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Extrema-direita defende ditadura em ato na Argentina
Organizadores marcam "dia dos mortos pelo terrorismo" e reivindicam o julgamento de "subversivos" que cometeram crimes durante o regime de exceção
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Com direito a execução do
hino nacional, exibição de fotos
de militares mortos pela guerrilha e até a leitura de uma
mensagem do chefe da Igreja
Católica no país, cardeal Jorge
Bergoglio, um ato da extrema-direita argentina defendeu as
ações da ditadura militar e provocou reações raivosas do governo e de entidades de direitos
humanos.
Às 18h30 de ontem, quinta-feira -o tradicional dia de protestos das Mães da Praça de
Maio-, a marcha organizada
pela Comissão de Homenagem
Permanente aos Mortos pela
Subversão encheu a praça San
Martin, em Buenos Aires.
A duas quadras dali, a esquerda socialista promovia uma
"contramarcha", espécie de
movimento de reação que vai
se tornando comum na Argentina. Não houve confronto.
Anunciado como um tributo
a militares e policiais assassinados por guerrilheiros durante a última ditadura militar
(1976-1983), o ato direitista foi
uma demonstração de que os
chamados "dinossauros" do regime ainda têm fôlego no país.
A data foi escolhida porque,
há 31 anos, 12 militares foram
mortos em um ataque a um
quartel na Província de Formosa. Os organizadores declararam o 5 de outubro como o Dia
Nacional dos Mortos pelo Terrorismo.
Como filosofia, o grupo defende -seguindo a linha da
chamada "teoria dos dois demônios"- que sejam também
processados e condenados os
"subversivos" que cometeram
crimes na ditadura, e não só os
militares, como ocorre nos processos abertos a pedido do governo de Néstor Kirchner, do
qual fazem parte ex-membros
do grupo de guerrilha Montoneros.
Após o último ato da direita,
que reuniu cerca de 3.000 pessoas em 24 de maio, Kirchner
ordenou a abertura de processos contra seis militares aposentados que elogiaram a atuação dos governos militares. Outros cinco oficiais do Exército
foram punidos com detenção
por irem à cerimônia, classificada por Kirchner como apologia ao "terrorismo de Estado".
A nova manifestação aconteceu justamente enquanto uma
onda de ameaças anônimas
atinge militantes de direitos
humanos e juízes e promotores
que atuam em processos contra
ex-repressores.
As ameaças começaram após
o sumiço da testemunha Jorge
Julio López, cujo depoimento
foi crucial para a primeira condenação por genocídio no país,
que recaiu sobre o ex-policial
Miguel Etchecolatz, que recebeu prisão perpétua.
López, que pode ter sido seqüestrado por apoiadores do
regime militar, sumiu no último dia 18. Há uma campanha
para achá-lo, com recompensa
de 200 mil pesos (R$ 140 mil)
para quem der informações.
Musas da direita
Três mulheres jovens, bonitas e polêmicas convocaram a
marcha e são hoje a cara da direita argentina, somando-se à
"velha guarda" de militares
aposentados. Elas criticam a
política de direitos humanos de
Kirchner e enfrentam as Mães
e as Avós da Praça de Maio.
Ana Maria Lucioni é filha do
tenente Oscar Lucioni, morto
há 30 anos por membros dos
Montoneros, e diz que seu pai
era apenas um dos homens que
defendiam a pátria e que foram
"atacados pelos subversivos".
Karina Mujica, ex-atriz, foi
namorada do ex-capitão da
Marinha Alfredo Astiz. Preside
a entidade "Argentinos pela
Memória Completa", que, entre outras atividades, promove
livros escritos por ex-torturadores. Sempre se mostrou conservadora e ultracatólica.
A terceira é Cecília Pando,
que representa um grupo que
considera presos políticos os
militares processados por seus
atos durante a repressão.
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