São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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EUA criticam os "amigos de nossos adversários"

ROSA TOWNSEND
DO ""EL PAÍS", EM MIAMI

O subsecretário dos EUA para a América Latina, Otto Reich, diz, em relação aos movimentos de esquerda na região, que a preocupação americana são "os amigos de nossos adversários".
Ele nega que Washington tenha abandonado os latino-americanos, mas diz que qualquer ajuda ""será condicionada à luta contra a corrupção, porque a corrupção está na raiz de todos os problemas".
Reich, 57, é um diplomata conservador que se opõe ao fim do embargo a Cuba, seu país de origem. É um grande conhecedor da América Latina, especialmente da Venezuela, onde foi embaixador (1986-89). Na semana passada ele esteve em Miami, numa conferência para promover a honestidade empresarial na América Latina.

Pergunta - Qual é a resposta dos EUA ao ressurgimento da esquerda na América Latina?
Otto Reich -
Ninguém vai copiar o modelo da Venezuela depois que seu PIB caiu. O que nos preocupa são os governos que adotam políticas que não geram riquezas. O que nos preocupa são os amigos de nossos adversários.

Pergunta - Existe na América Latina o sentimento de que, depois de 11 de setembro, os EUA a abandonaram.
Reich -
O presidente Bush se sente muito próximo da América Latina, mas sua responsabilidade primeira é a segurança nacional. Isso não quer dizer que ele tenha abandonado a América Latina. Sabemos que nosso futuro está ligado ao de nossos vizinhos.

Pergunta - Existe um movimento nos EUA contra o embargo a Cuba. Esse movimento exerce influência sobre o governo, ou o peso da comunidade cubana é maior?
Reich -
Nós também somos a favor de que seja levantado o embargo, mas desde que Cuba tenha eleições livres. O que devemos nos perguntar é: se temos um elemento em mãos que pode nos ajudar a negociar uma transição pacífica, por que cancelá-lo?

Pergunta - Qual é a prioridade da política dos EUA com relação à América Latina?
Reich -
A corrupção, porque é esse o maior obstáculo à democracia e ao desenvolvimento econômico. De agora em diante, vamos premiar os países que tenham um sistema democrático e os que adotam nossas políticas econômicas.

Pergunta - Isso pode ser interpretado como arrogância.
Reich -
Eu gostaria de lhe lembrar que é nosso dinheiro, o dinheiro dos contribuintes americanos.

Pergunta - Quem figura em sua lista de corruptos?
Reich -
Esse hemisfério é fértil em corruptos. Há os casos de Menem, na Argentina, e de Salinas, no México.

Pergunta - Muitos deles foram amigos dos EUA.
Reich -
Em muitos casos íamos atrás de peixes maiores -na Guerra Fria, por exemplo-, e então era preciso deixar certos valores de lado temporariamente para combater problemas maiores.


Tradução de Clara Allain


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