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IRAQUE SOB TUTELA
O ex-administrador no Iraque diz que os EUA "pagaram caro" por não terem enviado contingente adequado
Faltaram soldados na invasão, diz Bremer
DE NOVA YORK
Paul Bremer, ex-chefe da administração civil americana em Bagdá, esquentou ontem a já acirrada
troca de acusações entre republicanos e democratas sobre o Iraque ao dizer que os EUA "pagaram caro" por não enviar soldados suficientes ao país. Horas antes, o secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, afirmara nunca ter visto "provas sólidas" da ligação entre o ex-ditador Saddam Hussein
e a rede Al Qaeda.
"Nunca tivemos soldados suficientes em campo", declarou Bremer anteontem à noite, durante
palestra em uma seguradora americana. Ele disse ainda que encontrou uma situação "horrorosa"
quando chegou ao Iraque para
trabalhar, em maio de 2003.
Na época, dois meses após a invasão americana, o país foi tomado por saques, que levou meses
para serem controlados. "Pagamos um preço alto por não termos interrompido [os saques], o
que criou um clima de terra sem
lei", disse Bremer.
Os EUA invadiram o Iraque
com 160 mil soldados e hoje mantêm cerca de 135 mil no país.
A Casa Branca reagiu dizendo
que "o presidente George W.
Bush consultava os comandantes
militares em campo -e não seu
administrador nomeado no Iraque- em busca de orientação sobre o contingente". "O passado
ensina que não devemos tentar
gerenciar de Washington decisões militares locais", disse o porta-voz Scott McCllelan.
Foi um dia de dissonâncias internas no governo. Horas antes,
em um discurso no Council on
Foreign Relations (Nova York), o
secretário da Defesa afirmara que
os EUA nunca viram "provas fortes e sólidas" ligando Saddam à
rede terrorista Al Qaeda, responsável pelo 11 de Setembro. "Até
onde eu sei, eu nunca vi nenhuma
prova forte, consistente, ligando
os dois", disse Rumsfeld.
Embora o próprio Bush já tenha
admitido que o Iraque não teve
participação nos ataques, essa é a
primeira vez que alguém do alto
escalão do governo diz que nunca
houve provas sólidas, uma afirmação que contrasta fortemente
com a posição que o presidente
vem defendendo até então.
Bush, que não tinha compromissos de campanha ontem, não
comentou nenhuma das declarações. Mas hoje ele deve voltar a
abordar a guerra ao terror em um
discurso na Pensilvânia. O tema
do texto, que era saúde, foi mudado para economia e segurança.
Em evento em Tipton (Iowa), o
adversário de Bush na disputa
presidencial, John Kerry, voltou a
citar o que chama de "uma longa
lista de enganos" que o governo
Bush cometeu em relação ao Iraque. "Estou satisfeito com o fato
de Paul Bremer ter admitido pelo
menos dois deles", disse.
O democrata voltou a incitar
Bush a aceitar o fracasso no Iraque, questionando se ele é "fisicamente incapaz de reconhecer a
verdade" ou "muito teimoso".
No mês passado, Bremer, que
chefiou a Autoridade Provisória
da Coalizão de maio de 2003 até
que um governo interino iraquiano assumisse, em junho último, já
havia dito que pedira mais soldados a Washington e tivera sua solicitação negada. "Eu deveria ter
sido ainda mais insistente."
"O embaixador Bremer discordava do que os comandantes diziam em campo", disse o porta-voz do comitê de campanha de
Bush, Brian Jones. "Ele está no direito dele, mas o presidente sempre ouviu seus comandantes em
campo para dar-lhes o apoio necessário para a vitória."
Mais tarde, o próprio Bremer
disse que sua crítica se referia especificamente ao momento em
que chegou ao Iraque e que nunca
discordou das decisões de Bush.
Já Rumsfeld divulgou um comunicado dizendo que fora "mal interpretado".
(LUCIANA COELHO)
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