democracia e ao desenvolvimento econômico. De
agora em diante, vamos premiar os países que tenham
um sistema democrático e
os que adotam nossas políticas econômicas.
Pergunta - Isso pode ser interpretado como arrogância.
Reich - Eu gostaria de lhe
lembrar que é nosso dinheiro, o dinheiro dos contribuintes americanos.
Pergunta - Quem figura em
sua lista de corruptos?
Reich - Esse hemisfério é
fértil em corruptos. Há os casos de Menem, na Argentina, e de Salinas, no México.
Pergunta - Muitos deles foram amigos dos EUA.
Reich - Em muitos casos íamos atrás de peixes maiores
-na Guerra Fria, por exemplo-, e então era preciso
deixar certos valores de lado
temporariamente para combater problemas maiores.
Tradução de Clara Allain
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