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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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ARTIGO

Israel recebeu a luz verde

ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT", EM BEIRUTE

Israel recebeu a luz verde. Ela veio de uma lei no Congresso dos EUA sobre a Síria que, com o apoio de simpatizantes de Israel, pretende impor sanções a Damasco por seu suposto "entusiasmo" pelo terrorismo e pela ocupação do Líbano.
Parlamentar por parlamentar disseram ontem que a Síria é a nova -ou a velha ou a não existente- ameaça antes representada pelo Iraque: o país possuiria armas de destruição em massa.
Por isso o regime ditatorial sírio precisa ser golpeado após uma advogada de Jenin (Cisjordânia), que nunca foi a Damasco, se explodir e matar 19 inocentes israelenses em Haifa (norte de Israel).
E por que não? Se os EUA podem atacar o Afeganistão pelo 11 de Setembro -quando 15 dos 19 sequestradores eram sauditas-, se os EUA podem atacar o Iraque -que não teve nada a ver com o 11 de Setembro-, por que Israel não pode atacar a Síria?
Sim, a Síria apóia o Hamas e o Jihad Islâmico. Mas, em Jerusalém, existe um governo que abertamente ameaça a vida do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, e ninguém sugere uma ação contra o governo israelense. E, em Jerusalém, vive um premiê (Ariel Sharon) que foi considerado culpado por uma comissão israelense pelo seu envolvimento no massacre de 1.700 palestinos civis nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute, em 1982. Mas ele não será julgado por crimes de guerra.
Claro que a Síria vai levar a ação de ontem para a ONU. Muito boa vontade de Damasco. Mas, quando os EUA não apóiam uma resolução contra a construção de mais 600 casas em colônias judaicas e não condenam as ameaças contra Arafat, os bombardeios à Síria simplesmente não interessam.
E ninguém se pergunta o que são esses campos de treinamento terroristas. Os suicidas palestinos precisam de treinamento?
A ação de ontem abriu um novo precedente, que coloca o bombardeio à Síria como parte da guerra ao terrorismo. Mas, vendo o que está acontecendo com os EUA no Iraque, será que a Síria precisa ter medo de Israel?


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